Como se sabe, a farra especulativa da Wall Street e de outras capitais da finança provocou uma formidável crise financeira mundial, da qual, dizem os entendidos, ainda não saímos. As notícias, que tombam em tropel, dão-nos conta que, ao longo das últimas semanas, a AIG, a maior companhia seguradora do mundo, com um milhão de milhões de dólares em activos, esteve a poucos horas da bancarrota. Antes, fora a Lehman Brothers, um prestigiado banco de investimento com 158 anos de idade, com 639 mil milhões de dólares em activos e 613 mil milhões de dólares em dívidas, que caiu na maior bancarrota da história dos Estados Unidos. A Merrill Lynch, outro pilar dos bancos de investimento com mais um milhão de milhões de dólares em activos, conseguiu evitar a bancarrota, depois de ser engolido pelo Bank of América
Quando a crise da bancarrota estava na sua fase mais aguda, as autoridades bancárias dos Estados Unidos defenderam que teriam de ser os banqueiros a resolver o problema. Entretanto, dando o dito pelo não dito, o governo dos EUA providenciou mais 85 mil milhões de dólares para salvamento dos bancos. É um sinal de crise e de fraqueza do liberalismo reinante. Outros dizem, a vingança de Keynes e da intervenção do Estado...
Mas enquanto a crise dos banqueiros produziu títulos sensacionais nas televisões e na imprensa mundial, com relatos dramáticos da agonia de um punhado de milionários e bilionários na Wall Street, os média do pensamento único deixaram de lado o drama real dos arrestos e despedimentos que afectam as vidas de milhões de trabalhadores. Centenas de milhares de milhões de dólares do Estado estão a ser repartidos pelos banqueiros por efeito de uma crise, que a sua ganância predadora provocou. Mas nenhum alívio, ou apoio financeiro, foi assegurado para as vítimas da indústria hipotecária da banca e dos seguros...
Nesta perspectiva, não deixa de ser significativo, que os media que choram sobre as agruras dos banqueiros ignore simplesmente um estudo recente intitulado “Estado do sonho: arrestado” (State of the Dream: Foreclosed), o qual demonstra que a crise dos arrestos nos Estados Unidos está a provocar a maior destruição de riqueza pessoal na história das comunidades afro-americanas e latinas.
Segundo o estudo, os mutuários afro-americanos perderam entre 71 e 92 mil milhões de dólares devido aos empréstimos contraídos ao longo dos últimos oito anos. Para a população latina é ainda mais elevado o valor das perdas que atinge valores na ordem entre os 75 e os 98 mil milhões de dólares.
Mas tão ou mais desastrosa que a crise financeira é a crescente crise da economia real. No meio da crise do crédito, foi anunciado que a produção industrial – a base do emprego e do rendimento das famílias – em Agosto caiu, nos Estados Unidos, o máximo dos últimos três anos. Houve uma diminuição de 1,1 por cento na produção das fábricas, das minas e serviços públicos. A produção automóvel caiu 12 por cento, a maior queda numa década. Mais de dois milhões de pessoas foram condenadas ao desemprego nos últimos 12 meses, elevando o total oficial para 9,4 milhões de desempregados.
Assim, por muito que os “sábios encartados” ao serviço do capitalismo global declarem não haver recessão, o contínuo crescimento do desemprego e o declínio da produção, sem consideração por quaisquer dos chamados “estímulos económicos”, demonstra exactamente o contrário...
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Entretanto, por cá, o Eng.º Sócrates clama, em comício político em terras de Guimarães, que nunca, em tempo algum “permitirá que o valor das pensões dos portugueses seja jogado na bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros...” . Leio que foi muito aplaudido, nesta passagem. Pudera!... Até eu, que não sou socialista, nem voto em Sócrates, aplaudiria sem rebuço...
Mas com o Eng.º Sócrates nunca fiando! É que, como qualquer (in)crédulo cidadão poderá verificar numa mera consulta a net, ao sitio da Segurança Social, 20,67% das reservas do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social, ou sejam, mais 1.562 milhões de euros estão aplicados em acções, sujeitas às flutuações dos mercados financeiros e entregues “aos caprichos” do jogo da bolsa, exactamente o oposto do que o Engº Sócrates jura que não irá permitir...
Quem andará a enganar o Engº Sócrates? Ou, colocando a questão de outro modo – quem pretende enganar o Engº Sócrates?!... É que, como muitos se lembrarão, o seu Secretário de Estado da Segurança Social, ainda recentemente, anunciou que iria colocar mais de 600 milhões de euros na “gestão privada”... Esperemos que, entretanto, não tenham “voado” na gestão “parcimoniosa” do BCP ou de qualquer Lehman Brothers, entretanto falido...
Porque se assim foi, já foram...
ver O colapso capitalista
terça-feira, setembro 23, 2008
Até quando?...
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19 comentários:
No comments...
"...com o "Ing.º" Sócrates nunca fiando! "...
Tenho dito.
Um abraço
parece recessão sim senhor! quem pagará esta maluquice da banca? nós, os que andamos para cá e para lá com as hipotecas.
O lamento dos lobos. A caçada tem sido farta, mas agora os carneiros estão a ficar tão magrinhos.
Difícil falar sobre este banquete.
Um beijo.
a "inventividade" da elite para salvar seus anéis - e dedos! -, é notória. infelizmente a educação popular inda não consegue fazer com que um grande contigente da população possa "resistir" às mentiras continuadas da grande mídia.
de todo modo não deixa de ser interessante observar a forma canhestra com que tentam explicar (deturpar) o óbvio... vai que mais menos dia chegam à brilhante conclusão que o responsável pela bancarrota financeira é o Bin Landen... ou Saddan, de onde quer que ele esteja!?... recrudesceria assim os bombardeios "inteligentes" no Afeganistão... restando tão somente promover a ressurreição de Saddan e suas sempre presentes "armas de destruição em massa".
quem (sobre)viver...
A tua análise é de uma lucidez arrepiante...Quando a árvore da política cresce cortando as raízes à etica...perde-se o discernimento vital entre o que é a verdade e os jogos da propaganda...e da mentira camuflada...Que o S.Pedro se faça escutar...E isto o Mundo?
abraços
errata:
É isto o Mundo?
:)
Leio os seus posts e bebo, sequiosa,a informação de quem sabe, naturalmente, da dimensão da crise mundial. Temo-a e não há quem me sossegue só com palavras. De discursos, estou farta!
Beijo
É crise, sim, e preocupante. Mais preocupante ainda que se gastem muitos milhões de dólares dos contribuintes para salvar, nem sequer a pele dessa "elite" financeira, quando muito os luxos com que a tratam.
Mas o alastrar da questão é que se torna motivo de preocupação. Por cá, não acredito muito no Engº Sócrates, não...
Herético, não percebo nadinha de economia mundial, nem de crash financeiro, nem de Euronext, nem de Dow Jones... mas, gostei muito de lê-lo neste tão lúcido e arripiante post.
mas, coitadinhos dos pequeninos, cada vez mais pequeninos...sempre!
bom resto de semana (espero que o seu fim-de-semana tenha sido óptimo... e sem pensamentos destes! rsrsrs...
gostei (muito) do poema infra )
um sorriso :)
mariam
Este assunto traz-me imensamente preocupado e será tolice acreditar que nos safamos. Aliás o PR já alertou para isso mesmo no seu discurso na ONU .
Inúmeras famílias portuguesas (1.500.000?)sofrem já com a impossibilidade de pagar os empréstimos contraídos, cortes nos vencimentos ou nas pensões e hipotecas.
A esses há que acrescentar o aumento do desemprego, consequência das falências das empresas.
Temo a eventualidade da falência de bancos, devorando os pequenos pecúlios ali depositados ao fim de uma vida de trabalho.
Como li em qualquer lado é o socialismo para os ricos e o capitalismo para os pobres...
Um abraço.
Lá (como cá) nesta espécie de naufrágios emerge sempre a lógica do "Titanic", deita-se a bóia e salva-se os mais ricos.
No more words! Que o menino posto a escrever, tem ideias e prosa bem esgalhadas!
:))
Extraordinário é, também, o facto de tanto cristão tentar convencer-nos da sua surpresa perante o actual descalabro. Para além das sucessivas crises deste excelso «mercado», tem havido sempre um «mercadoanalista» à mão para bombardear o povão com as magníficas virtudes do mercado, até na sua «auto-regeneração».
O que vemos mostra que o rei vai nu - o que já se sabia. Mas que os valetes também e as damas não lhes ficam atrás.
Perante tanta «nudez» fica a ironia do striptease ter sido levado a cabo pela própria corte, perante a passividade dos servos da gleba.
Essa passividade aliada à tal ironia chegará ao cúmulo de permitir que o bobo da corte espolie os últimos cêntimos dos distraídos para tentar comprar uns trapinhos que salvem a corte da vergonha da nudez...
É o que dá estruturarmos as nossas vidas não na realidade mas nas parábolas.
;-)
Um grande abraço.
A campanha eleitoral já começou!...
Diz-se o impossível, para conseguir a maioria, novamente.
A questão é saber quantos vão acreditar, desta vez.
[Beijo]
Pois...
Caro amigo! Bem sabe que a esquerda na minha vida, é história; sobretudo depois das aparições da ridícula trindade Lula, Chávez e Morales, coveiros do socialismo e redescobridores de um populismo tão nojento e demagógico que produziria enjôo até mesmo a Juan Peron, se vivo fosse.
Após a leitura deste post, deu saudades de uns caras que nem são do meu tempo: Smith, Malthus, Ricardo...
Um abraço!
errata: Perón
Hay que escribir, pero sin perder la ortografía correcta jamás!
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