sábado, julho 05, 2008

O meu amigo Zeca ao "ataque" na net...

O meu amigo Zeca, alentejano de Beja, economista, solteirão impenitente e bon vivant veio de visita, um destes dias, cá a casa...

O Zeca apareceu - imaginem! - acompanhado da Mitó. Claro que minha mulher e eu próprio ficamos radiantes. A Mitó e a minha mulher são amigas de infância e ambos temos sincera amizade por um e pelo outro. Esclareço que, se o Zeca alguma vez esteve tentando na vertigem do casamento, foi seguramente com a Maria Antónia...

A Mitó, porém, tem um filho, produto de um breve casamento com o Peter, um inglês que a nossa amiga descobriu na bruma londrina, quando, finda a licenciatura em Germânicas, foi para a Grã Bretanha aperfeiçoar seu inglês e curtir o desgosto pelo Zeca...

O rapaz saiu moreno e trigueiro, em vez da loira cabeça e da pele deslavada do Peter. Costumo irritar minha mulher, quando a (des)propósito gracejo que o filho da Mitó é o inglês mais parecido com um alentejano, que eu alguma vez conheci. Tenho então resposta agastada : “Lá estás tu com as tuas parvoíces. A Mitó e boa rapariga!”... Como se eu dissesse o contrário!...

Mas retomando o fio. O Zeca está a ficar entradote. Engordou. As pálpebras pesadas denunciam cansaço das noitadas e dos excessos da culinária, de que o Zeca é expert... (Ainda lambo os beiços com a perdiz estufada e feijoada de lebre que, algum tempo atrás, o Zeca preparou para um grupo de amigos no seu apartamento debruçado sobre o Tejo).

Perante o seu ar “carregado” não resisti à provocação - “Tens que te “aviar”, pá!... ” - disparei-lhe, acentuando os subentendidos.

O Zeca encolheu os ombros fixou-me, num olhar sonolento, semi desdenhoso: - “Gajas é que não me faltam, que é que tu julgas?!...”. E, triunfante: - “Até na net, se me der na real gana!”...

E eu, roendo-me num gozo antecipado: - “Não me digas que agora te ficas por “virtualidades”... Com franqueza, pá. Estás mesmo a ficar velho...”

Então, o Zeca soltou uma inesperada gargalhada: - “Mal tu imaginas!... Tenho uma boa para te contar!..” E, como as mulheres se aproximavam, acrescentou, prudente, perante a minha curiosidade: - “Conto-te depois de almoço!...” .

E contou. Entre dois cálices de conhaque, uma sonolenta partida de xadrez e a voz cálida de Ella Fritzgerald em fundo, enquanto as mulheres cirandavam pela casa e tricotavam uma dessas conversas infindáveis, alheias a tudo, que não seja ouvirem-se, o Zeca contou esta “estória”deliciosa.

O Zeca manteve, algum tempo, assíduas e tórridas conversas na net com uma menina, residente algures no País. Trocaram fotos e promessas. O Zeca, porém, tipo experiente e fiel ao seu princípio que “elas que hão-de vir comer à mão” recusou sempre fazer a distância do encontro. Mas confiante, persistia no namoro.

- “ Que queres? A tipa era gordinha e tu bem sabes que não resisto a uma gordinha!...” – acrescentou, em confidência.

“Claro, Zeca, claro!... quem poderá resistir a uma gordinha?!... – gargalhava eu, ansiando pelo desfecho...

Na primeira oportunidade, a moça vem a Lisboa. De véspera, colocara o Zeca de sobreaviso. Mal chegou deu conta do hotel e do número de quarto onde se instalara. O Zeca afiou o dente...

E lá foi ele perante o telefonema solícito e ansioso da “gordinha”. Confessou o Zeca que à entrada do hotel teve um pressentimento. Estava fora dos seus esquemas passar ao ataque completamente às escuras ... - “E se a gaja... e se... e se...”– inquietava-se, fantasiando cenas macacas...

Mas avançou afoito. Subiu descontraído o elevador. No fundo do corredor o almejado campo de batalha. Do outro lado da porta, o convite sedutor de uma voz feminina: - “Entra, a porta está aberta...”

Nesta altura, o Zeca ria até a exaustão, como o bom humor que o caracteriza. Espapaçada na cama, nua como uma odalisca, derramando em cascata banhas sobre a colcha, a “gordinha”, com toneladas de peso, abria-se, concupiscente, ao “pobre” Zeca. Uma monstruosidade, garantiu-me...

Sacudido pelo riso, apenas pude balbuciar : - “E como te safaste, pá. Imagino que não não foste cair-lhe nos braços...” ; e, a apurar a picardia, gargalhei : “ou será que caiste de queixos!...” -

“Como me safei?!...” - retorquiu, inspirado: “Jurei-lhe que era gay e saí, sem olhar para trás, mal tive ocasião...” - rematou, bebendo o resto do conhaque.

Assim me contou o Zeca, sem tirar nem pôr. Para seu (e meu) desalmado gozo...
.....................................................................

Mais tarde, saíram juntos como chegaram, o Zeca e a Mitó. A minha mulher foi à janela vê-los partir e regressou com um sorriso misterioso: - “Sabes que o Zeca segurou a mão da Mitó e partiram de mão dada?!..” disse-me, enquanto levantava os cálices. “Quem sabe se não será desta!...”- suspirou, esperançosa...

Acontece aos melhores, filosofei para os meus botões...

10 comentários:

Eme disse...

E não faltou!!! És o maior. Como é que consegues prender-me sempre às tuas histórias?
Grande Zeca, aposto que para a próxima pensa duas vezes antes de se meter com as gajas da net. Assim sem mais nem menos directo ao hotel, catano, os alentejanos até são modernos.

Ah.. e a Mitó é elegante?

risos

gosto mesmo destas sagas do Zeca. são tão.. sei lá, "noveliscas", bisbilhotantes :)

Beijo para ti

Manuel Veiga disse...

m.

o Zeca é o "maoir". sem dúvida!

o "heretico" nem por isso...

em verdade nem sabe esclarecer o que te "prende as suas histórias". mas promete pensar no assunto... rsss

Eme disse...

Goz(ãaoooo)!!

gargalhada

luis lourenço disse...

Tanto o Zeca como herético são fantásticos-o Zeca na arte de bon vivant e o herético na arte da escrita.
Não sei se um se confunde com o outro...mas que são dois companheiros imperdíveis...com muitas histórias para contar...isso parece-me indubitável.

abraços

mdsol disse...

Então tá! Tá?

Anónimo disse...

e filosofaste muito bem...
mas olha o que eu encontreino blog da sofia mar

"li algures (nem me perguntes quando) que a matemática é genuína poesia!..."

nã,nã
a poesia é que é pura matematica e olha que devo ter lidono mesmo sitio que tu mas nao me perguntes onde
beijinhos

Tinta Azul disse...

Gostei da parte final, já fora da história. Do Zeca.
De mão dada com a Mitó.
:)))

O Zeca lê o teu blog? :))))

jrd disse...

Logo havia de lhe sair uma internauta vidrada no Mcdonald's.

**Viver a Alma** disse...

Salvé!
..."para seu e meu desalmado gozo"! - concordo em absoluto! - srsrsrs - peço desculpa, não consigo escrever mais nada!
...e o que mais virá por aí?! - srsrsr
Mariz

Jorge Castro (OrCa) disse...

:-)

Palavras para quê?

Com estes contos devias era aparecer nos encontros d'A Funda, onde a vida se faz de largos sorrisos.

Um grande abraço.

MÚSICA E FLOR

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