Vicejam espinhos e cravos nas ruínas do tempo
E os rios medem
as margens no sobressalto das árvores...
Em seu pudor -
ou resguardo - a palavra lateja. Mítica.
Clandestina
embora atiça o fervor que germina
Nos rostos
calcinados e na amargura dos homens.
E o alvoroço
ganha então asas nas veredas do sangue.
E no percurso
inóspito dos passos...
As mulheres
revestem-se de subtis gestos
E soletram a
boca das crianças
Nas migalhas...
E erguem o olhar
pleno como antigas ânforas
Que repletas
extravasam. E minguadas se aprestam
A todas as sedes
e a todas as urgências.
E que de mão em
mão passam. Gloriosas...
Fecundos são os
dias assim (pre)sentidos
Que amadurecem
como crisálias. E se soltam serenos
Na arribação das
aves. E nos ritos da memória...
E se advinham no
pulsar cálido da cidade
Ainda agora
cais. A erguer promessas. E a desenhar velas.
No horizonte
líquido do Tejo...
Manuel Veiga
11 comentários:
~~~
Está prestes a terminar
o dia em que homenageamos a valentia
dos que ousaram enfrentar a odiosa ditadura.
A partir de agora, a luta continua...
Falta-nos a igualdade, como
evidencia este belíssimo e brilhante poema.
~~~ Beijo, poeta amigo. ~~~
«Fecundos são os dias assim (pre)sentidos»
No horizonte sólido da Avenida
Mas tudo se resumo aos infinitos dias de maio.
A começar pelo título, uma bela e original metáfora:
"No Horizonte Líquido do Tejo"
Um horizonte de pura emoção de pessoas, paisagem viva (Rio),
uma nação emocionada...
Este teu poema é gigante de beleza, originalidade e
de um sentir que transborda a memória histórica, que canta
a luta de um Povo pela uma liberdade democrática.
Aciona a possibilidade da memória histórica do local,
o rio Tejo e também na imagética do rio como a vida
que segue na sua transcendência e transformações
dos "Dias assim (pre)sentidos!...
Este Poema acompanhado com a música do Zeca,
um encantamento profundo do sentir...
Bravo, Poeta!!
Bjs.
E assim o ser humano prossegue, no percurso inóspito dos passos...
Belo.
Abraços!
um poema onde se homenageia Abril e seus cravos
a música do Zeca Afonso foi um óptimo suporte ao poema e à data.
muito belo Poeta
um beijo
:)
Quando escreves Abril
pulsam vermelhas flores de Maio
Abraço poeta
Bela evocação, Poeta!
Escrito ainda no cais da memória
o aroma de Abril,
do tempo dos cravos
Mas, das especiarias
desembarcadas na madrugada
muito poucas são nossas.
Tão poucas, tão poucas,
que mulheres e mães
voltaram à míngua.
E as crianças,
quem as sacia de esperança?
Abraço
Há um sonho de Liberdade que se cumpriu, mas embora os cravos vicejem, os espinhos são muitos, e parte do sonho que não se perdeu ainda leva à exaltação do realizado e do que resta por fazer. A palavra lateja e existe urgência, uma sede que implica o alvoroço a exigir mais acção. A festa fez-se. É agora necessário aproveitar essas velas que se desenham em todos os horizontes líquidos e continuar a viagem.
E "Vejam bem", o Zeca tinha que aqui estar!
Primorosa Poesia e Prosa sempre por aqui.
xx
Mais um excelente poema.
Os meus aplausos, caro Poeta.
Bom fim de semana, amigo Veiga.
Abraço.
E quanto ainda há por fazer. São belas as imagens para dar conta da história, da memória, sem esquecer que ainda vicejam espinhos.
Guardo simbolicamente o cravo que recebi no dia 25 de abril, na Praça da Liberdade, em 2014, quando estive em Portugal pela última vez.
Por aqui "faz escuro..."
Forte abraço,
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