O meu amigo Zeca, alentejano de Beja, economista, solteirão impenitente e bon vivant veio de visita, um destes dias, cá a casa...
O Zeca apareceu - imaginem! - acompanhado da Mitó. Claro que minha mulher e eu próprio ficamos radiantes. A Mitó e a minha mulher são amigas de infância e ambos temos sincera amizade por um e pelo outro. Esclareço que, se o Zeca alguma vez esteve tentando na vertigem do casamento, foi seguramente com a Maria Antónia...
A Mitó, porém, tem um filho, produto de um breve casamento com o Peter, um inglês que a nossa amiga descobriu na bruma londrina, quando, finda a licenciatura em Germânicas, foi para a Grã Bretanha aperfeiçoar seu inglês e curtir o desgosto pelo Zeca...
O rapaz saiu moreno e trigueiro, em vez da loira cabeça e da pele deslavada do Peter. Costumo irritar minha mulher, quando a (des)propósito gracejo que o filho da Mitó é o inglês mais parecido com um alentejano, que eu alguma vez conheci. Tenho então resposta agastada : “Lá estás tu com as tuas parvoíces. A Mitó e boa rapariga!”... Como se eu dissesse o contrário!...
Mas retomando o fio. O Zeca está a ficar entradote. Engordou. As pálpebras pesadas denunciam cansaço das noitadas e dos excessos da culinária, de que o Zeca é expert... (Ainda lambo os beiços com a perdiz estufada e feijoada de lebre que, algum tempo atrás, o Zeca preparou para um grupo de amigos no seu apartamento debruçado sobre o Tejo).
Perante o seu ar “carregado” não resisti à provocação - “Tens que te “aviar”, pá!... ” - disparei-lhe, acentuando os subentendidos.
O Zeca encolheu os ombros fixou-me, num olhar sonolento, semi desdenhoso: - “Gajas é que não me faltam, que é que tu julgas?!...”. E, triunfante: - “Até na net, se me der na real gana!”...
E eu, roendo-me num gozo antecipado: - “Não me digas que agora te ficas por “virtualidades”... Com franqueza, pá. Estás mesmo a ficar velho...”
Então, o Zeca soltou uma inesperada gargalhada: - “Mal tu imaginas!... Tenho uma boa para te contar!..” E, como as mulheres se aproximavam, acrescentou, prudente, perante a minha curiosidade: - “Conto-te depois de almoço!...” .
E contou. Entre dois cálices de conhaque, uma sonolenta partida de xadrez e a voz cálida de Ella Fritzgerald em fundo, enquanto as mulheres cirandavam pela casa e tricotavam uma dessas conversas infindáveis, alheias a tudo, que não seja ouvirem-se, o Zeca contou esta “estória”deliciosa.
O Zeca manteve, algum tempo, assíduas e tórridas conversas na net com uma menina, residente algures no País. Trocaram fotos e promessas. O Zeca, porém, tipo experiente e fiel ao seu princípio que “elas que hão-de vir comer à mão” recusou sempre fazer a distância do encontro. Mas confiante, persistia no namoro.
- “ Que queres? A tipa era gordinha e tu bem sabes que não resisto a uma gordinha!...” – acrescentou, em confidência.
– “Claro, Zeca, claro!... quem poderá resistir a uma gordinha?!... – gargalhava eu, ansiando pelo desfecho...
Na primeira oportunidade, a moça vem a Lisboa. De véspera, colocara o Zeca de sobreaviso. Mal chegou deu conta do hotel e do número de quarto onde se instalara. O Zeca afiou o dente...
E lá foi ele perante o telefonema solícito e ansioso da “gordinha”. Confessou o Zeca que à entrada do hotel teve um pressentimento. Estava fora dos seus esquemas passar ao ataque completamente às escuras ... - “E se a gaja... e se... e se...”– inquietava-se, fantasiando cenas macacas...
Mas avançou afoito. Subiu descontraído o elevador. No fundo do corredor o almejado campo de batalha. Do outro lado da porta, o convite sedutor de uma voz feminina: - “Entra, a porta está aberta...”
Nesta altura, o Zeca ria até a exaustão, como o bom humor que o caracteriza. Espapaçada na cama, nua como uma odalisca, derramando em cascata banhas sobre a colcha, a “gordinha”, com toneladas de peso, abria-se, concupiscente, ao “pobre” Zeca. Uma monstruosidade, garantiu-me...
Sacudido pelo riso, apenas pude balbuciar : - “E como te safaste, pá. Imagino que não não foste cair-lhe nos braços...” ; e, a apurar a picardia, gargalhei : “ou será que caiste de queixos!...” -
“Como me safei?!...” - retorquiu, inspirado: “Jurei-lhe que era gay e saí, sem olhar para trás, mal tive ocasião...” - rematou, bebendo o resto do conhaque.
Assim me contou o Zeca, sem tirar nem pôr. Para seu (e meu) desalmado gozo...
.....................................................................
Mais tarde, saíram juntos como chegaram, o Zeca e a Mitó. A minha mulher foi à janela vê-los partir e regressou com um sorriso misterioso: - “Sabes que o Zeca segurou a mão da Mitó e partiram de mão dada?!..” disse-me, enquanto levantava os cálices. “Quem sabe se não será desta!...”- suspirou, esperançosa...
Acontece aos melhores, filosofei para os meus botões...
sábado, julho 05, 2008
O meu amigo Zeca ao "ataque" na net...
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10 comentários:
E não faltou!!! És o maior. Como é que consegues prender-me sempre às tuas histórias?
Grande Zeca, aposto que para a próxima pensa duas vezes antes de se meter com as gajas da net. Assim sem mais nem menos directo ao hotel, catano, os alentejanos até são modernos.
Ah.. e a Mitó é elegante?
risos
gosto mesmo destas sagas do Zeca. são tão.. sei lá, "noveliscas", bisbilhotantes :)
Beijo para ti
m.
o Zeca é o "maoir". sem dúvida!
o "heretico" nem por isso...
em verdade nem sabe esclarecer o que te "prende as suas histórias". mas promete pensar no assunto... rsss
Goz(ãaoooo)!!
gargalhada
Tanto o Zeca como herético são fantásticos-o Zeca na arte de bon vivant e o herético na arte da escrita.
Não sei se um se confunde com o outro...mas que são dois companheiros imperdíveis...com muitas histórias para contar...isso parece-me indubitável.
abraços
Então tá! Tá?
e filosofaste muito bem...
mas olha o que eu encontreino blog da sofia mar
"li algures (nem me perguntes quando) que a matemática é genuína poesia!..."
nã,nã
a poesia é que é pura matematica e olha que devo ter lidono mesmo sitio que tu mas nao me perguntes onde
beijinhos
Gostei da parte final, já fora da história. Do Zeca.
De mão dada com a Mitó.
:)))
O Zeca lê o teu blog? :))))
Logo havia de lhe sair uma internauta vidrada no Mcdonald's.
Salvé!
..."para seu e meu desalmado gozo"! - concordo em absoluto! - srsrsrs - peço desculpa, não consigo escrever mais nada!
...e o que mais virá por aí?! - srsrsr
Mariz
:-)
Palavras para quê?
Com estes contos devias era aparecer nos encontros d'A Funda, onde a vida se faz de largos sorrisos.
Um grande abraço.
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