Ao que consta, Henry Kissinger, célebre político e universitário norte-americano, que durante décadas esteve na ribalta da política mundial, terá afirmado que “quem controla o petróleo, controla as nações; quem controla os alimentos, controla as pessoas”. Julgo serem de evitar sempre análises simplistas. Mas a cínica afirmação, esclarece, porventura, muitos dos aspectos da actual crise económica mundial.
Deixemos de lado, a questão do petróleo, cujo controlo tem servido de pretexto para guerras e conflitos, como bem sabemos. Fixemos apenas na questão da fome e do progressivo empobrecimento dos países dependentes do capitalismo mundial.
Como vem sendo notado, a humanidade encontra-se numa crise económica e social, de uma escala sem precedentes. Muitas economias nacionais estão em colapso e o desemprego aumenta em flecha. A fome agrava-se na Africa subsaariana, no sul da Ásia e em muitas regiões da América Latina.
Michel Chossudovsky, num livro conhecido, - “A Globalização da Pobreza” - considera haver dois aspectos interrelacionados que determinam a actual crise alimentar global. Em primeiro lugar, a reestruturação económica global que tem contribuído para baixar o nível de vida, tanto nos países em desenvolvimento, como nos países desenvolvidos.
Em segundo lugar, as condições de pobreza de grandes massas humanas têm sido exacerbadas e agravadas pela recente subida nos preços dos cereais que, nalguns casos, chegaram à duplicação do preço dos produtos alimentares básicos. Estas brutais subidas de preços resultam, sobretudo, do comércio especulativo nos produtos alimentares.
De facto, os rendimentos dos agricultores, tanto nos países ricos como nos países pobres, são espremidos por um punhado de empresas globais agro-industriais, que controlam, simultaneamente, os mercados de cereais, os abastecimentos agrícolas, as sementes e os alimentos processados. E, no entanto, a agricultura mundial tem, pela primeira vez na história, a capacidade de satisfazer as necessidades alimentares de todo o planeta.
Assim, a “globalização da pobreza” – contrariamente, ao que é veiculado na comunicação dominante - não é fenómeno recente; pelo contrário, é consequência do processo de reestruturação do “mercado livre” do início dos anos 80 e das brutais reformas económicas imposta pelo FMI – Fundo Monetário Internacional aos países do Terceiro Mundo ou em vias de desenvolvimento.
A partir dos anos 90, a crise alargou-se a todas as regiões do mundo, incluindo a América do Norte, a Europa ocidental, os países do antigo bloco soviético e aos “países recém-industrializados” do sudeste asiático e do extremo oriente.
A pobreza e a subnutrição crónica são condições inerentes ao sistema capitalista. As recentes subidas dos preços alimentares contribuíram apenas para exacerbar e agravar a crise alimentar. A proclamada “nova ordem mundial” alimenta-se, fundamentalmente, da pobreza de muitos para benefícios de uns poucos...
Como consequência, há milhões de pessoas em todo o mundo que se encontram impossibilitadas de adquirir alimentos para a sua sobrevivência. Segundo a FAO, o preço dos cereais aumentou 88% desde Março de 2008. O preço do trigo aumentou 181% num período de três anos. O preço do arroz aumentou 50% nos últimos três meses...
Estes aumentos brutais dos preços dos alimentos estão a contribuir, sem qualquer retórica, para a “eliminação dos pobres” através da “morte pela fome”. Pessoas descartáveis, portanto. Modernas formas de genocídio, com que o capitalismo “brinda” a Humanidade...
Kissinger, na sua brutal afirmação, arrisca-se a figurar como inspirador dos modernos campos de extermínio, não vos parece?! ...
domingo, maio 11, 2008
“A Globalização da Pobreza”
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28 comentários:
Isto é a crónica de um extermínio anunciado, não é? Há uns tempos largos que sabemos disto, não sabemos? E agora? Continuamos o anúncio com esta terrível sensação de inutilidade? Diria mesmo que há um tremor palpável à nossa volta. Assustador.
Eu também "tive um sonho", bolas!!...
Obrigada. Abraço.
'... há milhões de pessoas em todo o mundo que se encontram impossibilitadas de adquirir alimentos para a sua sobrevivência...' - isso é o que mais me aflige!
Começo a ver em Portugal situações 'humilhantes' para qualquer ser humano!
'...“eliminação dos pobres” através da “morte pela fome”. Pessoas descartáveis, portanto. Modernas formas de genocídio, com que o capitalismo “brinda” a Humanidade...'
Meu Deus! Mas isso é tão verdade e tão horrível! Como a Humanidade regride a passos largos :(
Arrepiante 'peste negra'...
Há uns meses, li uma obra de Umberto Eco que fazia alusão a esse aspecto 'A Passo de Caranguejo'!
Sensibilizada pelo teu olhar amistoso em 'fragmentos'!
Um beijo
... o poema não é conhecido...
o menino retirou-me do meu remanso de domingo à noite. mas fez bem. fico arrepiada. nunca entendi nem vou entender as opções que levam a isto. bem se diz que o impulso que leva o homem à transcedência, a fazer coisas boas e convenientes, é da mesma natureza do que o impele para o disparate. A instância ética nunca dominou. A política falha...e, apesar de no cômputo geral o processo humano ser ascencional...creio que estamos numa rampa descendente...
Começa a correr um vento de inquietação relativamente a esta matéria, talvez porque só agora as pessoas se dão conta de que a ameaça é real. Mas o pior é a sensação de impotência. Que fazer? Pressionar para que uma mudança ainda venha a tempo? Como? Tenho medo do mundo que deixo para as minhas filhas.
Esse cavalheiro ficará conhecido pelo grande mentor do vale tudo, para impor as novas regras e perpetuar a manutenção da riqueza de uma parte do mundo à custa de outra.
A História não o vai absolver.
mais uma bela análise...um olhar lúcido sobre uma realidade com que nos defrontamos
boa semana
beijos
Tenho uma surpresa lá no meu blog. Espero que goste.
Áté amanhã se Deus quiser.
A pseudo-crise alimentar só existiu para ajudar a economia norte americana. Entretanto a fome aumenta e aquilo qeu era uma especulação passa a ser real...
Caro amigo,
Estava a ler o teu post... não comentei e saí.
Comentei-o no meu sítio, com o que me sugeriu, tal como digo, num primeiro embate!
[BEIJO]
e agora com os alimentos mais caros vai ser a catástrofe! será que não podemos fazer nada?
Estamos à beira de uma das maiores crises económicas de que há memória. A primeira do século XXI, quase cem anos após a grande crise de 1929. Há uma instabilidade crescente à nossa volta, sentimos a fome a aproximar-se e não auguro nada de bom. Sem querer ser uma profeta da desgraça,vejo que o fosso entre ricos e pobres é cada vez maior. Estamos numa rota de morte. Caminhamos para um extermínio daqueles que produzem, que são mão-de-obra, que fazem falta em qualquer sociedade.
Beijinhos
só tu para me fazeres lembrar, dum modo simples e directo de quão fátuas são as minhas brincadeiras blogueteiras e os meus fait-divers frívolos q nada de melhor fazem do q me ajudar a enterrar a cabeça na areia ...
bjnhs
Amigo Herético
Os teus textos são sublimes!
Continuas com os teus dotes a ajudar-nos!
Beijão
Gosto muito de ler estas tuas reflexões.
Uma análise muito bem feita do problema.
Há de facto razão para nos preocuparmos não só porque o problema existe, mas também porque há quem muito deseje que ele exista... Assusta.
Um abraço
Os seus posts fazem parte do serviço público existente na blogosfera. A pobreza, o desemprego, a fome são alguns dos problemas mais graves deste século. Sempre existiram mas nunca como agora foram tão assustadores. O novo riquismo e a pobreza extrema são de contraste aviltante.Caminhamos para um abismo de consequências imprevisíveis.
bjo
Um excelente texto sobre uma das trágicas realidades que deviam preocupar toda a gente.
Parabéns
Um abraço
Quando escrevi isto
http://aluaflutua.blogspot.com/2008/04/uma-terra-muitos-mundos.html ,
estava precisamente a pensar nisto que, tão bem, aqui escreveste.
Um nojo, é o que é, esta situação!
se deus existisse ao menos...
[ mas não: estamos mesmo sós...
isto é entre homens entre nada...
beijO
Herético, o que escreves é a denúncia necessária, urgente, daquilo que os donos do poder estão a fazer: um crime hediondo e repugnante contra a humanidade, e como tal temos o mundo entregue a um punhado de criminosos.
Teremos força de exterminá-los, antes que eles nos exterminem?
Não estava a esperar outra coisa,
da parte desse figurão.
Já sei que quando se inventam novas siglas, respeitantes à "ordem mundial", quando os reis dos grandes vão em visita a países pequenos, quando se reunem para estudar a situação dos países do 3º mundo, é sempre exclusivamente para estudar a maneira de sacar ainda mais, sob uma qualquer capa de investimento, ajuda económica ou outra.
Só não vê quem não quer.
Um abraço.
O Kissinger foi um grande político, mas, dentro dos "padrões" norte-americanos.
Não sou religioso, como sabe, mas é nestas horas que acho o Livro das Revelações natural, quando menciona os quatro cavaleiros do apocalipse:
1) O neo-liberalismo... ops,quero dizer, o anticristo;
2) Guerra. Mais óbvio, impossível!
3) Fome e Miséria. Elementar!
4) Morte. Conseqüência dos anteriores.
O neo-liberalismo tem uma senha, Herético, e desconfio que o número é 666.
Enquanto isso, do lado de cá do Equador, o nosso ilustre presidente estimula agricultores a reverterem suas lavouras produtoras de grãos para plantar cana-de-açucar, e exportar etanol para a Europa, USA e China.
Somos um dos maiores produtores de grãos do mundo, contudo, com esta "baixa", não há dúvidas, maior procura + menor oferta = maior preço. Consequência: fome, choro e ranger de dentes.
Quem viver verá.
Um abraço!
Há palavras que nos fazem sentir pequenos seres...
Excelente post!
Beijinho*
comprar produtos nos supermecados para matar a fome!!
comprar senhas nos supermecados para enviar víveres!!
e as pessoas alinham nisso!!
não prcebem que isso é gozar com toda a gente!?
se "eles" quisessem acabar com a fome já o teriam feito há muito tempo.
será que ninguém ainda percebeu isso?
vejam angola.
quantos filhos da puta a gozar com o povo.
e quantas angolas por esse mundo fora...
Não parece, é! - mas o capitalismo vai acabar por implodir... e o que acontecerá depois é imprevisível.
Abraço.
Como sempre, um grito de lucidez no pântano do conformismo.
De cada um segundo as suas possibilidades e neste constrangimento, ainda que transcendente, dos blogs, o teu exemplo voa alto.
Força, amigo! A denúncia da iniquidade não se mede em audiências, mas em coragem e desassombro.
Um grande abraço.
É. Os pobres morrem mais.
Leio tudo, leio sempre.
Aqui deixo o meu medo, futuro medo de hoje.
Esse homem (esses homens) delineou um plano, há décadas - tudo lembrado, o polvo regenera o tentáculo que perde.
É simples, em nome da "liberdade": posso queimar o meu celeiro para ter mais gasolina. Se sobrarem grãos, envio-os nos meus aviões com grandes letras.
As décadas vão passando.
É assustador, sim.
Há somente vozes e palavras, a luta não é de guerrilha pelo território: é de guerra aberta pelo poder mundial.
Tua análise transparente.
Eu... só posso juntar-me ao coro.
Abç
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