domingo, outubro 13, 2019

CORRENTEZA (QUASE) TÍMIDA ...


Nas profundas correntes subterrâneas
Onde se anunciam os nomes
E se inscreve o perfil das coisas
Antes de acontecerem…
                                              
Nesse magma de possibilidades
Que os deuses capricham
E os mortais são acaso
Ou destino mudo…

Na eterna emanação de afectos
Onde se desenham as órbitas
E inesperados percursos
De alegria ou dor…

No rubor do mistério             
Que incendeia os corpos. E permanece
Fervura de mostos ...

Na glória dos dias peregrinos
Uma urgência a circular no interior do sangue
E uma prece muda…

E uma correnteza outra – quase tímida!
A inundar a boca. Como promessa.
Ou nascente. Ou chama...

Manuel Veiga




5 comentários:

Graça Pires disse...

"Uma urgência a circular no interior do sangue
E uma prece muda…
E uma correnteza outra – quase tímida!
A inundar a boca. Como promessa.
Ou nascente. Ou chama…"
Não pude deixar de destacar esta parte do poema, tão sugestiva e tão bela.
Uma boa semana, meu Amigo.
Um beijo.

Teresa Almeida disse...

Tua poesia é corrente de afetos, beleza que mana sem cessar ...

E mais não digo.

Beijo, meu amigo Manuel.

José Carlos Sant Anna disse...

Caro Manuel,
Enquanto "brincas" com as palavras, vamos tirando o chapéu. Gosto deste modo de revelar certas pulsões; do modo como revelas tais pulsões em dois momentos distintos. Gosto da circularidade do poema, exposta ao revelar a segunda parte das pulsões em oposição à primeira, o que nos leva de volta ao início do poema para que apreendamos a organização discursiva do poema; gosto da justaposição dos sintagmas nominais, do rol de atributos. Uma bela construção de "tijolos lógicos".
Um abraço,

Tais Luso de Carvalho disse...

Meu amigo poeta de primeira linha, essa sua seara poética é muito vasta na exploração de afetos, de sentimentos, de relações humanas, e isso é sempre ótimo quando lemos, exploramos as relações, o mundo. E boas reflexões nascem! Saímos enriquecidos. Maravilhosa sua verve poética. Sigamos lendo!
Uma boa semana, Manuel! que o inverno que está apontando por aí, seja calminho.
um beijo.

Olinda Melo disse...

Caro Manuel Veiga

Detenho-me nos versos "E inesperados percursos//de alegria ou dor", porquanto neles adivinho a fragilidade da nossa condição humana, no acto de aceitar um caminho e não outro, e ainda aquele que se apresenta quase se impondo e, contudo, tanto nos poderá trazer felicidade ou infelicidade.

Mas também, o que é a felicidade senão a soma de pequenos instantes? Momentos fortuitos nesse "magma de possibilidades" que nos fazem seguir a corrente tumultuosa dos afectos, transformando-se numa correnteza imparável. E tanto poderá ser, como diz o Poeta:

Promessa, nascente ou chama...
O destino ou a nossa vontade o dirá.

Os seus Poemas, meu amigo, trazem sempre uma marca inconfundível: a sua.

Abraço

Olinda

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