Como é conhecido esteve iminente o levantamento das ossadas de D. Afonso Henriques. Que a Senhora Ministra da Cultura travou! A tempo. O mérito da façanha – o levantamento dos ossos – é assunto que me escapa. Talvez a investigação antropológica pudesse dar uma preciosa contribuição para o déficit ou o conhecimento genes do guerreiro pudesse aclarar definitivamente a pulsão nacional para as vitórias morais, que o campeonato do mundo de futebol mais uma vez confirmou...
Estou, no entanto, tentado em dar razão à Senhora Ministra. Por razões, certamente, divergentes daquelas de Sua Excelência. A Senhora Ministra por excelsas razões de Estado - a autorização da operação passara à margem da sua magna autoridade! Eu - na minha atávica vocação de “velho do Restelo” – por recear que os avoengos ossos pudessem ganhar vida e o pai fundador da Pátria viesse de novo espadeirar. Agora, por certo, contra a fruta espanhola e os tomates da Comunidade Europeia...
Ironia à parte, julgo exemplar este episódio, misto de folclore científico e de drama burocrático. Vejamos os factos.
Explicaram os jornais, em grandes títulos, uma “investigação antropológica que iria traçar os possíveis retratos científicos (sic) do fundador de Portugal”. E com abundância de pormenores – como é próprio de lances decisivos! – os mesmos jornais descreveram os objectivos da operação, nem mais, nem menos que “reconstituir o rosto do rei, fazer a sua ficha científica através dos ossos, determinar a sua estatura efectiva, obter ADN para mais tarde comparar” (não se sabe bem com quê, nem com quem!...)
Eis se não quando, tudo preparado no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, instalado que fora à beira do túmulo todo o complexo equipamento, incluindo uma máquina de laser tridimensional de alta precisão, única na Europa e vinda directamente de Granada (imaginem a revolta dos ossos do Conquistador, se soubera a proveniência!) e a investigadora munida das não menos úteis licenças e autorizações dos serviços competentes do Ministério da Cultura, eis senão quando, já com o túmulo meio aberto, chega a ordem ministerial. Travar a operação!...
Que se passara?!... A Ministra concluíra que a operação científica não estava devidamente fundamentada? Falhara qualquer requisito técnico indispensável? O Gabinete de Sua Excelência, terá à última hora tido conhecimento de informações que fundamentassem tal drástica decisão?!...
Nada disso. Ao que parece, apenas por disfunções internas de comunicação, a Senhora Ministra não fora formalmente informada!...Pelo que, como era de esperar, foi aberto o indispensável inquérito “para apurar responsabilidades”...
Eu não sei a Senhora Ministra bate na mãezinha! Não tenho, porém, dúvidas de que, pela sua fibra e vigor, merece ser considerada émula de D. Afonso Henriques. E talvez os seus ossos (quem diz ossos, diz massa encefálica!) – mais que as cinzas dos antepassados – merecessem estudo adequado....
O ridículo mata, convenhamos!...
sexta-feira, julho 14, 2006
Os ossos de D. Afonso Henriques....
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16 comentários:
Eu não percebi bem qual era o verdadeiro motivo da investigação.
E, também importante, gostaria de saber quem paga a operação, pois estou cá desconfiado que também seremos nós os financiadores...
Tal como seríamos da isenção de IRS do prémio dos jogadores do mundial. Nós nem sequer podíamos pagar os prémios... mas enfim, sei que são uns trocos para a rapaziada.
Abraço e bfs.
bem a questão só pode ser uma. Faltou um carimbo da 2ª secção, 3º gabinete, do 5º piso da 1ª repartição........
Na verdade eu preocupo-me mais cmo as ossads do pessoal que anda aí aos caídos do que com as do morto. No entanto, como noutros casos, a cultura, que deveria ser suporte deste povo à beira-mar espraiado, fica-se nas covas.
Obrigado pelas apreciações. Já estás nos favoritos e voltaremos a falar.
Abraço.
com carácter de urgência, preciso de descansar uns dias, virar costas a 'tudo'- só depois aqui voltarei para te ler - como desejo e mereces, amigo meu.
beijo + beijo
Um pulinho aqui à tua casa para agradecer a visita e deixar um beijinho.
Logo volto.
Licínia
caro heréctico,
tens sido muito amável nos teus comentários
muito obrigada e bom fim de semana
beijinho grande
alice
Já não pode um homem descansar em paz, bem mortinho há mais de oitocentos anos! Com as novas tecnologias à disposição, resolvem até tirar qualquer coisinha para fazer análises de ADN. Imagina se depois iam descobrir estranhos pecados escondidos nas origens da história... :))
No meio disto tudo, uma questão me atormenta: há mesmo a certeza de que é o nosso primeiro rei quem ali jaz? Imagina as confusões possíveis, se por acaso os restos mortais fossem mesmo de um mortal comum... :))
Seriamente, adorei a ironia do texto.Beijos.
Mata mesmo! Enquanto se distrai o povo com estas e outras questões menores, o que é importante passa sem ninguém dar por isso.
um abraço.
Concordando com o comentário do lique, irei mais longe:
Estará lá alguma ossada? Já imaginaste o ridiculo da Ministra por estar a assistir ao milagre do terceiro dia, verificado séculos depois?
Neste caso e já que é de Coimbra que falamos, que poderia a douta Senhora fazer? Talvez gritar: São rosas, meus senhores. São rosas.
Um sorriso largo e um beijo*
Como referiu ANT, o poder da burocracia dá imenso gozo aos burocratas. E saber que podem travar tudo (ou não, consoante os casos) através do tal "carimbo da 3ª Secção do Serviço II do 5º piso" dá-lhes vida nova.
A propósito desta nossa doença ridícula, soube recentemente de um exemplo contrário em Oxford. Imaginem que um dos mais iminentes professores de uma das mais avançadas áreas da Física, não só NÃO tem oficialmente o curso secundário como se recusa a ir dar aulas à Universidade. Pelo que o Corpo Directivo, tendo em atenção o seu espantoso cérebro e as patentes já criadas, lhe mantém o estatuto e sugere aos alunos que vão ter as aulas... a casa dele.
(Sem o carimbo da 3ª Secção...)
Vim só deixar um beijinho... :)
Gostei da ironia. E suponho que o rei, lá no seu túmulo, também.
Um beijo.
Como não há mais nada...
Deixo os votos de boa semana e um abraço.
Choldra! Espero que não tenham deteriorado nada no túmulo... porque pelo cérebro da Ministra já nada se pode fazer!
Dessa vez não comento. Só aprecio.
:)
Um abraço, meu irmão.
Acho que o morto até se deve ter revirado no túmulo...
...bem já agora eu quero saber qual o resultado do ADN: é que o meu Avozinho sempre me disse que eu era a sua Princesa... será que sou descendente de D. Afonso Henriques? É que se for vou reclamar o título (será que isso me isenta de IRS?)
Beijo ;)
Ainda vão descubrir que D. Afonso Henriques era afinal uma...
MULHER!!
eheheh
Bj ;)
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