Poeta da imagem e das fotos, o Sérgio é também lúcido observador da realidade social, no qual se advinha uma apurada consciência cívica.
É sabido que muitas empresas evitam tratar os resíduos poluentes resultantes da sua actividade despejando-os directamente nos rios, mares ou até em terrenos vizinhos. Esta atitude tem uma única razão, que é a de evitar os custos inerentes a um tratamento adequado, o que reduziria os seus lucros.
Com a crescente preocupação relativa à preservação do ambiente, esta prática tem vindo a ser legislada em todo o mundo e hoje em dia, uma empresa que polua o ambiente está por isso sujeita a pesadas multas. Em termos económicos, o que isto significa é que as empresas são obrigadas a reduzir os seus lucros investindo numa área que não tem directamente a ver com a sua produção, mas sim com técnicas e processos destinados a evitar a poluição ambiental.
Ora não deixa de ser estranho e significativo que, em contrapartida, não exista nenhuma legislação que impeça essas mesmas empresas de produzirem um outro tipo de poluição tão importante ou mais que a ambiental, e a que poderia chamar de “poluição social”, vulgarmente conhecida por desemprego.
É que, de facto, os motivos que levam uma empresa a evitar investir em processos que impeçam a poluição ambiental são exactamente os mesmos que a levam a fechar uma fábrica num país para a abrirem noutro onde a mão de obra é mais barata. Tanto num como noutro caso os motivos são única e exclusivamente uma redução de custos e respectivo aumento do lucro, só que neste segundo caso nenhuma legislação a impede de o fazer, provocando no entanto uma enorme poluição social.
Com isto não se pretende pôr em causa a razão de ser de qualquer empresa, que é obviamente a de produzir lucro. Só que, da mesma forma que se proíbe a poluição ambiental custe isso o que custar a uma empresa, não se compreende que não haja uma protecção igualmente cuidada e a nível global para impedir a produção de poluição social.
A pergunta no fundo é a seguinte: até que ponto é legítimo que uma empresa coloque por exemplo 1.000 pessoas no desemprego num dado local, para ir obter uma acréscimo de lucros de por exemplo 15% noutro país? Se se proíbe por exemplo uma empresa de curtumes ou de corantes de lançar detritos para um riacho que provocam a morte de centenas de peixes, porque razão se aceita que uma outra empresa, a funcionar de forma estável e com lucro num dado país, coloque centenas ou milhares de pessoas no desemprego para ir fazer o mesmo com maior lucro para outro país?
Dir-me-ão que essas pessoas são indemnizadas, mas isso na prática corresponderia a aceitar que se matassem os peixes no exemplo acima, desde que a empresa poluidora pagasse uma taxa. Porque no fundo as indemnizações não resolvem minimamente o problema da poluição social. Funcionam apenas como um pagamento extra e único com que a empresa tem de contar na sua contabilidade, para que as autoridades locais aceitem toda essa poluição local.
Não sendo eu legislador, penso no entanto que algo de muito errado se passa por detrás deste fenómeno, a ponto de ele ser aceite aparentemente em toda a Comunidade Europeia, como resultado lógico e “saudável” da competitividade.
Sei no entanto que este tema é extremamente complexo e envolve certamente muito mais vertentes que o da competitividade, como por exemplo a solidariedade e a concorrência, apenas para referir dois deles.
Porque não permitir por exemplo essa deslocalização apenas nos casos de falência, por exemplo, impedindo os que se fazem com empresas estáveis e com lucro? Porque não dedicar a essa análise o mesmo cuidado e rigor usado nas aquisições internacionais, por forma a impedir a criação de posições dominantes por parte de um dado grupo?
É esta a minha pergunta que gostaria de ver analisada.
15 comentários:
putz!
Pior que essa poluição social acontece em todo lugar, aqui no brasil é a mesma coisa. Grandes empresas abriram aqui por causa da mão de obra, agora que o teto sálaria aumentou e com a diminuição das vendas colocam todos na rua.
Isso é um crime, as multi-nacionais tem fábricas em países muito pobre, onde eles pagam muito pouco... veja a nike com um exemplo.
a lógica deles é lucra, apenas lucrar.
Gosto da expressão "poluição social". E realmente não me parece que exista um real interesse em fazer algo a esse respeito, a nível da UE, por exemplo. As grandes empresas conseguem ser competitivas e fazer os lucros que fazem, à custa precisamente da exploração dessas "possibilidades" de paises que ainda não têm qualquer tipo de exigências, seja em relação à poluição seja em relação aos direitos sociais dos trabalhadores. E os países ditos "desenvolvidos" (Portugal????) fecham os olhos. Era necessário haver uma grande dissociação dos interesses dessas grandes empresas e das instituições governamentais, para que fosse diferente. Mas... **
O único meio que imagino possível para combater essa poluição é a consciência do consumidor do chamado mundo ocidental, o que, ainda vai tendo suficiente poder de compra para se poder fazer "ouvir"!
Foi muito bom teres dado voz ao Sérgio, através desta inteligente abordagem da assustadora "poluição social".
Às vezes fico a pensar que, sem darmos conta, estão a fazer de nós os novos escravos. Estamos a assistir à ascensão e queda do império?
Dois abraços. Para os dois.
Olá
Não creio que exista grande interesse em fazer algo, enquanto existirem grandes lucros por detrás.
Desculpa-me o sarcasmo, mas adoraria ver a resposta do nosso Ministro da Economia Manuel Pinho relativamente à pergunta que deixas no ar? Devia ser de tirar o chapeú! lol
UM BJ SP
Gostei desta reflexão em forma de questão.
Não me alongo mais no comentário para não me tornar repetitivo ;)
Um abraço
É bom haver um lugar destes em que as diversas preocupações que têm a ver com o nosso país possam ser partilhadas por muitos. É bom haver ouvidos disponíveis e espíritos abertos à dúvida e à vida. É bom haver um relógio de pêndulo que marca as horas nesse seu ritmo de tempo humano. Só temos que nos regozijar e agradecer o pensamento herético que o move de maneira tão atenta, persistente e lúcida. Viva a vida!
Constitucionalidade do artigo 175
Num país imaginário, artigo 175 diz o seguinte:
Um homem que, por meio de violência ou ameaça grave, constranger uma mulher a sofrer ou a praticar, consigo ou com outrem, cópula, coito anal ou coito oral é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
Neste país não existe nenhum artigo que puna a violação quando praticada por mulheres. No entanto, a Constituição proíbe a discriminação sexual. O artigo 175 está em vigor há algum tempo e as mulheres sentem-se protegidas contra a violação porque este é considerado um crime grave.
Um belo dia, num caso célebre, o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional o artigo 175 porque este, ao punir homens não punindo mulheres na mesma circunstância, viola o princípio da igualdade entre os sexos. Em consequência disso, um violador terá que ser libertado.
"Ainda há um entrave à Democracia: o Tribunal Constitucional ! É uma espécie de Conselho da Revolução Civil".
www.riapa.pt.to
Será porque a sociedade mais justa e igualitária está ainda muito longe de acontecer?
E entretanto todo este tipo de crimes passa sem ser punido?
Tua e minha. Bom dia e um abraço.
Nós, humanos, tão ironicamente chamados de HOMO SAPIENS, poluimos tudo o que tocamos, somos uma absoluta praga!
Beijinho
Cris
o Sérgio é um Poeta da Imagem.
brilhante.
e tu um "doce"...por assim o chamares aqui.
beijo.
Olá!
Foram colocados dois problemas com uma actualidade indiscutível:
Poluição
O esforço para redigir e fazer cumprir o Protocolo de Quioto estará a enfraquecer. Os subscritores esgotam as suas quotas e demandam países com disponibilidades para comprar acréscimos de quota, continuando a poluir; países não subscritores, como os EUA, poluem e nem querem saber. Problema que está colocado é o de a curto prazo estar comprometida a revisão do Protocolo e a renovação da adesão já nem poder contar com acréscimo de países ou ver outros, para aonde as empresas poluidoras se deslocalizaram por aí encontrarem condições de laboração facilitadas.
Para os países que venem oinvestimento estrangeiro no extrior como Portugal, a prática tem revelado que as empresas que aceitam vir para cá não apenas verão toleradas certas práticas poluentes, alem de incentivos e benefícios fiscais, servem-se tambem de uma certa tolerância quando resolvem partir sem cumprirem o programa de instalação acertado.
Medir os custos do efeito da poluição na economia nacional e comparar-la com os benef+icios de instalação ou conservação de certos processos de produção, para além da depradação ambiental, urgirá cada vez mais fazer.
A questão do emprego, do número crescente de trabalhadores enredados na precaridade ou na impossibilidade de encontrara ocupação parece cada vez mais preocupante. A flexisegurança é uma panaceia para esconder uma certa posição liberal sobre a facilidade de despedir ou sequer nem empregar.
Bom post
De quem são as empresas?
São apenas dos seus accionistas ou pertencem também aos seus colaboradores?
Eu perfilho a segunda opção, isto é, também pertence aos trabalhadores. Esta ideia é adoptada, na prática, por muitos empresários conhecidos mundialmente, que muitas vezes negam o direito de herança aos próprios filhos.
Quando se pensa que as empresas pertencem apenas aos seus accionistas, estamos perante o que se poderá chamar de capitalismo selvagem, onde tudo é permitido.
Claro que deveria ser proibido fechar empresas que dão lucro, ainda que isso agora dependa mais da vontade da união europeia do que dos países membros.
Bom fim-de-semana.
Abraço.
Eles são mestres em engendrar conflitos e recorrer a toda a espécie de provocações destinadas a criar situções favoráveis à sua eclosão.
Há muito que tenho fortes dúvidas sobre a autoria do atentado do 11 de Setembro. Será por acaso que eles nunca conseguiram deitar ao mão a Ben Laden (sseu antigo agente na guerra contra os soviéticos no Afeganistão, e que após o atentado só fecharam o espaço aéreo, depois de trem permitido a evacuação de todos os seus familiares que se encontravam na América?
Um abraço
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