Como se sabe, realizou-se, por estes dias, no nosso País, um encontro de Partidos Socialistas, enfaticamente, proclamado como VII Congresso do Partido Socialista Europeu, sob o lema “Uma Nova Europa Social”. Convidado de honra, o presidente do Partido Democrático dos Estados Unidos da América. Ségoléne Royal, candidata à Presidência da República Francesa foi, porém, a vedeta. Era expectável. José Sócrates, Secretário Geral do Partido Socialista Português e Primeiro Ministro de Portugal, foi anfitrião do encontro. E discursou, como é natural... Tudo na conformidade dos dias cinzentos que correm ...
Perante a demolição de direitos políticos, económicos e sociais da “velha” Europa Social, pela acção empenhada de diversos governos ditos socialistas, que baquearam, escandalosamente, perante a onda conservadora e liberal que, desde os anos oitenta do século passado, tem assolado o Mundo, propõe-se agora a social democracia europeia realizar “uma nova Europa social”. Porém, sem um murmúrio de autocrítica visível, ou intenção proclamada de se pretender alterar o rumo...
Aliás, do ponto de vista semântico, não deixa de ser curiosa esta recuperação do conceito “Nova Europa”, (no caso social), sabendo-se como o tema das duas Europas, a velha e a nova, foi glosado, quando da invasão militar do Iraque, com os “neocons” norte-americanos a etiquetarem os Estados e os governos europeus, conforme a crítica ou apoio à acção imperialista americana.
Nada de novo, portanto, na frente ocidental, pese embora o estardalhaço do encontro. Os nossos jornais de referência, porém, garantem-nos, em títulos laudatórios, que “José Sócrates relança a aliança estratégica entre a Europa e os Estados Unidos”. E, se os jornais o afirmam, quem sou eu para duvidar?!... Limito-me apenas a presumir, com um sorriso nos lábios, que o General Charles De Gaulle terá reincarnado, na pose e no milagre do teleponto do nosso primeiro ministro... Mas nada disto, porém, teria importância excessiva. As coisas são o que são. E bem sabemos quanto é glorioso para o Eng. Sócrates perfilar-se perante a história...
Há, no entanto, nas suas palavras, de acordo com as televisões, um excesso que resume todo um programa político e esclarece, decisivamente, as motivações ideológicas do Secretário Geral do Partido Socialista. Com o peso do seu conselho, tendo, certamente, presente as suas tão queridas reformas, diz ele para Ségoléne Royal não se amedrontar com aqueles que a acusam de não ser de esquerda. E, num rasgo de pretor romano, acrescenta, homérico: “Isso é apenas uma marca na batalha! A verdade é que eu ouvi isso vezes sem conta, mas sempre me lembrei que já tinham dito isso de Felipe Gonzalez, de Mário Soares, de François Miterrand, Tonny Blair ou Schroeder...”
Não está em causa, como se compreende, o mérito (ou demérito) político de tão heterogéneo “bouquet” de personalidades, nem sequer saber da eventual incomodidade de Mário Soares em ombrear, no discurso de Sócrates, com a “terceira via” de Blair. Anota-se apenas, pelo evidente significado, que no seu próprio campo, Sócrates se encosta à direita, deixando no limbo das suas referências personalidades como Allende, Olof Palme ou Willy Brandt, ou, até mesmo, os pais fundadores da social democracia europeia, de Jaurés a Mendés France. Para tanto não lhe chega a voz, nem o púlpito...
Nada sei, como se compreende, da reacção a tão expedito conselho. Mas confesso que teria ouvido, de bom grado, do Primeiro Ministro de Portugal a palavra clara de Ségoléne quando fala “de uma sede desesperante de coerência dos socialistas europeus”, ou quando, sobre a globalização, afirma que “se a deixarmos livre curso à ferocidade do capitalismo financeiro já conhecemos as consequências” ou, verberando a política monetarista, quando esclarece que “o Banco Central Europeu deve estar sujeito a decisões políticas e não caberá ao senhor Trichet (presidente daquela instituição bancária) liderar as nossas economias.”
Enfim, - quero admitir – pela amostra, o “tailler”, talhado pelo esmerado senhor Sócrates, parece não condizer lá muito bem, com o charme francês da senhora Ségoléne...
domingo, dezembro 10, 2006
Ségoléne e a "moda" portuguesa...
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22 comentários:
A velha Europa dos velhos senhores do carvão e do aço continua a ensombrar a nova Europa dos tecnocratas.
Que uma senhora cheia de boa vontade atraia as atenções dos maiorais da política dita socialista desta Europa, mais pela procura de um grupo preponderante na cena politica Europeia do que por convicções humanistas, não admira.
E nem sequer devia causar alvoroço uma estranha colagem de Sócrates ao amigo democrata Americano.
Há por estas bandas o eterno vicio de estender a mão à caridadezinha …
Olá!
(Como sempre, um excelente texto sobre a conjuntura)
Comentários:
1/ Não sei se estas reuniões têm alguma agenda que estabelece a sazonalidade e o país da sua realização. O facto de ser em portugal poderia indiciar um apoio reiterado à política socrática. Não sei. Não adianto mais nada.
2/ A S Royal promete ser uma pedrada no charco da pol+ítica nacional francesa. Não sei se virá a conseguir. A imprensa apresentaou-a como uma glosa da Terceira Via blairiana (Requentada?) Ora se a França nunca quer aproximar-se dos EUA como pode um dirigente francês desejar uma política que aponte para uma ponte transatlântica?
3/ Se a Europa não tivesse anunciado, salvo erro na Conferência de Lisboa que desejaria suplantar os EUA e ser um interlocutor bem posicionado face à globalização talvez me esforçasse por compreender esse desiderato. Porem, as políticas seguidas são reações e não iniciativa para evitar -- o que está a acontecer -- não erder o cpomboio do desenvolvimento.
4/ A social democracia defendida por O. Palm está a Kms de distância do modelo que actualmente se pratica ou prometeu por em prática.
Um abraço
Não segui o evento com muita atenção mas calhou "apanhar" exactamente essa parte do discurso de Sócrates em que ele se dirigia a Ségoléne como se fosse alguém cheio de experiência nestas andanças, ombreando com nomes sonantes, heterogéneos, é certo. E, sinceramente, pareceu-me aquilo muito a despropósito. Enfim, o teu texto esclareceu-me um pouco mais sobre as suas motivações. E espero sinceramente que Ségoléne não siga figurinos já talhados, até porque é uma mulher, diabo! :)**
tá chegando o natal... natal: tá lembrado, senhor herético?
pois é: exatamente nessa época, mais que em qualquer outra, os sininhos badalam, os pregoeiros gritam tanto quanto podem:
- compre, compre, compre! demonstre o seu amor: dê presentes!
... e fugindo desse espírito de fraternidade globalizada, senhor herético, o senhor nos vem lembrar essa tal de “... onda conservadora e liberal que, desde os anos oitenta do século passado, tem assolado o Mundo...?”
mais uma vez, parabéns por um artigo de superior qualidade.
Herético: como não sei como estaremos até o Natal (“culpa” do tempo, esse pé-de-vento!), te desejo tudo de bom, meu irmão!
F.N.F!
rss! rss! rss!
Feliz Natal Fraterno!
o senor Sócrates ficou muito mal no "retrato"....achei podre de "deselegante"....!
____________________
boa tarde.
obrigada. pela simpatia....:))))no Piano.
O melhor é calar-me, que destas coisas pouco sei. Mas é bom ler-te.
O Senhor Socrates não quer ficar sozinho no plantel dos socialistas "Blair" e forçou a nota para ficar no retrato com a senhora Segulème - ao que ela gostosamente aquiesceu, pois a rapariga não destoa nesse ramalhete. De qualquer modo, apesar de não se esperar nada deses socialistas rendidos ao neoliberalismo, há uns que o são menos do que outros. è que, pelo menos nas palavras, Jacques Delors tem um dicurso bem diferente do de e Sócrates.
Támbém abordei este tema no meu post de ontem, mas só numa curta ferroada. Nada que se pareça com esta completa e avisada análise.
Com que então, amigo do meu irmão
José Augusto Gouveia? Na verdade o mundo é bem pequeno. Foi uma surpresa para mim, mas tendo em conta as tuas análises, tem lógica terem sido amigos-
Obrigado pela visita e oelos comentários
Há muitas coisas que infelizmente não condizem, meu amigo!
Sempre que oiço Sócrates falar em "reformas" percebo "retrocessos", sempre que oiço "equilíbrio financeiro" entendo "mais pobreza". Devem ser os meus ouvidos cansados...
Vamos ver se a elegante e afirmativa Senhora pensa mesmo concretizar o seu discurso mais realista e mais humanizado. Vejamos.
Tema de interesse e, como sempre, inteligentemente abordado.
Nada de novo afinal!...
Ségoléne fala da sede desesperante de coerência... da necessidade de controlar o livre curso do liberalismo monetarista ou do que agora lhe queiram chamar... também Sócrates falava de muita coisa na campanha eleitoral, e via até, a incongruência de aumentar impostos... estaria nessa altura, longe de se imaginar - enquanto 1º minístro -, a aumentar o IVA ou a participar como actor principal naquele espectáculo com honras de transmissão televisiva em directo, em que ao lado do Belmiro, carregou no botão para implodir um prédio...
Actores contratados, por produtores sem pátria, por financiadores, de campanhas e congressos, de espectáculos cheios de luz e côr, bandeiras e largadas de balões ao ar para que a malta gosta de olhar, e olha... os políticos, os políticos eleitos, seguidos de perto, dirigidos e apoiados por batalhões de assistentes que lhes redigem os discursos moldam as ideias e lhes branqueiam o passado, a alma, os dentes... cumprem o papel para que estão vocacionados, de rabo preso. Compreendem perfeitamente que a realidade que hoje vivem é sempre bem diferente daquela outra do passado em que enquanto candidatos, sentiam o coração acelerar em trôpegas cavalgadas no lombo do Rocinante.
E nós?! Nós, os novos senhores com o poder de consumir ou não, de alimentar ou não os produtores deste espectáculo inflamável e florescente, desta permanente largada de balões ao ar... que fazemos? Podemos ou não olhar em frente em vez de olhar p'ró ar? Estaremos nós à altura de sermos coerentes?
bom dia!!!!!!!!!!!!!
bom dia cultura. plítica . e não só.
passo para agradecer a fidelidade....com um beijo....:))))
Desejo uma óptima semana
Não consigo comentar. Abraço.
Pinto Ribeiro.
Agradeço, a quem deseje comentar e não esteja ainda na versão beta, que tente a opção "other" ou o faça como anónimo deixando o seu url.
Há um problema qualquer que o Blogger ainda não conseguiu resolver. Obrigado.
Passei para ler-te e comentar mais uma vez...
Está dificil comentar
Abraço ;)
Até quando vai durar impunemente esta porca vergonha e se irá meter a Igreja católica na sacristia?
Bom fim de semana.
Josefa Pacheca Pereira
Concordo contigo, ainda que parcialmente.
O nosso Primeiro-ministro poderia ter dito o que a Ségoléne disse e continuar a fazer o que tem feito até agora. Nada mudaria de essencial. Mas seria estrategicamente errado. No meu ponto de vista, ele está no caminho certo na linguagem que utiliza pois, assim, não afugenta o apoio que actualmente tem de muito eleitorado de direita (PSD e CDS).
Vais ver que a candidata francesa do PS, quando chegar ao poder (é mais que certo...), terá um discurso completamente diferente. Porque o poder não radical implica muita flexibilidade, principalmente na linguagem utilizada.
Bom fim-de-semana.
Um abraço.
PS:
Este comentador está meio estranho...
Pelo que percebi tenho que meter o endereço de e-mail do google e depois o link não funciona...
Nilson Barcelli
nimbypolis.blogspot.com
nnnnnnnnnnnnnão.....mais um blog beta...........
já sei que não entro....
que coisa....
ufffffffffff
bom fim de semana....
vou ali ver se sim...
vá lá entrei...como anónima mas antes isso que zero....
:))))
aquela ali mesmo em cima sou eu....um Piano aos berros....
de raiva...
beijo.
piano.isa.
só te digo: quem assim flaa não e gafo. Muito menos no pensar e, como costuma dizer uma amiga: muito bem esgalhado.
Obrigada, amigo resistente, pela tua passagem e testemunho no ORGIA apesar da..."crise" por aquelas bandas.
Bom f.s.
Bj. Luz e paz em teu caminhar k as sombras são muitas
Vim ler-te e desejar um Feliz Natal a ti e toda a Família.
Um abraço ;)
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