quinta-feira, março 19, 2009

Poema que arde...

Toma o poeta o cinzel e seu ofício
E pela fissura da pedra por onde a palavra espreita
Escuta o lento germinar da água sob a fraga
Gota a gota. Como seiva...

Nada que não saiba. A demora é cadência
Do escopro. Música que não rima ainda.
Rumor apenas de água. Talvez fermento.
Selo que resguarda. E anuncia...

Ergue então o poeta o murmúrio do silêncio
No cadinho e no caule da sua espera.
E sopra o nada. E busca a presa. Que arredia
Se escapa. Fugidia...

Razão que não queira. Rumor da língua.
Centelha agora. Já não apenas água.
Contudo mineral ainda. Mas já crisálida abrindo
O som da sílaba...

Ousa o poeta depois o fogo e a sarça.
E a chama no interior da pedra.
A palavra ainda é nada. Apenas o estrelar da luz.
Fogo e água. E solidão acesa...

Nada que não seja. Porém a palavra agora
(Feita água) é rosto e é nome. E claridade...
Vereda de dor e fome de humanidade.
É quimera que se ergue no poema que arde...


................................................

Estarei ausente uns dias. Breves...
Bom fim de semana.

Beijos e abraços

31 comentários:

audrey disse...

boas férias!

Maria disse...

Para quando o livro?
(acho que já te perguntei...)

Boas férias!

beijos

jrd disse...

...e que se vê!

casa de passe disse...

Não tem vergonha de ir de férias logo hoje que a Bandida vai apresentar , mais uma vez, o livro dela?

Loulou

Alvarez disse...

...Bom regresso!...

Alvarez

Mar Arável disse...

Que arda

e que se veja

a água de beber

Estás sempre presente

Abraço

São disse...

Que a ausência não seja longa. apesar de nos deixares uma magnífica oferta!

Fica bem.

Carla disse...

senti a palavra a crescer com o desenrolar deste poema...e com ele o prazer de te ler sílaba a sílaba
beijos e boas férias

~pi disse...

também as tuas palavras nascem

das fontes

nas fragas,



beijo, atéjá



~

Licínia Quitério disse...

Bom dia, Poeta, neste dia que te contempla!

mariab disse...

ardeu alto a chama do teu poema. um beijo no teu dia, no de todos os poetas.

vida de vidro disse...

Como sabes olhar essa "fissura da pedra por onde a palavra espreita"... E assim o poema se cria nessa fusão de fogo e água. Belo. Bom início de Primavera! **

mdsol disse...

Bons dias então...
:))

tempusinfinitae disse...

A palavra ainda é nada.

Belissimo.

Tortuoso é aquele que se destina ao caminho da poesia.

É gratificante encontrar aqui quem saiba escrever.

Abraço.

o Reverso disse...

foi bom: Torga aqui por abaixo e Tu aqui.

Arábica disse...

Mereces :)


Abraço e até ao teu regresso.

Tinta Azul disse...

Pedra
Água
Fogo


As tuas palavras esculpidas.


Bjs

Maria P. disse...

Que poema...arde.

Beijinho*

Isabel Victor disse...

Gota a gota. Como seiva ...


(somos ritmo. batida cardíaca. pulsar. cadência)



vida



iv*

Graça Pires disse...

Como se fosse seiva. Como se fosse música. Como se fosse silêncio. Como se fosse fogo. O poema.
Um abraço, amigo.

dona tela disse...

A Primavera mexe muito comigo.
E não sou poeta...

tolilo disse...

Ainda de férias, tio Herético!

Não te esqueças de trazer ao Tolilinho um pacote com amendoas de licor!


Chuac!

isabel mendes ferreira disse...

Gaita!!!!



que arde de saber asim escrever!



beijo.


e bom de tudo.
M.

Nilson Barcelli disse...

Resumindo, o poeta tem uma trabalheira dos diabos.
Mas, por muito bom que o poema seja, há olhares que o fuzilam... porque ele vale pela leitura que dele possamos fazer.
E o teu poema pertence à classe dos excelentes. Gostei imenso.
Abraço.

Frioleiras disse...

que bonito !...

(ainda de férias???...)

Mare Liberum disse...

Deliciosa a tua poesia.Leio e releio com prazer. Lamento que a não ponhas em livro.

Bem-hajas!

Beijos

Vitória disse...

"Rumor da lingua"... O que me fizeste lembrar... gota a gota.

Quem arde é quem escreve.

E eu. Que acabei de te ler.



(Com a verdade te digo a verdade: afirmação)

casa de passe disse...

o cinzel já não levanto
e cadência já não tenho,
só de o pensar fico em pranto
já não sou como em antanho.

nem em força
nem em tamanho.


Ernesto, o avô

Manuel Veiga disse...

Se não levantas o cinzel
Nem a fissura podes achar
Compreendo o teu tormento
Mas não te posso ajudar...

Na casa de que és gerente
Que é tão bem frequentada
Andam meninas à compita
A ver quem é melhor aviada

Por isso meu caro Ernesto
Com se diz cá deste lado
Quem já não pode arreia
E quem tem crista canta o fado...

Abraço

(gostei de te ver por cá..."

Menina Marota disse...

Eu chego e tu vais... é o "nosso" fado... eheheh
Beijinho e boas férias ;)

jawaa disse...

Deixaste por cá um poema a arder... e chegaste com uma prosa alegre de se lhe tirar o chapéu!

Ausência profíqua, pois.
Beijão

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