Do olhar à paisagem a
coleante demora
E a esquiva cor.
Neblinas acesas
A despenharem-se nas
arribas.
Aladas. Como beijos
desfeitos. E o vale
Corpo de mulher…
Potros selvagens. E
líquidas promessas.
Orvalhos peregrinos
assim expostos
De pétala em pétala. Silvestre
a flor.
E os impossíveis dedos.
A macerar a pele.
Alaga- se o dia. E o
perfume na madura
Polpa. E os lábios
murmúrio de água.
Destila o sol por entre
nuvens. E a brisa
Agora desperta é toada.
E o poeta
Medianeiro. E eco do
alvoroço.
E de seus passos.
Sorriso de Pã. Em música
de fundo.
Manuel Veiga
10 comentários:
Dá para ver a paisagem. Como numa tela.
Dá para ver a paisagem, é verdade, como diz Luísa.
Talvez possamos dizer a partir desta constatação que o campo semântico que predomina é o da "pintura". Mas o que importa é a capacidade do poeta de nomear com uma dicção perfeita este sorriso que, para nossa alegria, o poeta alcança e partilha.
Retribuo o caloroso abraço, meu caro amigo!
... e assim toda a melodia se torna pagã e pura.
Parabéns, Manuel.
Beijinho.
O poema salta aos olhos e aos sentidos todos...cores,texturas, perfumes, sonoridades, sabores...e, ainda, a verve das suas palavras manifesta-se além da imagem...paisagem: metáfora do ser...
Bom final de semana, poeta.
Genny
A explicação do sorriso na paisagem pintada, qual tela, em pinceladas precisas, apesar da '...esquiva cor'.
Também, em neblinas invernais, há beleza nas cores e o poeta/'pintor' dá-nos a amplitude duma escrita deveras sublime.
Cada poema é um hino, cada palavra é um ninho onde se alimentam os sonhos.
Parabéns, Manuel
Como sempre, um forte abraço
Nós somos a paisagem quando a sentimos. Infelizmente os nossos deuses nunca sorriram como os dos gregos. Em conclusão façamos os deuses gregos nossos, vivamos na floresta e viremos costas aos santos e arcanjos e às cidades.
Mais do que ser poeta, sempre tive orgulhos de ter amigos poetas e ainda mais se forem manuéis.
Um abraço verso
Tens razão, o poeta é um medianeiro, com uma função primordial (e a marcar o intemporal): captar o olhar das coisas e deixar nas palavras o seu olhar de espanto e nelas se comprazer. Epicuro ficaria orgulhoso de tão fiel seguidor. E claro que Pã encontraria, neste poema, a legitimidade da sua existência.
BJ, amigo 😊
O primeiro verso, por si só, vale um poema!
A inteireza do trajecto, sem pôr os pés no chão, é uma dança sensual, e, seguem-se as emoções mais carnais, força incontida, na fala encantaria do poeta. Quase apostava, eu, que não pinto, que pelas declivosas vertentes subia o perfume das maresias.
Quem tocou a flauta?
Abraço.
errado! meu caro Agostinho
perfume a madressilva!
abraço
Maravilha sempre os meus sentidos, esta sua poesia!
Bj
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