Há petiscos que não devem ser servidos a frio. O palato tem exigências, que os hábitos alimentares impõem, de forma que um sabor mais intenso, um tempero mais exótico, pode provocar espasmos de contrariedade ou até, em bocas mais delicadas e caprichosas, mal disfarçados enjoos... Claro que muito depende da dose. E, sobretudo, da sabedoria da mão de quem os serve...
Tenho para mim, que arte da escrita tem muito da arte da culinária. Aliás, como bem notam os especialistas, a cozinha, como a literatura, é uma linguagem, no seu jogo de significantes e significados...
Isto para vos dizer que o texto que se segue, extraído da colectânea “Conos”, do escritor galego Juan Manuel Prada – Edições Fenda – é, para meu gosto, um saborosíssimo pitéu literário, que não resisto em oferecer-vos... Certamente que as papilas gustativas mais generosas saberão encontrar no seu molho carregado, a textura certa do bom gosto e, no picante festivo, a alegria, que tudo subverte...
E ficarão, então, sabendo que o sexo de uma Mulher “fala” na forma como se oferece, para além do olhar que ela própria possa lançar sobre a sua intimidade...
Quem, porventura, não aguente “comidinha” mais temperada, peço-lhes: não leiam o que se segue! Ou, pelo menos, leiam, mas com a mão sobre a cara, espreitando entre os dedos, sob pena de poderem “morrer de vergonha”...
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A vagina da coronela…
“O coronel do meu regimento mora no quartel com a esposa, uma mulher madura, dessa madurez anterior à menopausa, tão propensa a aventuras extraconjugais e ao namorico com os furriéis. È assim que lhe chamamos, coronela, num misto de veneração e saudável zombaria. A coronela gosta de se passear pelo pátio de armas e dar gritos aos recrutas, para que saibam bem quem manda lá em casa.
Com a conivência dos sargentos, dá voz de sentido às companhias e passa-lhes revista escolhendo o soldado mais apresentável. O marido finge estar à margem, mas o par de cornos já bate nos umbrais das portas, vendo-se ele obrigado a baixar-se para poder passar.
A coronela exibe sempre decotes pronunciadíssimos, mostrando uma carne temperada pelo vício que os recrutas gostam de mordiscar, por ter melhor sabor e mais nutritiva do que a carne das noivas que deixaram na aldeia, noivas rasteiras e abrutalhadas sem comparação com a coronela.
Ser eleito pela coronela para abrir a braguilha significa para o prestígio dum soldado, muito mais que um informe de boa conduta; ser eleito para uma relação adúltera com hipótese de ser duradoira, muito mais que uma promoção. Eu, que sou corneteiro do regimento incluo-me nesta categoria de felizardos.
Quando o coronel se ausenta, ou vai para manobras, a coronela manda-me ir lá a casa, para lhe tocar um pouco de corneta. A coronela, mulher exigente e maliciosa, pede-me sinfonias de Beethoven (como se a corneta fosse instrumento sinfónico) sabendo bem que o meu repertório não passa de toques militares, alvoradas, faxinas, etc. A coronela recebe-me toda nua, bamboleando o cú indecente e deliciosamente assimétrico (...)
A coronela tem vocação dominadora, ademanes de déspota e temperamento brusco. Tem, além disso, um pouco de celulite nas ancas e patas de galinha nas comissuras das pálpebras, mas é precisamente nessas pequenas máculas que residem seus atractivos.
Quando fico ao alcance dela ordena; - “Pega nas medalhas do meu marido. Estão na primeira gaveta dessa mesinha.” - As medalhas e condecorações, galões e cruzes de mérito militar do marido constituem uma quinquilharia garrida, excessiva em qualquer peito, por mais amplo que seja, (o coronel só usa umas poucas), mas não para o sexo da coronela, uma vagina que sai do mapa.
A coronela gosta de colocar as medalhas do marido no sexo e passear-se pela casa, como se transportasse um chocalho entre as coxas. A mim compete-me ir pendurando as medalhas e condecorações e galões e cruzes de mérito militar do marido na pentelheira da coronela, tomando as devidas cautelas para não lhe picar um dos lábios com algum dos alfinetes.
A coronela assim condecorada reluz como candeeiro enfeitado em noite de natal, enchendo de músicas metálicas a corpulência da vagina.
A coronela gosta de colocar as medalhas do marido no sexo e passear-se pela casa, como se transportasse um chocalho entre as coxas. A mim compete-me ir pendurando as medalhas e condecorações e galões e cruzes de mérito militar do marido na pentelheira da coronela, tomando as devidas cautelas para não lhe picar um dos lábios com algum dos alfinetes.
A coronela assim condecorada reluz como candeeiro enfeitado em noite de natal, enchendo de músicas metálicas a corpulência da vagina.
A coronela levanta-se da cama com toda aquela sucata pendurada e obriga-me a persegui-la pelas divisões da casa (…), que vai deixando pelos corredores um entrechocar de medalhas soando a moedas falsas, bem como um rasto de indómita luxúria.
Quando finalmente a apanho, a coronela ordena-me que a possua ali mesmo, no chão de ladrilho e eu obedeço, sem demora... Às vezes, com a pressa, pico-me numa roseta com que o coronel foi agraciado, na guerra de África. E então esguicha-me uma gota de sangue seminal que, sobre as medalhas, na vagina da coronela logo alastra qual mancha de ferrugem…”.
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Deve ser enorme a frustração da coronela por não ter chegado a “almiranta”, agora que temos submarinos! Que belo uso não daria ela aos “brinquedos caros” da nossa Marinha!…
Bem mais épicos seriam, certamente, que as condecorações do marido. Ou o toque do corneteiro e o regimento em sentido, não vos parece?!...
10 comentários:
Tiro o chapéu. Está de morte esta fantasia.
Gostei, sobretudo, de imaginar a coronela condecorada, nas coxas, no 10 de Junho.
Abraço
E depois os brasileiros que levam a fama de depravados rsrs
esse espanhol nao nega a raça
gosta de "causar " rs
imagino essa coronela aqui dando ordens aos homens do BOPE rsrs
no mínimo ia ser rebaixada...
dose exata , herético nao enjoei.
os salamaleques de dona coronela só fazem rir muita imaginação e pouco
tesão rsrs
abraço abraço heretico
É mesmo um "saborosíssimo pitéu". Deliciei-me a lê-lo. Está escrito com um espírito de humor espantoso.
Um beijo.
Excelente coronela
dava jeito na parada
a céu aberto
para exemplo de transparência
Só não disseste onde fica o quartel
Temperos bem no ponto!
Abraço
um texto com uma dose de humor e erotismo à mistura.
deixo um beij
Ora aí está uma guerra em que qualquer ser bem formado não desmereceria por entrar nem desdenharia... Ah, que beleza quando o verbo ganha corpo! ;-)»
Um texto muito bem humorado, direi antes, hilariante para este início da noite.
Não coloquei os dedos nos olhos, não!
Li com muita atênção e gosto rsrsrs
Bom final de semana.
Beijo.
Maria
Herético,
A nossa "Gabriela" da cor de cravo e canela perderia feio para essa "coronela"...rsss...o velho Jorge Amado daria boas risadas com esse Juan Manuel Prada...
Enfim, eu também degustei com bom humor esse "pitéu literário"
Beijos,
Genny
muito bem
saudações amigas
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