sábado, setembro 18, 2010

Meu amigo Zeca anda em baixo...

Lembram-se do meu amigo Zeca? Esse mesmo, o “bon vivant”, o alentejano de Beja, economista do Quelhas (helás!), solteirão impenitente e protector de donzelas desvalidas...

Pois bem, como ele próprio, amargamente, confessa, o meu amigo “anda em baixo”. O tempo vai deixando suas marcas e a barriguita aumenta, na proporção inversa em que mingam os atributos, que lhe definiram o carácter e traçaram o destino, como noutras ocasiões contei... aqui

Até mesmo as celebradas jantaradas, no seu apartamento debruçado sobre o Tejo, têm vindo a rarear, não tanto pelo “crise” a que a sua empresa de auditoria não é indiferente, mas, sobretudo, pela “falta de pachorra”!...

Como se compreende, o abatimento do Zeca causa preocupação a seus amigos, bem sabendo nós todos, porém, que passada a primeira curva, quer dizer, afogada a depressão nas cálidas vagas de uma nova conquista aí o teremos, de novo, a zarpar, remoçado e excessivo...

Mas enquanto dói, dói fundo!... Decidimos, por isso, alguns dos amigos mais chegados, fazer-lhe uma surpresa e mimar o Zeca com umas garrafas e umas caixas de charutos, em abono da sua bem fornecida garrafeira... E mais: levamos connosco o Artur Fontes, de quem ainda não vos falei, mas por quem o Zeca nutre estremada amizade e que – sabíamos – havia anos que, por uma razão ou outra, não se encontravam...

Diga-se de passagem que o Artur exerce sobre todos nós uma certa admiração, que decorre, naturalmente, da sua forte personalidade, a raiar a teimosia, mas sobretudo pelo seu percurso de vida, ponteado pelo exercício da coerência e pela volúpia da acção que o levou a algumas invejáveis peripécias e... algumas imprudências...

Terminada licenciatura em Direito, o Artur rumou à suas raízes na Beira Alta, onde organizou camponeses em luta por direitos ancestrais sobre os baldios, contra os serviços florestais e os esbirros do fascismo, numa saga digna de Aquilino Ribeiro e de seu célebre romance “Quando os lobos uivam...”

Após o “25 de Abril”, o Artur Fontes desempenhou, episodicamente, funções de relevo na Administração Pública na área da agricultura e da reforma agrária. mas como bem se sabe a “revolução devora (quase) sempre os seus melhores filhos”, pelo que a curto prazo foi afastado das funções, num contexto, assaz divertido, mas que, de momento, não vem para o caso relatar...

A partir daí, refugiou-se o Artur Fontes numa advocacia honrada, colocando o seu saber e o seu talento ao serviço das causas em que acredita, longe dos holofotes das grandes causas e grandes interesses...

Foi, portanto, acompnhados pelo Artur que, numa tarde cálida de fim de Verão fomos ao encontro do meu amigo Zeca, na convicção de que o prazer de uma noitada de convívio, com umas larachas sobre política, zurzindo o Sócrates e quejandos, temperadas com umas incursões no futebol e as “desgraças” da equipa de todos nós, teriam o sortilégio de mudar seu humor doentio e inverter a curva descendente da depressão...

O relato da reunião fica para próxima crónica, advertindo-vos, porém, desde já, que o herói da narrativa, será o Artur e não o Zeca e a sua voragem femeeira.

Coisa séria, portanto...

8 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Com tais personagens, história promete!
Aguardo a continuação...

lino disse...

Aguardemos os próximos episódios.
Abraço

luis lourenço disse...

Volto para te deixar um abraço de muito apreço...pela qualidade elevada das tuas postagens...neste texto...levas-nos ao bom humor e riso...subentendidas que ficam aas coisas sérias...a amizade é um sentimento muito nobre, mesmo na blogosfera.

Véu de Maya

vieira calado disse...

Coisas sérias para destemperar

os devaneios...

parece uma boa maneira

de iludir o quotidiano fastio...

Forte abrao

GP disse...

Fico a aguardar o que se passou com o Artur e se o Zeca já arribou...

beijoca

Branca disse...

Aguardando a continuação da crônica...

Deixo um beijo e meu desejo que tenha uma semana de muita paz!

jrd disse...

Cá te espero.
Abraço

MagyMay disse...

Despertaste os sentidos... venham as peripécias do Artur

Beijo, Herético

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...