Mais além cumes
desérticos e eternas neves
No colapso dos
dias. Veredas de solidão na vertigem
E no abismo das
cidades onde a cólera em surdina
Compõe a
sinfonia do medo. E os pombos tombam
Feridos pelo ar
fétido que respiramos impudentes...
Efémeros
despojos na pantalha são pretexto
Das bombas
incendiárias que trazemos no olhar
Do grito dos
passos nas calçadas e das gargantas
Mudas. Do terror
gelado no sangue supérfluo
Que derramamos -
pão incerto que nos roubam!...
Despimo-nos e
vestimo-nos na nossa nudez frágil
Como se o
arrepio da pele fosse fluidez de orgasmo
E as heras que
nos habitam e entopem as veias
Fossem diapasão
de verdade ou memória de destroços
A que nos
agarramos pressurosos de eternidade...
Por isso a
montanha e os gelos. O refúgio de pássaros
Deserdados. E de
itinerários perdidos na distância
Dos dias
verdadeiros. Por isso o sonho crepuscular
Rangendo estéril
de tão perfeito. Canto desesperado
Que em vão ecoa.
Praças e rios que se negam fugidios...
Antes a harmonia
do caos. O declive das colinas.
A imperfeita
palavra. E a poética sem rima. E a luz.
E a treva. O sal
das lágrimas e a raiva. E o punho.
E o sabre. E o
peito aberto. E o caminhar vagabundo.
E o sangue em
frémito de insubmissa humanidade...
Manuel Veiga
12 comentários:
Excelente este teu caminhar vagabundo pelo equilíbrio assimétrico que nos convoca.
Abraço poeta
Antes o caos, que a harmonia das palavras impele para a reconstrução justa!
Beijo
~
~ ~ Um lancinante e comovedor grito de desespero.
~ ~ Grata por dares voz à minha dor, Poeta.
Veemente, as palavras são 'marteladas' de desespero.
E, no entanto, a melodia rompe e pressente-se o sensivel ser.
beijo
Do medo e do silêncio nada se colhe. A submissão falseia a harmonia. Abraço.
A nudez da realidade-
e a poesia insubmissa!
Poema solene que nos adverte e espanta.
Um abraço.
Gostei muito desta insubmissão, totalmente insubmissa!
Gritos de insubmissão: precisam-se!
Da raiva e da revolta e da persistência na luta. A tua Poesia é o combate.
Abraço meu irmão
"E o sangue em frémito de insubmissa humanidade..."
È preciso acordar...
Gostei muito.
Brisas doces
a poesia e o sangue do Poeta é sempre insubmisso
belo momento de poesia
beijinhos
:)
É um grande poema! Daqueles que, de tão bem construídos, não permitem comentários.
Bj.
Lídia
Sempre intenso, insubmisso, o arauto do reino que vai mal...
Beijo afectuoso, Herético!
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