Enfastia-se o Primeiro-ministro quando lhe lembram que a sua acção política vai mais longe que qualquer outro governo de direita na ofensiva contra as camadas mais frágeis da sociedade. E que o Código do Trabalho é um retrocesso histórico inadmissível, para alguém que se enfeita com lantejoulas socialistas. E, então, empertigado, assume pose de “menino de oiro”, acusando quem o critica, à esquerda, de lhe estarem a passar atestados de (mau) comportamento político.
Mas lá diz o ditado: quem não quer ser lobo não lhe veste a pele!... Por que isto de ser de esquerda é mais que mera proclamação. Revela-se nos comportamentos, atitudes e nas opções políticas. E, se é verdade que, de uma perspectiva de esquerda, depois de ganhas as eleições, do nosso Eng.º Sócrates nada haverá esperar, porque nada resta de promessas, surpreende, apesar de tudo, a encarniçada sanha contra o mundo do trabalho, que o novo Código alimenta e instiga.
Até porque, na oposição, defendia o Eng.º Sócrates princípios opostos aos que agora promove...
Trágica constatação: o direito do trabalho atravessa um dos períodos mais sombrios da sua breve história. Bem sabemos, que esta situação afecta praticamente todos os países. Na Grã-Bretanha, em França, na RFA, na Itália, em Espanha, por todo o lado, a precariedade ganha terreno e as organizações sindicais, as instituições representativas dos trabalhadores, a contratação colectiva e os grandes direitos colectivos, conquistados através de dura luta, são ostensivamente apoucados e permanentemente aviltados.
Triste consolação nossa os males dos outros - País que somos em risco de rotura do tecido social, com a pobreza endémica a subir às classes médias e os baixos salários a alargar o leque da miséria física e moral e a atrofiar a economia...
Bem sei que o debate está inquinado. O patronato e o Governo, acolitados pela UGT e pelos tenores da comunicação social, “formataram” o pensamento na matéria, num espartilho de ideias, fora das quais não subsiste qualquer razoabilidade - - “são os de costume, fora do tempo e da modernidade, anti patrioticamente, a pretenderem impedir o desenvolvimento do País...”
Mas não há girândola festiva, nem encenação, nem traição de classe, nem pretensas alegações ao combate de precariedade que façam esquecer a verdade elementar de que é a hiper valorização do lucro e do reforço do poder patronal nas empresas, que o novo Código vem servir, rompendo o equilíbrio histórico estabelecido. Ou seja, o novo Código de Trabalho vem dar cobertura jurídica, legitimar e estimular o primado da economia sobre a política, nas relações de trabalho...
Ponto nevrálgico de distinção entre a esquerda e direita. Que o Eng.º Sócrates, evidentemente, faz questão de ignorar...
Porque importa recordar que as leis não são neutras. E que o poder social do senhor Belmiro de Azevedo, por exemplo, é infinitamente maior do que o de um(a) qualquer jovem, com contrato a prazo (mesmo por três anos em vez de seis) e salário de miséria, nas caixas registadoras de um dos seus supermercados... Será a mesma a sua capacidade negocial das relações de trabalho?! Digam-me...
Por isso, sejamos claros. Não há, em matéria de legislação de trabalho, que invocar a “equidade”, (como pretendem governo e patronato) mas perseguir a “justiça”. Como qualquer homem ou mulher de esquerda saberá a igualdade perante a lei não e sinónimo de igualitarismo. Mas significa “tratar o igual como igual e o diferente como diferente, na exacta medida da sua diferença...”
Essa a matriz legal e constitucional do nosso direito de trabalho, reduto essencial dos ideais libertadores de Abril. Que o novo Código do Trabalho vem romper. Pela mão solícita do Eng.º Sócrates, “menino de oiro” da direita, está bom de ver...
E como o dia a dia, infelizmente, demonstra!...
quarta-feira, julho 02, 2008
"O(s) menino(s) de oiro" e ... a esquerda!
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16 comentários:
O Capital apostou em dois meninos; um para fingir que perdia, o "guerreiro", outro para ganhar o "de oiro", ambos lhe foram(são) úteis e servis na defesa dos seus interesses.
Eu acho que, nesta altura do campeonato, não havia nexexidade mesmo. Mas a autora...quem é quem é?
:))
O primado do dinheiro sobre a nobreza da actividade política?
Ídolos com pés de barro? Para quê?
"menino de ouro" é pouco...Porque não um de diamante para levar as coisas por diante?...E para que serve o ouro...se a pobreza alastra...e outras fraquezas que só não vè quem não quer ver...
Não é preciso explicar...só queria compreender...porque falta tanta coisa?
Um abraço
Tens toda a razão naquilo que escreves e este código do trabalho vem, de facto, acabar com direitos fundamentais de quem pouco "poder social" tem. Isto mesmo sem fazer uso das noções de direita e esquerda que deixaram de ser "moda"... vá-se lá saber porquê.
Agora, o facto é que, com entrevistas e livros combinados ou não, não consigo encontrar argumentos na oposição (de direita e esquerda) suficientemente baseados e aguerridos. E o "menino de oiro" soma pontos, como somou ontem na "entrevista" na RTP. Culpa das oposições, decerto. Porque muita gente tem vindo para a rua, quando é preciso. Mas depois onde estão os argumentos que atinjam os que não vão para a rua? Os que duvidam e querem entender? Como sempre, divago talvez, mas não basta repetir certos conceitos. É necessário fazê-los chegar onde têm de chegar. Sob pena de termos mais uma estrondosa vitória do PS em 2009.
...
"Trágica constatação: o direito do trabalho atravessa um dos períodos mais sombrios da sua breve história."
É certamente fácil catapultar para razões conjunturais, macroeconomias externas, necessidades de fixar capitais estrangeiros à luz de um Código de Trabalho mais “adaptado”. Todavia, como é sublinhado largamente neste post, estamos perante um grave recuo dos Direitos e garantes fundamentais dos trabalhadores. Este Código de Trabalho não serve a parte mais fraca da relação laboral: o trabalhador.
Face a esta realidade importa que a classe operária, os trabalhadores portugueses, não se demitam do seu papel e saibam claramente que são eles a riqueza de qualquer organização, o bem maior e mais valioso – o capital humano. São eles que, enquanto massas criadoras, operantes e pensantes, podem mudar o curso da história, podem reduzir, senão neutralizar, avanços desta natureza.
Basta que não se esqueçam quem são, que não se demitam da luta e da participação. O amorfismo de muitos de nós, em momentos estratégicos de viragem, deu o presente resultado. E que futuro pretendemos delegar aos que nos são subsequentes? Às gerações vindouras?
Somos um sistema, um todo, e, como partes deste todo (seja qual for o nosso posicionamento na hierarquia social), não podemos e não devemos esquecer que, a insatisfação, a fragilidade nas bases, redunda mais tarde ou mais cedo, numa queda piramidal. Tão simples como isto.
E, como dizia Sophia, que muito amo “vemos, ouvimos e lemos … não nos podemos esquecer”.
Há quem se esqueça… infelizmente!
Bem-haja pela clareza do post.
Cumprimentos
Mel
Nem sei que acrescente.
Vendo bem, a palavra "acrescentar" parece não fazer parte do vocabulário deste contexto.
.
Por isso, não digo nada.
Parece que nem as palavras podemos gastar!...
.
É preciso tem cuidado, até com os gastos mentais...
.
Continuo a não conseguir olhar para a cara destes [chamas-lhes tu] "meninos de oiro"!
.
Bah....
.
[Beijo.......]
Assino tudinho meu pivô de política preferido. Com a tua lucidez de sempre; não perco é a esperança de ver estabelecido em Portugal um governo sólido e constitucional a sério! mas há um problema: falta quem instrua verdadeiramente o povo que quase se encontra à mercê da bancarrota. Os tugas falam demais e agem pouco!
Bjs
Vim agradecer a visita. zvoltarei mais tarde para ler..
Sou mesmo uma alma sensível.
Muitos cumprimentos.
Mas que grande lata, esta do menino de ouro!!
Fica bem.
Confesso que os políticos me cansam... Gostei da definição de igualdade "tratar o igual como igual e o diferente como diferente, na exacta medida da sua diferença...”
Pode sempre roubar o que quiser para a SN.
Um abraço
"Porque
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."
«Sophia de Mello Breyner Andresen»
bom fim-de-semana
um sorriso :)
O menino pode ser de oiro
mas na loja dos trezentos
E onde encontrar a oposição credível, com propostas concretas? Como escolher neste solo escorregadio de palavras e só palavras onde a oposição (também) se move?
ooooooooooooohhhhhhhhhhhh
não temos direito a conto este fim de semana...
blaah
Sou de esquerda.
Mas não subscrevo o teu post...
Continuo a acreditar no Sócrates.
Tal como mais de 40% dos portugueses, segundo as sondagens.
Para além disso continuamos sem substituto. A Manuela Ferreira Leite, para além de concordar com o essencial da governação de Sócrates, foi definitivamente ultrapassada pelo tempo.
Sobre as 65 horas, por exemplo, foi lançada uma tal cortina de fumo e quase ninguém percebeu.
Eu percebi e apoio a medida.
Porque ela também é boa para os trabalhadores. E para as pequenas e médias empresas, claro. E para a economia, claríssimo...
Bfs, abraço.
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