Teciam
carícias como flores. Sobre a relva, os corpos ébrios de espaço e o rodopio - céu
e terra misturavam-se na vertigem. Depois exaustos, caiam e enrolavam-se, em
fusão de adolescência e Primavera.
Então
ele tecia grinaldas de malmequeres e enfeitava-lhe os cabelos, em glorificação
pagã de tempos futuros, pois agora de nada sabiam: eram inocente pulsão de
vida. Ela ria. O marfim dos dentes, o vermelhão húmido dos lábios, os seios a
despontar no estampado da blusa. Ele atrevia-se. Por vezes, ao joelho
destapado. E a mão a subir à coxa, tremendo de novidade e emoção.
E
a voz esquiva, no sorriso: “Está quieto. Aí, não!...”
E
corriam, de pássaros nos olhos, levantando revoadas...
O
sol criava reflexos de oiro nos olhos verdes de Joaninha. Queimavam. Ele
abrasava no sangue revolto. Ofegante, crescia.
Olhava-a: "Dá-me um beijo!...” – dizia em oração murmurada.
Olhava-a: "Dá-me um beijo!...” – dizia em oração murmurada.
Perversa
e risonha, Joaninha apontava o rosto. Desiludido e amuado, o rapaz teimava: - “ Tu
prometeste. Dá-me um beijo!...”
Então
Joaninha ergueu-se, majestosa. E com a mão, em concha, a proteger os olhos,
alargando o olhar para além do horizonte, sorriu, em arrepio de infinito:
“Dou-te
um beijo, se me disseres onde fica o mar...”
O
rapaz, naquela tarde, inventou os oceâneos e as marés...
Manuel
Veiga
19 comentários:
Um texto de encantamento. A beleza da prosa poética.
Abraço meu irmão
Belo, muito belo!
É quase sempre assim,
na idade da inocência
Se não se conhece o quer que se seja
O quer que seja, se inventa
Mas... inventar o mar...
Aí está, amigo Manoel, uma prosa poética
sua que merece todos os elogios. Parabéns.
Um abraço.
Pedro.
Na idade da inocência tudo é mais puro...
Magnífico texto, gostei imenso.
Caro Veiga, tem um bom fim de semana.
Abraço.
O encanto do amor primeiro!
Beijinhos :)
Um dia seremos de novo crianças(?)Regressaremos(?) à idade da inocência(?)
Com a cumplicidade dos mares e das marés as minhas interrogações sublinham o teu belo texto.
Abraço de sempre
Muito bonito, como uma lenda. :)
caro Mar Arável,
devolvo-te a pergunta para outra instância: regressaremos à "Comuna de Paris"? É claro que não! E, no entanto, esse primevo e matricial acontecimento histórico permanece "vivo" como "lugar de Utopia" (política). Ou não?
quero dizer (o meu texto é mera ilustração) que também há um "lugar da Utopia" (do amor), que, em minha modesta opinião, deverá servir a "praxis" do amor em todas as sua manifestações.
(como compreendes, apenas a amizade me levaria a este "suar" intelectual (?) a esta hora da manhã rss)
abraço de sempre.
Que linda essa prosa poética, amigo Manuel!
A inocência é uma das fases mais belas da vida, isenta de maldade, invejas e deixa o coração aberto, receptivo. Pena que seu período é muito curto. Depois nasce outro ser humano.
Beijo, meu amigo, uma boa semana.
Muito lindo!! É, de facto, ume heresia escrever tão bem!!
Beijo.
Apesar de já termos dado muitos passos neste caminho, por vezes tortuoso, nesta vida, como o mar, cheia de marés, podemos sempre viver momentos de inocência, diria até que seria urgente vivê-los, para que nos seja mais fácil continuar " a remar, tantas vezes " contra a maré" . O amor é o que nos impulsiona e se ele puder ser vivido como nos tempos idos, naqueles tempos em que todos os sonhos, todas as ilusão eram permitidas, a vida tornar-se-à muito mais leve. Não é fácil, mas vale a pena tentar; o mar lá está....não o podemos trazer, mas podemos sempre admirá-lo e guardar no coração aquela bela mistura de cores que só ele nos pode oferecer. Amemos sempre, mesmo que a idade da inocência já vá longe, mesmo que já há muito não tenhamos visto sequer uma " grinalda de malmequeres" e mesmo que o sol teime em não aparecer. Sem esse amor não haverá primaveras! Amigo, obrigada pelo maravilhoso momento poetico e que tenhas uma bela semana. Um beijinho
Emilia
A idade de todas as idades, a que cunha as que se lhe seguem como ferro em brasa.
Abraço
Encantatório, Manuel! Um brilho incorruptível é o que permite voltar à inocência. Dar-lhe a forma de um tempo em que, com as manhãs rebentadas no peito, se inventam todos os mares, todas as marés, todas as nascentes, todas as sedes...
Maravilhoso o que escreveste. Li-te ouvindo o piano íntimo de Ludovico Einaudi.
Um beijo, meu Amigo.
Nao tenho palavraa para tanta beleza....
Este verao, na praia , alguem so me deixava comer uma bola de berlim se eu cantasse.
O teu poema trouxe me essa memoria.
Obrigada pela tua visita. Tenho andado longe e aem computador. ..
Beijinho grande.
delicioso
a inocência e o tempo em que se pode inventar até o mar
gostei muito
beijo
:)
Esta prosa poética tem uma inscrição única de beleza, do encantamento
evocado pelas palavras com a imagética sublime do amor inocente ( o título diz:
"Idade da Inocência...).
A originalidade da narrativa no tom tão encantador, que surpreende
a nós, o(S) leitor(es)com o desfecho a criar "o mundo" em nome do amor,
na grande invenção do (a)mar!...
Bravo, Poeta amigo!
beijo.
Sei que já tinha lido, deve ter sido pelo TM (adicionei alguns blogues aos favoritos - não soube fazer doutro modo - mas é raro comentar através dele).
Deliciosamente "inocente" e de uma beleza a tocar a emoção.
Meu respeito :)
Uma maravilha de texto!
Parabéns!
beijinho
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