Entendamo-nos desde início. Quero escrever, sem hesitação, que os atentados terroristas contra as duas torres do World Trade Center, em Nova Iorque, a 11 de Setembro de 2001, constituiu um crime inominável. Nada pode justificar o crime, nem semelhantes métodos de luta política(?). Acrescento, com o mesmo vigor, que é inteiramente justo reafirmar a solidariedade com o Povo americano e respeitar a memória dos cerca de três mil mortos e a imensa dor das suas famílias. Compreendo muito bem que o horror seja evocado, mesmo na overdose excessiva que, a avaliar pelos indícios, a máquina ideológica dominante se propõe fustigar-nos.
Porém não aceito, nem a prática de “dois pesos e duas medidas”, nem a amnésia, que gemendo os horrores das vítimas americanas, lança para o limbo da ignorância, ou da insensibilidade, “os banhos de sangue”, que em nome dos Estados Unidos da América do Norte têm sido cometidos por todo mundo.
Bem andariam, por isso, os nossos solícitos media, que paralelamente ao “11 de Setembro de 2001” recordassem, por exemplo, o horror de um outro - “o 11 de Setembro de 1973” - no Chile, sobre o qual passaram pouco mais de trinta anos, mas que a memória do tempo tende, cada vez mais, a ignorar.
De facto, importará recordar que, mal haviam explodido os aviões que atingiram as torres do World Trade Center, os porta-vozes do governo estadunidense e suas antenas pelo mundo apressaram-se a dizer que a liberdade e a democracia foram atingidas. Porém, os mesmos homens, escassos anos antes, telecomandados por Henry Kissinger, estiveram directamente implicados no bombardeio do Palácio de La Moneda, em Santiago do Chile e na morte de Salvador Allende. E não apenas derrubaram prédios e fizeram milhares de vítimas, mas golpearam também o sonho de milhões de cidadãos de construir o socialismo, partindo das regras das democracias liberais, isto é, no exercício da mesma liberdade e da igual democracia, que consideram agora atacada em Nova Iorque.
A “mãozinha” americana esteve também no banho de sangue que se abateu sobre a Indonésia, em 1965, com o assassínio de meio milhão de comunistas e outros democratas no decurso de processo eleitoral naquele País. Em consequência de semelhante massacre, foi afastado da vitória o Partido Camponês de tendência socialista e entronizado o comparsa americano Suharto, cuja violenta ditadura chegou até há escassos anos.
Dizem-nos agora, que depois do 11 de Setembro de 2001, nada ficará como dantes. Bem o sabemos, porquanto “temos ouvidos e vemos”! ... Nestes escassos cinco anos, o Mundo, sobre absoluta batuta americana, regrediu aos limites da barbárie. Os milhares de mortos no Iraque, no Líbano e Palestina, o banditismo da CIA como os seus voos aéreos ilegais, as prisões secretas, as torturas, o “desaparecimento” de prisioneiros, a violação indiscriminada dos direitos humanos, põem em causa os fundamentos do estado de direito, a liberdade e a democracia.
Por isso, na minha perspectiva, torna-se perfeitamente compreensível que muitas pessoas se interroguem, nos próprios Estados Unidos, sobre os fundamentos do “11 de Setembro” e pretendam aprofundar esclarecimentos alternativos às teses oficiais, que os média divulgam.
Por mim, não acredito em bruxas. Mas por mais céptico que seja em relação a alegadas “teorias da conspiração”, não posso deixar de considerar estranho que, quando milhares de voos aéreos haviam sido cancelados, na sequência dos acontecimentos, 140 sauditas, alguns dos quais membros da família Bin Laden e amigos da família Bush, pudessem, sem entraves das autoridades americanas, abandonar os Estados Unidos.
É longa “tradição” dos Estados Unidos em forjar pretextos para levarem a água ao seu moinho. Todos temos presente o “pretexto” das armas de destruição maciça para a invasão do Iraque, ou em tempos mais recuados, nos anos sessenta, o célebre bombardeamento com torpedos vietnamitas contra barcos americanos no golfo de Toquim. Apesar de tal bombardeamento não ter existido, não deixou, porém, de constituir pretexto para Lyndon B. Jonhson, arrancar do Senado americano uma declaração de guerra contra o Vietname do Norte. Que os Estados Unidos perderam, como sabemos, depois de uma década de sofrimento e milhares de mortos e estropiados.
Quem me diz agora que não se trata de um mesmo embuste?! ... “Cesteiro que faz um cesto, faz um cento!”... E a verdade é que o “11 de Setembro”, seja qual for o fundamento, constituiu excelente motivo para os mais graves atropelos dos valores da democracia e dos direitos dos cidadãos ...
E para ganhar dinheiro. Muito dinheiro!... Na tarde de 10 e na manhã de 11 de Setembro de 2001, verificaram-se desusadas transacções bolsistas, que superaram escandalosamente, em volume e valor, todas as médias dos dias transactos. Ao que parece, alguns saberiam que alguma coisa se iria passar. E aproveitaram para ganhar uns milhões, mas não para salvar vidas humanas.
sexta-feira, setembro 08, 2006
Não acredito em bruxas... (pero que las hay, hay)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
MÚSICA E FLOR
. Flor é uma flor, é sempre flor!... Música é música - é outra música… Música e flor em MI maior Perfume de dor na dor de meu amor... Sopro ...
-
Irrompem do donaire primaveris Cascatas. Que o outono acolhe E matizadas cores. São os olhos pomares. E veredas Debruadas. E o a...
-
Passeio-me nas ondas de teu corpo E o oceano é alvoroço. E naufrago. E me entrego E em ti desembarco E te percorro. … E ...
22 comentários:
Leio sempre com muito gosto os teus posts. Leio e releio porque porque informam e formam. Um beijo
O mais giro é o «Voo 93»... a Força Aérea dos Estados Unidos abateu o avião... e agora temos um filme de heróis à medida!
Pois é...assunto sensível este, porque isto de ver o horror em directo e de uma forma inesperada fica marcado na mente de toda a gente. E tembém nunca nos será permitido esquecer, dada a quantidade de informação que os media despejam sobre nós todos os anos.
Mas a tua análise está perfeitamente correcta, quando lembras todas as atrocidades cometidas pelos USA em nome duma qualquer liberdade difícil de identificar (ou talvez não...).
É evidente que nada será como dantes, afinal os States têm na mão oa argumento maior para irem progressivamente reduzindo as liberdades individuais. E não só dentro do seu país, isto é um fenómeno mundial.
Como sempre, bem raciocinado e bem escrito. **
Os cínicos precisam de pretextos. A administração americana é composta pelos maiores cínicos de momento.Um abraço.
Este acontecimento horrível que veio sacrificar tantos e tantos cidadãos inocentes marcou-me inevitavelmente como mais um dia negro da história da humanidade. Mas não posso deixar de verificar que, se alguém dele tirou dividendos, foi o poder da América de Bush, tacanha, cínica, petulante e retrógrada. A restrição das liberdades, a xenofobia, o racismo, o maniqueísmo têm, sem dúvida, depois do 11 de Setembro, terreno mais propício para frutificarem, na América e na Europa. Por isso partilho das tuas preocupações e não ponho de lado teses que em princípio me fazem sorrir, ou melhor, franzir o sobrolho.
Um abraço amigo.
Sem dúvida um tema que prende qualque um, e nos faz pensar para onde caminha este mundo...
Gostei imenso desta tua exposição, como sempre.
Bom fim de semana.
Há muita coisa por explicar e, tradicionalmente, o poder americano não é flor que se cheire.
Mais uma excelente análise.
Bom fim-de-semana.
Abraço.
Nada justifica o que se passou. Na análise aos EUA - inteiramente de acordo contigo.
Em nome da liberdade, democracia, verdades, cometem-se justiças e injustiças, mas nunca os fins justificam os meios.
Gostei.
Voltarei.
:-)
Estamos a falar de bananas... ou cenouras...
Continua a escrever destas. Reflectir é preciso para todos nós.
Abraço
O pais que não rectificou o tratado de Quioto, que não rectificou o tratado anti-minas pessoais, com o exército mais bem armado de sempre na história da humanidade(no ano de 2002 os EUA gastaram mais dinheiro em armamento que todos os outros paises do mundo juntos!!!), está preparado para todo o género de atropelos, sempre com a palavra democracia na boca!
É engraçado como a democracia também sofre muito nos media: se morre um cidadão dos EUA aparecem sempre as declarações de cidadãos comuns sobre o assunto, se morre um árabe aparecem imagens esparças do choro das pessoas mas não se houve uma sequer palavra! Bom, e muito mais poderia dizer!...já ninguém se lembra dos atentados de oklahoma? e dos tais fundamentalistas do kkk? O 11 de Setembro, ao contrário do que parecem fazer querer passar não foi o primeiro ataque terrorista nesse pais!....
A saber sempre colocar "os dedos na ferida", que é como quem diz, neste caso, as palavras certas que ardem, mas desmascaram...
Com mestria, como sempre fazes...
Um beijo
Este teu texto é, para mim, o mais "difícil" de todos os que já postaste.
Deixa-me dizer-te que até já o enviei para vários amigos, pois achei muito importante que o lessem. Mais. Cada dia que passa acho mais importante a existência de pessoas como tu. Isto É, sem sombra de dúvida para mim, a parte mais positiva da existência das cansadamente chamadas "novas tecnologias". Considero muito sinceramente que é com pessoas como tu, com atitudes como a tua, que se (re)constrói a cidadania.
Ora bem, dito isto, resta acrescentar que ainda não consegui descobrir bem onde é que não estou de acordo contigo, mas lá que o teu texto foi um excelente molho para o bife do jantar, isso não tenhas dúvida.
E agora vou fazer "a digestão" do teu texto.
Até breve!
O mundo dói-nos muito. Apetece fugir para outro lado.
Há várias explicações para 9/11 e todas elas insuficientes para a sua compreensão e incapazes de gerar soluções que travem sucessivas reprises: ódio ao Ocidente, Choque de Civilizações, Desespero mo Próximo e Médio oriente, Insanável conflito Israelo-Palestiniano, etc. etc.
A diplomacia é lenta; as soluções militares para capturar e prender lideres terroristas estão longe de produzir resultados.
(espreita o que acabei de deixar no meu blog)
Um abraço
Ora bem, já digerido o teu texto, vou tentar explicar o que me "perturbou" nele.
Eu não sei até que ponto é correcto ir buscar a história de um país - recente ou não - exactamente da forma que o referes. Porque sendo assim ninguém se safa. Quase todos os povos hoje ditos civilizados chacinaram outros no passado, e acho que não seria correcto contrapor ao atentado de Madrid, para dar um exemplo, o que os espanhóis fizeram às antigas civilizações sul-americanas.
Claro que o que tu dizes não é também isso. O que te incomoda, creio eu, é a forma como os americanos tentam lavar o cérebro a todo o mundo com os seus poderosíssimos mass-media. Mas isso é verdade desde que eles existem, e a guerra do Vietnam é talvez o melhor exemplo. Ainda há dias "falávamos" aqui que, à conta disso, qualquer jovem português sabe muito mais da geurra e dos heróis do Vietnam que dos nossos.
E pronto, era só isto que eu queria acrescentar.
Tem um bom dia.
Olá
Estou de volta. Vejo que continuas ao teu melhor nível. É uma inevitabilidade...
Um beijo amigo,
Dafne
Sabes subscrevo o teu texto na integra.
Esqueçer jamais, mas muitos actos terroristas existem e de muitos tipos.
uM beijo
Outro desassombrado texto, a que tiro o meu chapéu... ainda que pouco o use.
Pois, isto de chapéus e de barretes, havendo muitos, cada um vai enfiando os que quer.
A "história oficial" do 11 de Setembro tresanda a confecção à medida. E uma coisa que se sabe há muito é que devemos sempre tentar lobrigar, em cada acontecimento histórico, quem beneficiou com cada acto. Assim se edifica o processo histórico...
Não se trata, como é óbvio, de penalizar o povo americano ou, sequer, de diminuir o horror que o 11 de Setembro representa para a Humanidade. Trata-se, apenas, de reequilibrar a informação, não perdendo o espírito de análise e de crítica, pois "historinhas da carochinha" ou, pior, do lobo mau não assentam na dimensão da catástrofe.
E não deve perder-se de vista, outrotanto, quais são os jogos de dominação em presença.
Outro belo texo para a "colecção", meu caro.
(Nota - perdi o teu número. Liga-me para combinarmos o encontro!!!)
agradeço, herético, o post mais inteligente de todos quanto li sobre este inesgotável tema.
um beijinho,
alice
Não deixas de ter razão... mas pensa nisto: Eu penso que estamos em guerra... uma guerra que é feita por fundamentalistas islâmicos que odeiam a Civilização Ocidental... e em tempo de guerra penso que ao trabalho da razão se exigem sacrifícios de coesão.
Conheces país islâmico onde se permita construir igrejas e outros templos religiosos que não os islâmicos???
Primeiro: Um pedido de desculpas pela minha ausência.
É sempre com enorme prazer que te leio.
Temos muito em comum no modo como vimos «as coisas».
Também a mim me aflige um bocado a «pena» que o «Mundo» tem pelo que sucedeu nos E.U.A. a 11 de Set. e ficam tão indiferentes perante um outro 11 de Set bem mais sangrento e monstruoso como foi o do Chile em 1973, com a benção e as mãos dos mesmos E.U.A.
No dia 10 passado, apanhei a meio um programa na RTP2, onde muitas questões foram levantadas. Nomeadamente foi dito: 1- que os tais «bandidos arabes» estavam vivos. 2- os locais onde se encontram e as respectivas moradas. Mais...ficou quase afirmado que quem fez o 11 de Set tinham sido os próprios E.U.A.
Tenho pena de não ter visto este programa desde o principio. Não sei quem o realizou, mas aparentou-me, pelo modo como documentavam as coisas, que era um programa dito «sério».
Parabéns pelo texto!
Um sorriso.
Um beijo*
Enviar um comentário