Investido na presidência da União Europeia, o primeiro-ministro de Portugal foi a Londres. Ficou então a saber que o senhor Gordon, o novo primeiro-ministro da Grã-bretanha, não aceita sentar-se à mesa com o senhor Robert Mugabe, presidente do Zimbabué, no decurso da almejada Cimeira Euro-Africana. E se a sua recusa levanta algum problema diplomático, ele, senhor Sócrates, que trate de o resolver... Enfim, reminiscências coloniais. Very british...
Foi, agora, a Paris o nosso engenheiro. Convidado de honra das comemorações do “14 de Julho” – o dia nacional de França, evocativo da “Tomada da Bastilha”. Vimo-lo - milagre da globalização! - a passar revista às tropas e sorridente na tribuna, glorioso, presidindo, lado a lado, com o Presidente da República Francesa e o Presidente da Comissão Europeia – outro, como ele, Eng. Sócrates, um ilustre português. Momento raro na história pátria: ”novos mundos ao Mundo” se perfilam nos coevos peitos ilustres lusitanos...
Porém, eu que, da nossa epopeia passada, guardo os avisos do “velho do Restelo”, receio bem que a amistosa pancadinha na face, recebida da aristocrática mão de “son ami” Sarkozy, traga ao nosso Eng. Sócrates o bíblico sabor do beijo de Judas.
Ou seja, que o nosso amável Eng. Sócrates seja empurrado, pela impoluta mão gaulesa, para o calvário dos Balcãs e o vespeiro da independência do Kosovo, onde os interesses da França não são exactamente coincidentes com os interesses da Alemanha e, sobretudo, com a vontade de Bush...
Como se sabe, a questão da Kosovo, é consequência da desagregação da Jugoslávia, estimulada pelas potências ocidentais, após a morte de Tito. E hoje é lança apontada ao coração da Sérvia...
Anos atrás, a Alemanha, não dando cavaco aos seus parceiros comunitários, foi lesta a reconhecer a Croácia, sua antiga aliada nazi na 2ª Guerra Mundial. E, a partir daí, a tragédia da guerra nos Balcãs e os diversos genocídios, entre croatas, sérvios e bósnios, bem presentes ainda na memória da actualidade.
Em 1995, os Estados Unidos para imporem a paz na Bósnia convenceram Milosevic a retirar o tapete aos sérvios bósnios, o que aconteceu; em troca, diminuiu a pressão sobre a Sérvia no Kosovo...
Dois anos mais tarde, porém, a NATO, empurrada pelos Estados Unidos, bombardeou a Sérvia e desfez-se de Milosevic. E o Kosovo, província autónoma e berço da nacionalidade sérvia, passou a ser administrado, por um sucessão de representantes do Secretário-geral das Nações Unidas, por entre mútuas limpezas étnicas entre sérvios e kosovares, agora controladas pela força de armas internacionais.
Encurtando razões. No xadrez de interesses e no jogo de sombras que, historicamente, se têm dirimido nos Balcãs, a França tem sido aliada permanente da Sérvia. E se for coerente com os seus tradicionais assomos de independência, não aceitará de bom grado o diktat de Bush sobre uma solução para o Kosovo que não tenha o acordo da Sérvia.
Entretanto, os tempos mudam, mas os interesses prevalecem. A União Europeia pretende afirmar-se e o Eng. Sócrates gosta de fazer peito. Boas razões para um convite. Porventura, não foi um rei de França (herético eheheh) quem disse que “Paris valia uma missa”?!...
segunda-feira, julho 16, 2007
A Saga Europeia do Eng. Sócrates
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20 comentários:
Hoje quero deixar gravado que gosto do que escreve e acima de tudo da forma omo escreve.
Um abraço e um obrigada
Explicado assim...até um simples engenheiro entende! Aquele riso amarelo só pode querer dizer "Aqui procuro harmonia/tal como lá busco a social-democracia". Na verdade, há sempre uma batata a murro à nossa espera. Mas que importa? Temos um deus Durão
que nos há-de proteger
ou o D. SXebastião
resolverá aparecer...
Que coisa...saiu-me um versejar palerma e o X no Sebastião!
Estarei eu de volta às origens? Ou seja, a analfabetar, já que leio impossíveis quando olho a televisão. Nem sei que "espressão" usar hoje. Abraço eclético, amigo herético.
Vou embora, vou partir
quando estou assim
o melhor é ir dormir!
os novos "mon ami"
Além do que aqui dizes sobre o Senor Sócrates e outros que tais, gostei da forma como o dizes. Execelente texto em que a ironia sobressai
abraço
Um prazer ler este texto em que sobressai alguma mordacidade. Pertinente, diga-se.
Os tempos mudam mas os homens continuam iguais. Como pode ser? Não há sinais dos tempos nas suas mentalidades?
Beijinhos
Vale bem a pena comparar tudo o que relatas com a meia dúzia de anos anteriores à II Guerra Mundial!! :)
Abraço.
Sophiamar,
saúdo a tua presença. grato.
falei de "interesses". não disse que os "homens continuam iguais". distração tua... rss
Muito em apanhado!!!! Foi Filipe IV ou Carlos? Raimundo?
Beijinhos
Cris
Ora, bom dia! Abraço.
Gostei da forma como movimentas as peças neste jogo de xadrez disfarçado.
Bjos*
A sorte do "ingenheiro" é o que a sua importância só dura seis meses!
Hoje deixei o 100º post. O meu obrigada é para ti e para outros(as) que, como tu, compreendem e mimam os que querem, gostam e ainda são capazes de sonhar.
Beijinhos embrulhados em abraços.
Essa de Paris precisar duma missa...
Quem és tu que tão bem satirizas as ridículas ambições com que se debatem os tão pouco poderosos políticos deste país? Não digas como o outro :"Ninguém", que isso de Romeiro é coisa antiga... :)
As ambições do engenheiro podem levá-lo a pôr-se em bicos de pés entre os pares europeus, mas uma coisa me parece certa: cá dentro, a Presidência da UE vai pagar-se com seis meses de problemas adiados.
Gostei (muito) do teu post.
Beijos
Adoro as tuas 'análises' sobre a internacionalidade das políticas, e a tua mente bem desperta para todos os 'fait-divers' em q os políticos gostam de envolver os povos... para melhor os dispersar!
Ser 'velho do Restelo' com este espírito arguto ñ é 'pecado' :-)
Afinal, estás bem virado para evolução dos povos e do Mundo!
Apenas temes q a História se repita... mas todos nós tememos... santos de todos os países!! Estendei mais 'espiritualidade entre os povos'!
Mt sensibilizada pelo teu olhar sensível em meu espaço!
bjs fraternos
...nada a ver com 'la fraternité de nos amis français' ;)
Deves ter algum complexo relativamente ao Sócrates...
O texto teria ficado brilhante sem as tuas "alfinetadas" ao nosso primeiro ministro, que mais não faz que cumprir os protocolos que todos os outros já cumpriram nas presidências anteriores.
Claro que ele não vai resolver o problema dos Balcãs, pois é para ser ultrapassado, a correr bem, em muito mais tempo. Mas se conseguir o tratado, é uma lança em África...
Um abraço.
Meu caro Nilson,
nada pessoalmente contra o senhor Sócrates, que como primeiro ministro do meu país tenho o dever cívico de respeitar. e respeito.
mas não me revejo nas suas políticas, nem nas suas poses de brilho(zinho) de peschibeque... privilégio de quem não está dependente dos poderes de ocasião. que queres?! nem todos poderemos dar-nos a este "luxo"...
sei que me vais conceder o direito a umas "alfinetadas", pois estou longe de te imaginar numa qualquer Direcção Regional de Educação ou num qualquer Centro de Saúde no norte, enviando msg para o Palácio de S. Bento...
grato pela apreciação.
Abraços
OBVIAMENTE - A FORMA E O CONTEÚDO
QUANTO AOS ALFINETES NO SÓCRATES
QUE NUNCA FALTEM OS ALFINETES
os tempos mudam?!
um abraço fraterno,
batista
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