Nos dias
oblíquos em que declinamos a míngua
Como memórias de
cal nos muros da cidade cercada
Toda a realidade
é plana...
A brisa e o Tejo
e o mar com suas ondas
São memórias de
olhos gastos que persistem e
Teimam em medir
distâncias pelos relógios que inventam
Em delírio de
corujas nocturnas nas torres cimeiras de outrora...
Restos apenas
evanescentes que os homens ignoram
Acorrentados ao
jugo e à galera do tempo e ao ritmo
Dos remos. Música
que suaviza o látego
E obscurece o
entendimento como a gruta de sombra
E a mortiça
lâmpada a escorrer luz de um só lado.
Somos essa dança
de espectros e a imagem invertida
Projectada nas
costas dos anjos que lhe dão asas
Multicores e novas
Catedrais celebram no desenfreado
Jogo que tudo
contamina e logo se extingue
No colapso dos
altares inebriantes em que ardemos...
Somos o cordeiro
mártir na ara do consumo e
Inflamamos a
velas do Espectáculo que nos perfura os olhos...
Talvez a Catástrofe
seja o novo nome das coisas.
E os muros da
cidade sejam um espelho solar
Enorme. A
acumular o grito libertador...
Manuel Veiga
13 comentários:
~~~~ Bravo, Mamuel! ~~~~
~ Excelente o teu poema!
~ Um imenso grito de protesto denunciando a sociedade caótica
em que vivemos, onde acima de tudo impera - cada vez mais -
- a corrupção e a ganancia.
~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~
~~~~~~~~~~~~~~~~~
Se remarmos juntos e irmãos, havemos de vencer as correntes e soltar o grito por sobre os muros.
Abraço fraterno
Não há morte nem princípio
e os muros da cidade
nunca serão o espelho dos teus olhos
Abraço amigo
"Talvez a Catástrofe seja o novo nome das coisas", o tal susto de que falava Saramago...
"Talvez a Catástrofe seja o novo nome das coisas", o tal susto de que falava Saramago...
A sociedade do espectáculo, anunciada há quase 50 anos pelo Guy Debord, aqui está: impante, avassaladora, transformadora do Homem num ser passivo.
Mais um belo poema, meu amigo!
Abraço.
Soltemos o grito libertador para que não sermos catástrofe ou susto ou, apenas memórias de cal...
Belíssimo, o poema, meu Amigo.
Dias oblíquos, catástrofe como nome, nada disso surpreende aquele que esteve a observar: nada mais era de esperar.
abço amg
Retrato fiel da realidade. Tragicamente fiel.Até ao grito final algo esperançoso.
Oxalá!
Beijo.
Os espelhos que confundem a cidade hão de ser derrubados. Há de vir o dia em que a ilusão cairá: o trigo será pão e as uvas alegria.
Estupendo poema a levedar a massa.
Oi Manuel,
Que magnífico ! Os dias são oblíquos, de fato. Mas o grito do poeta é uma herança, uma possibilidade , um rumo possível! E mesmo que fosse vestígio :
"Restos apenas evanescentes que os homens ignoram
Acorrentados ao jugo e à galera do tempo e ao ritmo
Dos remos. Música que suaviza o látego
E obscurece o entendimento como a gruta de sombra
E a mortiça lâmpada a escorrer luz de um só lado."
Ainda é poema. Um beijo.
Também sinto esse caos, no mar onde navego...
beijo Poeta!
e, apesar das barreiras, vale a pena sonhar através da idade...
abraço e gosto em ler-te
Enviar um comentário