quinta-feira, abril 25, 2024

ESCULTOR O TEMPO


Escultor de paisagens o tempo.

E estes rostos, onde me revejo.

E as mãos, arados.

E os punhos. Em luta erguidos…

 Sons de fábricas que morrem

Perdidas na voragem dos dias

Infecundos. E do lucro

Sem fronteiras.

 E, no entanto, esta torrente. E esta fonte

Que desce em cascata de palavras

Verbo que se faz carne. E ferve

No peito a latejar

Rubros cravos

E bandeiras.

 Nada é definitivo quando a rocha

Se abre ao fogo./Nem a Revolução um feito

Inacabado. Antes um horizonte aberto

A oferecer-se em cada tempo

Sonho sempre novo

Em cada gesto

Logrado

 Poema sinfónico

A arder por dentro. Passo a passo

Numa cadência sem idade.

 E este aguilhão e este alvoroço

E o rosto magoado deste Povo

A inscrever um tempo novo

Letra a letra

Liberdade.

 

25 de Abril, SEMPRE 


Manuel Veiga

2 comentários:

Maria João Brito de Sousa disse...

Poema lindíssimo, Manuel!

Um abraço e que viva Abril, hoje mais do que nunca ameaçado!

Um abraço!

Olinda Melo disse...


O tempo esculpe os rostos e o carácter
dos heróis que em dado momento resolvem
superar-se a si próprios.
Poema lindo para festejar este Dia da Liberdade.

Grande abraço, Manuel Veiga.
Olinda

ESCULTOR O TEMPO

Escultor de paisagens o tempo. E estes rostos, onde me revejo. E as mãos, arados. E os punhos. Em luta erguidos…  S ons de fábrica...