Sou o linho estendido sobre a pedra. Como mesa...
E o suor dos rostos em círculo. Como mito. (Sei agora)
E o pão avaro.
E o rito das mãos de boca em boca
E as gargantas ressequidas.
Sou o vinho...
E sou a sombra. E a gota de água.
E a agitação do freixo. Sou a canícula e sou a raiva.
E a boina descaída sobre os olhos – basca.
E a precária sesta na aragem do dia.
Sou a ceifa...
Sou o tordo espantado de meus olhos
E a voz do amo
E o sol que já declina...
Sou os corpos debruçados sobre a terra
E o crepitar do caule e da espiga.
Sou o fio da revolta
Que não sabe ainda...E neste horizonte de mágoa
Sou sopro de bandeira
Sou esta linha quebrada que explode
E me incendeia...
Sou este signo vazio de tudo ou nada
E o canto das cigarras que teima...
Manuel Veiga
“Do Esplendor das Coisas Possíveis” – pág. 127
Poética Edições – Lisboa – Abril 2016
10 comentários:
Imensa é a tua alma, Poeta, que tanto podes representar
no teu canto perseverante e o teu sopro desfraldará tua
bandeira, enquanto respirares.
Um poema hínico e muito belo...
~~~ Beijo ~~~
Caro Manuel,
Aqui o leitor encontra a respiração adequada para o sopro da cada verso se adequando à vivência que o texto traduz. Belo poema...
Abraço forte,
Eis aqui para dizer-lhe que este é o canto do vazio por preencher, o silêncio à espera de uma voz. O canto do poeta dando um novo sentido e uma nova dimensão à existência, o que sabe que cabe à palavra instaurar este mundo novo.
Um poema telúrico que ressoa no apelo da terra mãe.
Abraço meu irmão poeta
Bom dia caro Poeta,
Fico-lhe muito grata pelo seu comentário e perante a sua magnífica poesia sinto-me como um grãozinho de areia a tentar desbravar o terreno das palavras.
Este poema respira de forma sublime o inconformismo de quem ama a sua terra e teima em não desistir de lutar pelo sonho ainda incompleto.
Beijinhos e bom fim de semana.
Ailime
Eu também sou, não sei é dizê-lo com esta beleza.
Abraços
teimemos, poeta
teimemos
Poema maravilhoso onde deixa-nos ver sentimentos pautados na força, na luta.
Você é o poeta da sensibilidade. Li o anterior, também.
Quanto ao vídeo... Deu vontade de chorar. Um Hino.
bjs, amigo!
Gratíssima pelo belo comentário!
É indubitavelmente lindo!
bjs
Somos, poeta
se transcendermos, estaremos salvos.
e és canto sublime de Poeta que tão bem sabe poetar.
um beijo
:)
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