Conforme os anais da vida política dos dias recentes, na Assembleia da República, dois deputados do bloco central, cada um em defesa da sua dama, que é como quem diz, cada um do outro lado da barricada da promissora (e subsidiada) indústria dos painéis solares, travaram-se de razões. Anónimos e anódinos, os deputados. Mas grandes os interesses e nada desprezíveis os subsídios. E, quando assim é, nesta coisa parlamentar, já se sabe, palavra puxa palavra, os brios até então encobertos na discrição das últimas filas do plenário, vêm ao de cima e... sai insulto mútuo.
E, então, quando a Assembleia da República extravasa o Palácio de S. Bento e a rua e o bairro que lhe estão associados para chegar aos cafés e aos noticiários, o País pasma e divide-se. Uns tantos na gargalhada. No moralismo bacoco tantos outros. Na insídia contra a democracia, a maior parte das vezes – uns malandros os deputados!...
Ao que parece, porém, foi um estardalhaço desmedido por parcas razões, pois que, no caso, é duvidoso que o desaguisado parlamentar acrescentasse algo de glorioso ao insulto português. Na realidade, conforme relatam fontes informadas, parece que o insulto não passou de uma pífia, de um assobio mudo, que apenas experts em leitura labial ou as legendas da televisão puderam revelar sua épica dimensão.
Garantem assim as fundadas fontes que, no seu estilo e brado, o desacerto parlamentar terá tido o colorido de um pátio de escola, em que adolescentes exacerbados teimam em que o seu esguicho chega mais longe que o do adversário, bem se sabendo que, em matéria de mijaretes, cada um fica com o seu...
Pois bem. Coberto de incertezas e de cinzas da Quaresma, venho, perante os meus leitores, fazer o elogio público do insulto político, cuja nobre ascendência sobe ao tempo do Senado romano e que, nos tempos modernos, tem tido eméritos cultores. Não há política sem retórica, onde a Palavra é uma arma, sem nunca perder a beleza e o seu poder encantatório.
Na história do nosso parlamentarismo existem, aliás, palavras vigorosas que fazem as delícias de quem percorre, por hábito de leitura, as “Farpas” do nosso Ramalhão Ortigão. E no circunspecto mundo anglo-saxónico, de democracias antigas e consolidadas, residem algumas das mais geniais “bengaladas parlamentares”. Winston Churchil e Clement Atllee, por exemplo, foram ferozes cultores do género, como ornamento da sua aura política.
Mas quem, nos dias de hoje, no nosso pequeno mundo político, assume o (bom) gosto da Palavra afiada e do elegante insulto? E, no entanto, talvez no caso, se justificasse o arremesso mútuo de um insulto que fez história, proferido no séc. XIX, pelo senador americano John Randolph, dirigindo-se a um adversário político: “nunca uma competência tão medíocre foi tão bem recompensada desde que o cavalo de Calígula foi nomeado Cônsul”.
E para que não se diga que sou apenas um “má língua”, que nada faz em prol da Pátria, imbuído da minha mais empenhada participação cívica, após operosa e atenta pesquisa, venho oferecer aos senhores deputados, protoganistas da cena em causa, alguns banais insultos, de que poderão lançar mão com proveito e, assim, dispensar o País (quiçá o Mundo) da excelência das suas banalidades e vulgaridades.
Ora vejam...
· Uma língua afiada não significa que tenhas o espírito interessante.
· És mesmo estúpido ou estás a fazer um grande esforço hoje?
· Cérebro não é tudo. No teu caso não é nada.
· Eu insultava-te mas acho que não irias notar.
· Não, não te chamei estúpido. Isso seria insultar os estúpidos deste mundo
· Podes parecer um idiota e falar como um idiota, mas não deixes que isso te engane - és mesmo um perfeito idiota.
· Se alguma vez te vir a afogar, prometo que te atiro uma corda, ambas as pontas e tudo.
E pronto, agora digam-me:– “ó pá, vai afogar peixes!...” E eu desando... rss
terça-feira, março 10, 2009
Diz-me de teu insulto...
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26 comentários:
Melhor seria que falassem
por gestos
Abraço
Herético
Pobreza dos tempos e dos políticos que temos.
Haja decoro. Mas para que serve o decoro nos tempos que correm?
Realmente este português vernáculo usado pelos deputados está à altura do tempo e das circunstâncias.
Parece que não passou de uma brincadeirinha. Parece que os relógios já marcavam as 5 da tarde...
... na terra do barro...
:)))
beijos
Que delícia de texto.
Ao menos em Seul e Taipé, os fulanos insultam-se com punhos...de renda.
Abraço
Mas andam tão ingénuos, os rapazinhos. Nem um palavrão sonante, nem um gesto firme e exuberante, nem (muito menos)uma frase soez, mas com sujeito, predicado e complementos devidamente alinhados. Um pfff...do pretenso ofensor, um psss...do pretenso ofendido. Nada de registo nos anais da República.
Tudo muito contido, muito pequenino. Tempos...
A tua crónica? De alto coturno, meu Amigo. Como sempre.
assim vamos nós de políticos que não ilustremente nos representam!
beijos
O nível dos insultos parlamentares estão ao nível do país que somos. Tudo muito pobre e rasteiro...
As bengalas, quase sempre para gáudio do povo, ainda eram o expoente máximo dos insultos, mas agora ninguém as usa...
Abraço.
Se eles se insultassem como tu propões, eu até via os debates na Assembleia. :) Coitados, onde está a subtileza (chamemos-he assim...) para isso?
Não vás afogar peixes, fazes falta por aqui... **
Vergonhoso... para mim, não, que não os escolhi. Never.
Mas parece-me que representam povo, ou não? E não havia necessidade de parecer que estavam em casa...
Por mim, ficavam de castigo, com orelhas de burro, ou despejavam os cestos dos papéis. Ou escrever a palavrinha 1000 vezes "nunca mais digo c..." e a gente a ver. Coisas cívicas que é o que eles não são!
***
As "três Marias" sempre! que foram uma revolução no nosso tempo.
Bjinhos
Salvé Heretico
Ao fim de algum tempo vim até cá e o que leio eu?
O melhor de um qualquer texto que por aí se vem lendo e que implicitamente, se faz jus a: chalaças! E ainda, no que todos são melhores: apontar o dedo! - está-nos na massa do sangue, porque nós, os do lado de cá, é que somos os mais perfeitos! eu idem...
Não sou do Psd, nem de qualquer outra côr. A minha preferida é o branco..porque nela concentram-se todas as outras.
Mas o Zé o tal que serviu de modelo á linguagem dos mudos, conheço desde menino, é filho único e foi sempre um tambor, nas mãos do pai - comerciante rude que vendia fruta e outros produtos no Bairro Alto.A mãe, medrosa, calada, raríssimas vezes o defendia. E ele nunca ripostou, foi sempre humilde, sofria em silêncio.O pai parecia fazer de propósito em o minimizar sempre que entravam pessoas na loja... chamava-lhe inutil e outros epítetos mais cruéis.O Zé fez-se um Homem á sua custa e foi bem sucedido na política.Nunca o soube agressivo, mas acredito que nestas alturas as raízes venham á tona e ele inconscientemente se sinta magoado ainda - dores de infância são difíceis de ultrapassar. Muitas vezes repreendi o pai pela violência verbal e física que lhe imputava. Lembro-me de ele não aguentr as lágrimas que lhe corriam pela cara, enquanto estudava no estabelecimento lá a um canto. Penso que ele, com a idade que tinha na altura, foi um bom Secretário de Estado...pelo menos foi honesto. Poderia servir de modelo a muitos!
Tenho pena que um episódio destes fizesse correr tanta tinta!
Conquanto, o seu texto foi um doce, perante o que por aí li e a exposição que os media lhe deram. Isso é que foi uma vergonha!!! Mas Deus é justo e nem uma repreensão teve por parte do P. Assembleia ou sequer do partido a que pertence!
Não mais soube dele mas venho acompanhando o trabalho, porque me merece, por ser um bom "menino", e sabe ter coração, ao contrário de muitos.Ninguém falou da insinuação do outro, que achei vergonhoso...
Pena outras pessoas olharem estes casos e outros, conforme a "cõr" - que até nem é o seu caso - pois parece-me imparcial...
Deixo o abraço de sempre
MAriz
Senhor herético, não lhes dê ideias... não é que não precisem, mas depois começam todos a tentar inventar frases inteligentes para se insultarem.
O teu texto é que é mesmo uma delícia... já não sei se gosto mais das palavras do poeta ou do cronista.
Beijos
:)Nem me atrevo a dizer nada!
Beijinho*
Em estado-critico ! O insulto marca a hora.
vim dar corda ao relógio. Acertar a heresia pendular deste fantástico marcador.
iv*
pois, os peixes afogam-se fora da água...
afiadíssimo.érrimo Post!!!!!!
encantada.
________________
desolada pelo visto lido ouvido por lá.
coisas de nós...."tão democratas"...
beijo.
.piano.
Ah mas se eles te lerem, nesta crónica tão bem delineada, pelo menos mudam de vocabulário!!!
E quem sabe, esgrimem por fim?
:)
Beijos
A AR só demostra o que de pior existe na politica nacional, blá bla´, peixeirada, ler jornais ou dormir trabalho produtivo , pouco
Saudações amigas
Era mazé lavar-lhes a boca com sabão macaco!
:)))
É favor não desandar, que tem um espírito interessante.
Queremos mais.
E aguardamos.
apenas deixo o meu sorriso, após a leitura atenta do texto.
beijinho
oh Herético, como sabe, há uns anitos que o leio com prazer mas hoje foi redobrado!
excelente este texto!!!!
não sou a favor do insulto, não gosto de falta de educação, mas quando o façam, ao menos que o façam com classe!
beijo e bom fim de semana :)
O teu sempre fino 'fio de navalha'...
mas qlá que tens razão, tens !...
bjnhs
Made in Taiwan... LOL!!!
Abraço.
mt bom este post:) excelente crónica.
T.
a espantação veio de ainda não terem ouvido o Marquês de Fronteira defender a dignidade do palavrão, rrrssss
Um abrço.
Soube-me tão bem ler o teu texto primoroso...um espelho lindo dos campos valorosos...frente a frente...mas que não lhes faltem ideias pro que interessa mesmo...política com ética e nobreza...
abraço
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