Ao que parece John Howard, chefe do governo australiano, revê-se no título de vice-xerife do Pacífico Sul, que lhe foi atribuído por George Bush. Recentemente, enviou tropas para as Ilhas Salomão e lança olhar imperial para a Papua-Nova Guiné, Vanatu e outras pequenas nações insulares da região.
Aliás a cumplicidade da Austrália na ocupação de Timor está profusamente documentada. Alatas e Gareth Evans, ministros dos Negócios Estrangeiros, respectivamente, da Indonésia e da Austrália, traçaram nos idos anos de 1980, o destino do petróleo de Timor. Assinaram o Tratado do Estreito de Timor, que permitia à Austrália explorar as reservas de petróleo e gás natural no mar de Timor Leste. No valor de milhares de milhões de dólares...
Este tratado sobre o petróleo entre duas nações, sem que nenhuma delas tenha qualquer legitimidade histórica ou moral sobre o mar de Timor Leste, levou especialistas internacionais em direito marítimo a classificar tal acordo uma verdadeira espoliação – seria “como adquirir material a um ladrão!...”
Timor Leste é um Estado independente. Graças, sobretudo, à coragem do seu Povo e à tenaz resistência dirigida pela Fretilin. Em 2001, verificaram-se as primeiras eleições democráticas, que legitimaram o poder político. Nas eleições regionais de ano passado 80% dos votos foram para a Fretilin, dirigida por Mari Alkatiri, um patriota convicto, que se opõe a privatização os recursos naturais de Timor Leste e às interferências do Banco Mundial...
Muçulmano secular e laico, num país largamente católico apostólico-romano, Alkatiri é, sobretudo, um anti-imperialista que enfrentou as exigências arrogantes do governo da Austrália para uma partilha leonina dos benefícios do petróleo e do gás natural no estreito de Timor...
A 28 de Abril último, um grupo do Exército timorense amotinou-se, ostensivamente. Uma testemunha, repórter de uma rádio australiana, afirmou que estavam envolvidos oficiais americanos e australianos. Tempos antes, a Igreja Católica, com falsos pretextos de perca de privilégios escolares, instrumentalizou as populações, numa arruaça contra o governo legítimo.
Em 7 de Maio, o Primeiro Ministro Alkatiri descreveu os motins como uma tentativa de golpe de estado e que “forasteiros e estrangeiros” estavam a tentar dividir a nação timorense. Documentos da forças armadas australianas, entretanto conhecidos, revelam que o primeiro objectivo da Austrália é procurar acesso dos militares australianos “àqueles que podem exercer influência nas decisões de Timor Leste”.
Em 31 de Maio, a oportunidade australiana consumou-se. O Presidente Xanana Gusmão e o Ministro Ramos Horta – que se opõem ao nacionalismo da Alkatiri – convidaram as tropas australianas a ocupar a capital do País.
Sabe-se que o brigadeiro ido da Austrália para Timor, à frente de 2000 soldados, voou directamente para as montanhas ao encontro do major Reinaldo, líder da rebelião, não para o prender, por pretender derrubar o primeiro ministro democraticamente eleito, mas para o saudar efusivamente. Sem qualquer pudor. O “escândalo” passou-se à frente das câmaras de televisão ...
Como se sabe, Alkatiri foi obrigado a demitir-se do cargo de Primeiro Ministro. Em seu lugar foi nomeado Ramos Horta... Entretanto, Alkatiri é processado. E nos media australianos a sua personalidade denegrida e apresentado como um “ditador corrupto”. Enquanto faz caminho a ideia de que Timor Leste é um “Estado falhado”...
E ainda a procissão vai no adro, acreditem. Os abutres não ficarão por aqui. A próxima meta será a desarticulação da Fretilin, por divergências e lutas internas. Sem esse instrumento decisivo de organização, o Povo timorense ficará ainda mais vulnerável e “dócil” perante os interesses das potências regionais...
O vice-xerife tem sido eficaz, sem dúvida. O xerife aprova!... E assim se percorre o itinerário de um crime...
Ai, Timor!...
terça-feira, julho 18, 2006
“Ai, Timor ...” (ou o itinerário de um crime)
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12 comentários:
Achavas que as coisas por lá iam mudar?
Para já quem mudou (de casa) fui eu :)
http://desfolhada2.blogspot.com/
Ainda em actualizações...
Beijokas,
Betty
Tens toda a razão, ainda a procissão vai no adro. Excelente título.
um abraço
Como a verdade tem sido distorcida nos "media" portugueses...
Mari Alkatiri era um alvo a abater, porque procurou interessar outros países nos recursos naturais de Timor Leste, nomeadamente a China. E porque pretendia que a Austrália pagasse a Timor os dividendos da exploração do petróleo. Julgo que arrecadou mais de 2.000 milhões de dólares e entregou a Timor menos de 1 milhão.
Ramos Horta prepara, com o apoio americano o seu caminho para Secretário Geral da ONU.
Xanana Gusmão, joga futebol, tem o defeito de ser do Benfica e é casado com uma australiana.
E nós?
Nós injectamos lá dinheiro e enviámos 120 (120!!!) GNR. Dá vontade de rir, ou de chorar ...
Ai mundo!...
Este teu post esclarece muitas coisas para mim. Sendo um assunto em que ando bastante perdido, tudo passou a fazer mais sentido. Obrigado.
Ah, e claro que tudo isto mete nojo!
ps: vou enviar este teu post a uns amigos com a devida referência da origem.
«o "pintas", quando for grande, há-de querer editar um blog : pose e charme não lhe faltam...»
Porquê? É condição imprescindível? :-)
Confesso o meu desconhecimento dos exactos meandros da questão, isto para além dos óbvios jogos de interesse à volta do petróleo. Nesse aspecto, acho que o teu post me acendeu umas luzinhas, sempre bem vindas.
Mas fico para aqui a pensar como tem sido complicado para os ex-movimentos de libertação adaptarem-se a uma realidade radicalmente diferente da que tiveram e também da que sonharam. Mesmo que os seus representantes sejam eleitos pelo povo, algo choca de uma forma ou doutra com as ditas democracias que parecem ser a única forma aceite de se inserirem no suposto "mundo desenvolvido".
O que está errado? Os sonhos, a falta de soluçõe4s para os concretizar perante a realidade que existe ou as condições impostas por essa tão almejada democracia? Diz-me tu que eu estou só para aqui a divagar... :)
Beijos
Confesso que não estava informado de diversos detalhes (mas importantes) que referes sobre os últimos acontecimentos de Timor.
O que se passa, no meu ponto de vista, terá a ver com uma grande falha que os sistemas democráticos têm na prática da governação de quase todos os países com esse sistema político.
Resumindo, o pagode vota maioritariamente e elege pessoas sobre as quais pouco sabe e, o que é mais grave, sem saber quais são as linhas programáticas a que eles se propõem dar corpo depois de eleitos.
Mas, mesmo que soubessem, isso também não seria problema para os eleitos, pois normalmente estão-se nas tintas para o que prometeram.
Em contrapartida, desatam a implementar medidas com as quais a maioria dos eleitores não concordaria se fosse ouvido.
E os eleitos farão isso porquê? Simples: com a brandura e boa-fé da democracia, o capital instalou-se completamente no poder desses países, e os governantes, quais marionetas, lá vão fazendo o que eles mandam.
Nalguns casos a escolha da pessoa ganhadora já é premeditada (caso de Bush).
É a verdadeira face do capitalismo selvagem, muito pior do que a fábrica que deslocalizam, que os despedimentos que fazem só porque acham que devem diminuir a produção, etc., etc. E é muito pior porque o petróleo de Timor, do Iraque ou doutro sítio qualquer, é estruturante na cadeia do poder financeiro que manieta o poder político.
Não sei qual a alternativa à democracia, pois, para mim e talvez para a maioria das populações, e apesar de todas as falhas, ela continua a ser a melhor opção política conhecida. Só que a participação dos cidadãos se limita ao acto de votar. O que é muito pouco para controlar o poder político.
Defendo, por estas e por outras, uma democracia participativa.
Ou seja. O problema não está em Timor ou na Austrália ou nos xerifes. Está em nós, portugueses, europeus, australianos ou americanos, que deixamos que os que elegemos façam o que muito bem entende o capital.
Desculpa ser tão longo.
Um abraço.
caro heréctico,
tens sido muito amável nas tuas visitas e comentários
agradeço sinceramente todas as tuas palavras, sinceramente!
desejo-te um bom fim de semana
um grande beijinho
alice
Venho agradecer a tua visita e as amáveis palavras deixadas. :-)
Gostei muito de conhecer o teu blog. A actualidade em palavras simples e directas. A não perder.**
Amigo, tô de volta, colocando a leitura em dia.
Um abraço fraterno.
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