sexta-feira, julho 11, 2008

Agora mesmo...

Está gente a morrer agora mesmo em qualquer lado
Está gente a morrer e nós também...
Está gente a despedir-se sem saber que para
Sempre
Este som já passou. Este gesto também
Ninguém se banha duas vezes no mesmo instante
Tu próprio te despedes de ti próprio
Não és o mesmo que escreveu o verso atrás
Já estás diferente neste verso e vais com ele

Os amantes agarram-se desesperadamente
Eis como se beijam e mordem e por vezes choram
Mais do que ninguém eles sabem que estão a
[despedir-se

A Terra gira e nós também. A Terra morre e nós também
Não é possível parar o turbilhão
Há um ciclone invisível em cada instante
Os pássaros voam sobre a própria despedida. As folhas vão-se e nós
Também
Não é vento. É movimento fluir do tempo amor e morte
Agora mesmo e para todo o sempre
Ámen


Manuel Alegre – “30 Anos de Poesia” – Publicações D. Quixote

11 comentários:

Maria disse...

Todos morremos um pouco todos os dias, mas de forma diferente, e de diferentes mortes...

:)
Beijos

~pi disse...

resta mesmo desejarmo-nos

a paz na morte e

dizer...

...ámen




~

mundo azul disse...

Muito bom!!!
Um belo poema...Gostei!
Beijos de luz e o meu carinho...

Maria Laura disse...

Talvez o poeta seja mais coerente que o homem! De qualquer forma, este é um belo poema.

Jaqueline Sales disse...

Agora mesmo, tudo pode estar por um fio... e é verdade. Talvez o mais belo da vida seja a morte; ou vice-e-versa.

BeijUivoooooooosssssssss da Loba

luis lourenço disse...

A realidade do devir é impressionante...E neste poema o éfémero contém a espessura de cada metamorfose como elemento imparáveldo fluir do Universo ...Cada gota de água que se perde é um tesouro...cada desperdício de um instante é uma perda insubstitível...Poesia filosófica...lírica...de intervenção...tantas facetas no Admirável poeta Manuel Alegre.

abraços

mariam [Maria Martins] disse...

gosto muito do grande "poeta" Manuel Alegre. (respondi 1º ao outro post! rsrsrs)

um sorriso :)

SILÊNCIO CULPADO disse...

Heretico
Tudo muda e a cada instante estamos diferentes e no entanto iguais.
Há esta voragem, esta fragilidade. Pena que não as tenhamos presentes quando somos injustos ou colaboramos com a injustiça.

Abraço

Unknown disse...

Na impossibilidade, minha, de dizer ámen, contento-me em pensar nesta ideia de mudança...
.
Que a morte, de deixar de ser, essa, será mudança para quem fica [quando o é e quando perdura...].
.
Não deixa de ser um bom poema...
Não deixa de ser uma reconciliação...
... com o inevitável deixar de ser...
Pois ficará o Poema, apesar da Terra girar [por enquanto], mesmo sem nós.
.
[Beijo...]

RC disse...

Ninguém se banha duas bezes na água do mesmo rio- disse o filósofo. Subscrevo.

Xi.

Anónimo disse...

Meu Caro Herético,

Desculpe-me tratá-Lo assim mas perceberá que o nome de guerra não me atemoriza nem, pelos vistos, o atemoriza a Si que tão herética e heroicamente o empunha!

Serve esta minha chamada e embora tardia, saberá que vale mais tarde do que nunca (!), para Lhe agradecer o admirável da réplica.

Tenciono, se o conseguir, editar este meu agradecimento aqui, em Sete Mares e no Seu blogue, Relógio de Pêndulo.

Muito obrigado, Sou

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Julho de 2008

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