terça-feira, novembro 21, 2017

Ne ls Steios de l Sangre ( Nos esteios do Sangue )


Teresa Almeida Subtil, talentosa Poetisa, estudiosa e incansável divulgadora da Língua e Cultura Mirandesas quis surpreender-me com a tradução de um poema de "Caligrafia Íntima".

Agradeço muito à minha amiga Teresa esta distinção, que muito honra a minha poesia e o amável gesto de amizade, que guardo com afecto. 



Ne ls steios de l sangre i nas falas de la tierra
Q'an nós móran.
Nas fondas augas
I ne l altar de las peinhas
stremuntiadas
Ne l çponer de l sol
I ne ls maçanales i
Ne ls beneiros
D’auga.

I ne ls oulores de la tierra arada
I nas marcas de la bara tiempo
I ne ls nuossos rius.

I na sequidede de ls beiços
I na sede de mil anhos
A apressiar ls passos.

I ne ls lhuitos. I ne l siléncio de las campanas.
I ne l strondo de las fiestas
I ne ls arraiales festibos
I nas antigas
Danças.

I ne l corpete de las rapazas
I ne ls lhenços bordados
I nas risadas
I nas lhuitas.
I ne ls dies ardidos
I naqueilhes outros pregoneiros

Te nomeio, Tierra, Lhéngua, Mátria
I te benero
I te guardo
I te digo

Géstio an que me rindo
I m’ antrego
I çfaço
Miu mirar
Altibo.




Nos esteios do sangue
E  nas telúricas vozes
Que em nós habitam
Nas profundas águas 
E no altar das rochas 
Tresmalhadas
No zénite do Sol
E nos pomares e
Nos veios líquidos

E nos cheiros de terra lavrada
E nas marcas da vara do tempo
E nos nossos rios.

E nos lábios ressequidos
E na sede de mil anos
A acicatar os passos-

E nos lutos. E no silêncio dos sinos.
E no estrondo das festas
E nos arraias festivos
E nas antigas danças.

E no corpete das raparigas
E nos lenços bordados.
E nas gargalhadas
E nas brigas.
E nos dias ardidos
E naqueles outros pregoeiros.

Te nomeio Terra, Língua, Mátria
E te venero
E guardo
E te digo

Gesto em que rendo
E me entrego
E deslasso
Meu olhar
Altivo.

Manuel Veiga
“Caligrafia Íntima"  - pág. 194
POÉTICA Edições







8 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, Manuel, pelo que estou vendo, foi um sucesso!
Li o penúltimo poema, muito lindo, também.

Esse, 'Nos esteios do Sangue', exaltando a tradução, o presente da Teresa que ficou mesmo muito lindo, diria que o li como se estivesse à frente de um Hino!
Vai-se descendo num ritmo muito bom, numa ânsia em absorver as palavras e a ideia até o belo final, uma verdadeira apoteose.
Gostei imensamente. Parabéns, meu amigo!!
Um beijo.

Teresa Almeida disse...


Nunca esqueci este poema.Tem identidade. Realmente é uma homenagem, um hino - como diz a Taís - à terra e à gente. E o poeta entrega-se inteiro.
É uma preciosidade. Um marco cultural.

Eu é que agradeço a oportunidade, amigo Manuel Veiga. Foi uma honra lê-lo, no Porto.

Mais um abraço arrochado de parabéns.

Larissa Santos disse...

Bom dia. Que bonito. Desejo sucesso. :)

Hoje: "" O coração não mente, mas sente""

Bjos
Feliz Quarta-Feira

Alfacinha disse...

A língua Mirandesa é um enriquecimento para cultura lusa
Abraços

Emília Pinto disse...

Também concordo, um verdadeiro Hino à terra, à lingua, às gentes da nossa pátria e, por mais que às vezes nos desgostemos com a nossa Pátria, há que cantá-la sempre, se nāo puder ser em versos, que seja com as nossas atitudes de respeito por ela. Afinal amigo, os desgostos que sentimos são provocados por quem governa esta nossa pátria amada e compete a nós colocar esses poderosos no seu devido lugar, indo às urnas e escolhendo melhor os nossos representantes. E a todos estes encantos, lutos, desencantos e desencontros nos devemos render com admiração, pois fazem parte da vida de todos nós, das nossas gentes, da nossa cultura, da nossa Pátria . Não há vida sem esta complexidade e variedade de emoções e se amamos a vida, se amamos a lingua, se amamos a Pátria há que
aceitar, venerar e dizer que as amamos. Disseste-o e muito bem, amigo. Agradeço-te a partilha e também a tradução que aqui foi feita, pois gostei muito. Fica bem, especialmente com saúde. Beijinho
Emilia

Suzete Brainer disse...

Um belo e importante poema do Manuel Veiga no
trabalho de tradução da poetisa Teresa.
Uma perfeita combinação de Poesia e Cultura.

Concordo também, a Teresa Almeida é um talento na
poesia e com o acréscimo de conhecedora da língua
Mirandesa na preservação da cultura e raízes.

Meus parabéns pelos projetos e consquistas
na caminhada com a sua Poesia, Manuel.
Beijo.

São disse...

Parabéns , a excelente qualidade da tua poesia merece todo o sucesso.

Beijinho e bom fim de semana

Odete Ferreira disse...

No poema, a erupção emocional e lexical que já te é matriz.
Na tradução, a musicalidade do afeto - um presente que se recebe e fica.
Na foto, a fixação de momentos que são únicos.
Por tudo, parabéns!
(Da Conceição, já sei da sua capacidade e generosidade para com os poetas de valor )
Bjinho

Sem Pena ou Magoa

  Lonjuras e murmúrios de água E o cântico que se escoa pelo vale E se prolonga no eco evanescente…     Vens assim inesperada me...