Sou o linho estendido sobre a pedra. Como mesa.
E o suor dos rostos em círculo. Como mito. (Sei agora...)
E o pão avaro.
E o rito das mãos de boca em boca
E as gargantas ressequidas.
Sou o vinho...
Sou a sombra. E a gota de água.
E a agitação do freixo. Sou a canícula e a raiva.
E a boina basca descaída sobre os olhos
E a precária sesta na aragem do dia.
Sou os tordos espantados de meus olhos
E a voz do amo
E o sol que já declina...
Sou os corpos debruçados sobre a terra
E o crepitar do caule e da espiga.
Sou o fio da revolta
Que não sabe ainda...
E neste horizonte de mágoa
Sou sopro de bandeira desbotada
Sou esta linha quebrada que explode
E me incendeia...
Sou este signo vazio de nada
E o canto das cigarras que teima...
..........................................................
Grato pela vossa presença amiga.
Beijos e abraços
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27 comentários:
Achei o poema lindíssimo...
... comovente, até.
O título... e o final deixaram-me apreensiva.
Mas, regressaste, mais o teu canto daquela cigarra que teima...
.
[Beijo para essa cigarra que há em ti!]
Chego aqui cheia de Rio e Bons Ares e quase fico sem respiração...
E subscrevo [mesmo sem a sua permissão] o que diz a um ar de.
:)
Há relógios, muitos, n' aluaflutua.
Soberbo, lindíssimo!
Beijinho*
Belíssimo!!!!
Gosto (tanto) de quem teima, assim, com a certeza de que teimar pode ser é o caminho...
Palpita-me que nos vamos cruzar um dia destes...
Beijos
Que bom o teu regresso!
O sacrifício indicia sempre algo de divino...o que pressupõe o canto por vezes da cigarra.
abraço
Belíssimo! Regressaste de férias cheio de "verve" poética.É um poema de "intervenção", a meu gosto.
Abraço.
Não tenho inveja às cigarras
Também vou morrer a caaantaaarr
Gostei muito, espírito de cigarra. Que teimes tão eterno como ela.
Beijo
Salvé Herético!
Acho este poema tudo... menos de "canto da cigarra" - embora ela "teime".
Acho, isso sim, um Cântico á alma do próprio poeta e sua intervenção pelos desafios da "Caminhada".
Que cante então!...Hinos de Louvor á propria VIDA!
Saudação especial
Mariz
Herético,
Linda a sua poesia mas nunca mais nos prendou com os textos críticos a que nos tinha acostumado!
Apaixonou-se?
teima queima teima
sem
pre
~
Belo poema! Vê-se que tem tordos espantados em seus olhos...
Como diria Torga: Quem não canta pode morrer de fartura...
Um abraço.
Um dia destes, quando tiver palavras à altura, venho roubar mais este.
Uma beleza!
Muito bom o seu poema!!! Imagens bonitas e coerentes...
Gostei muito!
Beijos de luz e o meu carinho!!!
Que o canto da cigarra se ouça mesmo no longo e escuro inverno.
Bom regresso!
A cigarra cantarina...
Unha aperta.
:)
Canta cigarra
se possível em todas as estações
abraço
Amigo-irmão: taí um poema que vou me "apropriar" sem nenhum pudor! rss! - brincadeira à parte, tocou-me o mais funda da alma e consciência.
Grato, de coração, pela partilha.
Ah, meu amigo: por cá os tempos também são duros. Tantos que vi combater o bom combate e estão desesperançados...! Paciência. É prosseguir fazendo o que estiver ao nosso alcance, desde as tarefas mais humildes, no microcosmo de nossa existência.
Um abraço fraterno.
Soberbo. tantas as imagens que desfilaram enquanto te lia. Lembrei-me de saramago,Levantado do Chão. Aqui fiz jus ao meu nome e evadi-me.Louve-se quem assim poema.
Beijinho
Pois que teime o canto da cigarra. Dele precisamos.Das tuas palavras, do teu blog, referência na blogosfera que tão importante já é e sê-lo-á ainda mais a cada dia que passa.
Felicito-te pelo regresso. Ficamos todos mais ricos.
Beijinhos
como conseguimos ser tanta coisa, desde que a imaginação e a vontade assim o permutam
belo poema
beijos
Belo poema! Ternas as palvras. Elegante o sentido!
Bem voltado. É um prazer rever-te aqui e lá pelo branco!
:)
Herético
Um excelente poema e não digo isto para ser simpática.
Mas antes a linha quebrada que incendeia, que o signo vazio num horizonte amargo.
Abraço
Publicas pouca poesia.
Mas quando o fazes, ela é de primeiríssima água.
Próximo de Torga no estilo, pareceu-me.
Abraço.
Hei! Que belo poema!
E depois de ouvir um mestre nas sinfonias...
Um abraço
Para quando mais cantos ?
Tudo de bom.
Olá Herético, outra vez,
aqui está ele, muito bonito, delicado, eu diria muito "Zeca", mas mais não digo que isto de avantes pra mim...
Eheheh
Stella
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