De Espanha chegam notícias inquietantes sobre o estado de saúde da resistente saharaui, Aminetu Haidar, que se encontra em greve de fome, desde 15 de Novembro, no aeroporto de Lanzarote.
Com a sua acção, a militante da causa saharaui pretende chamar a atenção para a luta do seu povo que, há mais de 35 anos, luta pelo direito a um território e à autodeterminação do seu Povo, subjugado por Marrocos.
Se há situações que são um espinho cravado na consciência dos Povos civilizados e dos homens e mulheres, dotados de princípios e valores democráticos, o caso de Sahara Ocidental deveria ser uma delas: mais 200 mil refugiados, permanentes atentados com os direitos humanos perpetrados pelo regime retrógrado de Marrocos, com centenas de torturados e presos políticos.
Todos que acreditam ser cidadãos de corpo inteiro, que acreditam na força da solidariedade e da justiça, não poderão ficar indiferentes à situação inquietante, por que está a passar Aminetu Haidar.
O caso do Sahara Ocidental é, por múltiplas razões, um caso paradigmático de hipocrisia da comunidade internacional, bem como da duplicidade de comportamentos individuais e colectivos.
Será que memória dos povos é tão curta e que, em Portugal, toda a gente tenha esquecido a heróica luta do Povo timorense e as abnegadas jornadas do povo português? Será que ainda alguém se lembra da luta de Timor?
E, no entanto, bom seria que a nobreza de carácter do povo português viesse novamente ao de cima, pronto a vibrar pela causa saharaui. De facto, desde do governo espanhol, passando pelo governo português, da União Europeia à ONU, todos eles detêm a sua quota de responsabilidade por um dos conflitos mais antigos do planeta, tolerantes e coniventes como são, com a reaccionária monarquia marroquina e os seus generais torcionários.
Ou não foram os fosfatos e outros minerais no território do Sahara Ocidental tão cobiçados...
“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, proclamamos muitos de nós, como expressão da nossa inquietude e sinal do nosso engajamento contra as injustiças e o arbítrio. Pois bem, a causa do povo saharaui e a solidariedade com Aminetu Haidar é um daqueles casos que nos pode ajudar a resgatar a mediania e o cinzentismo do quotidiano em que mergulhou a sociedade portuguesa e a restaurar a confiança e vigor da nossa participação cívica.
Em Lisboa, realizou-se ontem, dia três de Dezembro, uma vigília de solidariedade, em frente ao Consulado de Espanha, na Avenida da Liberdade, promovida pela Amnistia Internacional e outras entidades e individualidades de diversos sectores políticos.
Nos dias anteriores, várias personalidades da vida portuguesa tomaram posição e solidarizaram-se com a militante saharaui.
José Saramago, deslocou-se ao aeroporto de Lanzarote e expressou, pessoalmente, a sua solidariedade para com luta de Aminetu Haidar, tendo declarado, posteriormente, à imprensa “que a encontrou animada e que está disposta a aceitar o pior e o pior é a morte, sem que lhe tremam as mãos”...
Também o Alto-comissário da ONU para os Refugiados, António Guterres, qualificou de “verdadeiramente dramática” a situação dos refugiados saharianos ocidentais no Sul da Argélia e considerou que se encontram “bastante esquecidos” pela comunidade internacional.
Aminetu Haidar, considerada por muitos como a “Gandhi Saharaui”, descreve a situação actual no Sahara Ocidental como alarmante e denuncia a escalada da repressão policial e militar.Poderá o mundo fechar os olhos ao drama dos refugiados saharauis? Poderá o mundo fechar os olhos a tragédia de um Povo, objecto de uma repressão violenta e que o único “crime” é desejar a sua autodeterminação e independência e poder viver em paz.
Poderá a nossa consciência calar?
Foto - DN.
20 comentários:
Também ja postei sobre Aminetu Haidar.
Nós somos poucos, infelizmente, mas não calamos esta ignomínia, que muitos querem muda e surda.
Abraço
Meu caro,
Ao longo da história do nosso tempo os humanos construíram suas mentiras com feição de grandes verdades, inventaram falsos heróis com pés de barro...os verdadeiros resistentes muitas vezes minam suas forças para dizerem que as coisas não são bem assim...e eu, reles observadora dos dias, repleta das utopias fora de moda, já nem sei se esses exemplos me consolam ou me entristecem...mas ainda assim eu teimo e acho que todos nós devemos teimar...a mudez é a pior omissão.
Ainda aproveito para agradecer sua visita em meu blog...retorne sempre, as sintonias literárias e humanas merecem ser alimentadas.
Grande abraço,
Genny Xavier
Inaceitável toda esta violência...
E que bravas reacções, a da resistente e do nobel...bem hajas por denunciar...um grito de revolta contra a barbárie no mundo que se diz civilizado.
Abraços
Lemos e ficamos de mal com o mundo, de mal connosco.
Por Timor gritámos, e bem alto. Porque não nos mobilizamos por esta causa? O assunto não é nosso? A indiferença mata.
Saramago esteve lá. Que bom!
O que mais choca é o Zapatero que, para além de nada fazer para minorar o genocídio de que a Espanha é co-responsável, ainda manda prender figuras cimeiras da luta de libertação. Em Timor Portugal não tinha meios nem apoios para fazer face aos indonésios, mas a Espanha timha tudo para se opor a Marrocos com êxito. O Borbon é que não os tem no lugar.
Há pessoas corajosas que tomam atitudes como Aminetu Haidar.
Não podemos ignorar, de facto. Em consciência e solidariedade. Gostei de te ler.
Um abraço.
Se a solidariedade existe, então?!
Que fazemos?
Beijos.
Umas vezes é pelo petróleo
outras pelos fosfatos...
mas o mais fácil é roubar directamente o zé pagode
como descobriram, por cá,
os iluminados
da justiça social...
Forte abraço
Um excelente e humano apelo em abono dos direitos fundamentais de independência de um povo!
Acredito que Aminetu Haidar leve a sua luta até final :(
A comunidade internacional não se moverá. Tu próprio o afirmaste:
'...de hipocrisia da comunidade internacional, bem como da duplicidade de comportamentos individuais e colectivos...'. É o mundo real, cruel, em que vivemos :(
Timor, sim Timor quem não lembra?! Quem não interveio nessa jornada... e, no entanto, Timor vive agora sob outra 'soberania'.
Um beijo
Um exemplo de dignidade
uma referência
a seguir que não cede às dificuldades.
A VOZ QUE NÃO SE CALA!
abraço.
“Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”
De todo não. Que se ergam SEMPRE, senão os braços na luta que importa, então pelo menos as vozes dos que sabem usar a palavra a favor de causas de que não podemos ficar alheios.
Bem-haja.
Fraterno abraço
Mel
Não, a nossa consciência não pode nem deve calar!
Boa semana.
Abraço.
Paulo
Os "Povos civilizados e dos homens e mulheres, dotados de princípios e valores democráticos", têm um défice de consciência que não lhes permite ver para além do seu metro quadrado.
Beijo
gostei de te ler............
Um "antes quebrar que torcer"... quanta força, pela conquista da dignidade do ser humano.
Beijos, Heretico
Ninguém liga ao problema do Sahara Ocidental.
Se fosse um escandalozinho...
É uma vergonha o que se passa.
Abraço.
Que a voz não te esmoreça, caro Herético!
Discorrência clara, oportuna e actuante, como sempre. Grandes causas, causas justas, para quem isso ainda vale e conta. Para sermos melhores também através dos faróis que nos guiam.
«Vemos, ouvimos e lemos», na verdade. Por vezes, torna-se até difícil acreditar em tanta insensibilidade autofágica do ser humano.
Valham-nos os que fazem a diferença.
Grande abraço.
A tua sensibilidade perante as causas deste nosso mundo uma vez mais aqui. Obrigada pela partilha.
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