“O Douro é um rio de vinho
que tem a foz em Liverpool e em Londres
e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires:
quando chega ao mar vai nos navios,
cria seus lodos em garrafeiras velhas,
desemboca nos clubes e nos bares.
O Douro é um rio de barcos
onde remam os barqueiros suas desgraças,
primeiro se afundam em terra as suas vidas
que no rio se afundam as barcaças.
Nas sobremesas finas, as garrafas
assemelham cristais cheios de rubis,
em Cape-Town, em Sidney, em Paris,
tem um sabor generoso e fino
o sangue que dos cais exportamos em barris.
As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas:
nos entrepostos dos cais, em armazéns,
comerciantes trocam por esterlino
o vinho que é o sangue dos seus corpos,
moeda pobre que são os seus destinos.
Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino,
mas a nós só nos sabe, só nos sabe,
à tristeza infinita de um destino.
O rio Douro é um rio de sangue,
por onde o sangue do meu povo corre.
Meu povo, liberta-te, liberta-te!,
Liberta-te, meu povo! – ou morre"
Joaquim Namorado
Boa colheita. E que o mosto fermente... Sem mistelas, como deve ser...
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Joaquim Namorado viveu entre 1914 e 1986. Nasceu em Alter do Chão, Alentejo, em 30 de Junho. Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra. Foi durante dezenas de anos professor do ensino particular, já que o ensino oficial, durante o fascismo, lhe esteve vedado.
Depois do 25 de Abril, ingressou no quadro de professores da secção de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Notabilizou-se como poeta neo-realista, tendo colaborado nas revistas Seara Nova, Sol Nascente e Vértice. Entre muitas outras actividades relevantes, foi redactor e director da Revista “Vértice”, onde ficou célebre o episódio da publicação de pensamentos do Karl Marx, assinados com o pseudónimo Carlos Marques.
Um dia, apareceu na redacção um agente da PIDE a intimidar:“ ó Senhor Doutor Joaquim Namorado, avise o Carlos Marques para ter cuidadinho, que nós já estamos de olho nele”...
Poesia: "Aviso à Navegação", "Incomodidade" e "A Poesia Necessária".
26 comentários:
Obrigada pela partilha. Beijos.
Boa!
Gostei muito do poema. Já conhecia Joaquim Namorado e a sua importância na luta contra a ditadura. Um nome a não esquecer.
Bem-hajas por no-lo teres trazido.
Beijinhos
O poema é daqueles que eu classifico "a meu gosto". Conheci no Liceu de Évora uma colega de apelido Namorado.
Atendendo à "mixórdia" que se vê por aí, é o que se pode chamar um "post" oportuno.
Abraço
Gosto muito das palavras deste Homem da minha terra:)
Beijinho*
Ignorância minha mas não conhecia.
Fiquei a conhecer!
Gostei!
Agradeço-te a aprendizagem.
Um Beijo...uma boa semana
Boa memória
Abraço amigo
Namorado... claro !!!
bjnh grd
Em Alter não se formam só cavalos e cavalgaduras. Grato por o (com)provares.
Abraço.
Uma delícia! gostei mesmo...
Grande abraço.
Paulo
Lembro-me muito bem dele em Coimbra e das inúmeras explicações que dava.
Já estou entradota...
Tinha algo de génio, algo de louco...
Meu caro herético...
Memória de elefante...bem precisa na crista da onda...um grande abraço.
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Muito obrigada, pela partilha!!! Gostei de ler...
Beijos de luz e o meu carinho!
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a.vindimado o texto. de sucos e de sílabas.
excelente o j.n. como sempre.
abraço.
Obrigada pela visita!...
Nunca deixarei de vir aqui. Mesmo quando apenas passo...
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E passarei mais vezes, a partir de agora.
Estou a tentar habituar-me às mudanças de um novo ano lectivo, de uma nova Escola, ao pé de casa...
Tem sido um Setembro diferente, ainda dividada entre o que foi e o que será.
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Não conhecia o Joaquim Namorado...
Imperdoável, certamente.
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[Beijo, de voltarei sempre...@]
gostei do poema do Joaquim Namorado, e da maneira como fechou o post.
obrigada.
um beij
Gostei muito do teu blog.
Beijos com carinho!
Esquecido, grande Poeta.
Obrigada.
Obrigado pelo momento. Um abração.
Gostei de ler este vindimar de palavras...
Abraço
Chris
Os sulcos da fadiga. Joaquim Namorado, um grande poeta.
"As margens do Douro são penedos
fecundados de sangue e amarguras
onde cava o meu povo as vinhas
como quem abre as próprias sepulturas"
Belíssimo!
Um abraço, amigo.
"Em Londres os lords e em Paris os snobs,
no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos
acham no Porto um sabor divino"
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Néctar divino. O melhor do mundo !
Um beijo, Herético
iv
Tenho certeza de que o Rio de Janeiro orgulha-se de ser uma das embocaduras do Douro.
Linda poesia, e como o rio é de vinho, salut!
Um abraço!
P.S.: Port Wine. Um excelente nome para uma banda de rock. :)
Morrer não!
lIBERTAR-SE SIM, OU, PELO MENOS IR METENDO, SEMPRE QUE POSSÍVEL, UNS PAUSINHOS NA ENGRNAGEM...
aLICE, A FININHA
obrigada por nos trazeres este poderoso poema!
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