“Ana e Cátia estão penduradas num andaime, a trabalhar sob um sol opressivo. Têm 20 anos cada uma e beleza distribuída pelas duas, em regime de igualdade. Estão a pintar. Falam lá de cima, depois descem, trinchas nas mãos. Cátia Carvalho, cabelo comprido, óculos escuros e cara pintalgada de tinta branca; Ana Brasil, morena, calções curtos e um top precário.
Ana é da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) desde 2005, Cátia simpatizante. São de Almada, mas estão a trabalhar no pavilhão de Vila Real, por solidariedade...
(...)
Pergunta: "por que estão aqui a trabalhar, num dia de calor como este, sem ganhar nada"?
“Acredito na causa", responde Ana.
“Acredito nos ideais”, responde Cátia. - “Tenho amigos que não são comunistas, e as suas conversas são fúteis. Só pensam em festas, em sair à noite ... Não ligam à política.”
“Lêem aquelas revistas cor-de-rosa?”
“Acho isso ridículo. É um desperdício de dinheiro, de tempo. As pessoas vão perdendo QI, quando lêem essas coisas”
"Aqui na festa há outras conversas"?
“Falamos sobre a vida, sobre o país e os seus problemas, o comunismo ... Há sempre tema de conversa. E participam os mais novos e os mais velhos.”
Cátia lembra-se:
“Ainda hoje de manhã, (...) estivemos a criticar os jovens que vêm à festa só pelos concertos”.
E recorda Ana:
“Isto não é apenas um festival. Não é por acaso que há pavilhões sobre o comunismo ...”
Ana faz uma expressão irritada, de quem não está a conseguir expressar o que é realmente importante.
“Eu venho para aqui porque isto é real. Existe mesmo. Não é um sonho.”
Agora piorou. A amiga tenta ajudar:
“Os média dizem que é impossível, que é uma utopia.”
Esforçam-se por explicar, agora sentadas no chão, no calor de Agosto, todas sujas de tinta branca, que estão aqui porque querem acreditar nalguma coisa. Cátia estuda Ciências da Educação, mas quer ser enfermeira e partir para África. Ana gosta de dança e teatro, ouve Bob Marley e pratica Muay-thai, uma arte marcial tailandesa que significa “luta dos livres” Quer encenar “peças com uma mensagem”. Também pensa em partir. (...) Não querem casar, nem ter filhos. Adoptar, sim.
"Há tantas crianças abandonadas, que precisam de amor” diz Ana - “Gostaria de ser um guia na vida de algumas delas. Isso faria de mim uma pessoa melhor.”
Cátia, de olhar sereno, concorda:
“É bom ajudar alguém”...
Estão aqui pela sua água da sede dos olhos: a densidade do real, o idealismo tornado possível, levado a sério. Estão aqui para discutir tudo, muito a sério.
(...)
A Quinta da Atalaia está cheia de gente, apesar de a festa ainda não ter começado. Brigadas de voluntários de todo o país participam na construção dos vários pavilhões e das estruturas que tornarão possível o mega-evento, que começa na próxima sexta-feira, perto da Amora, na margem sul do Tejo.
Há oficinas gigantescas, máquinas, operários por todo o lado. São centenas, todos os dias. Ao fim-de-semana, chegam ao milhar. São quase todos voluntários e mais de metade são jovens, segundo a direcção da festa. Os estudantes vêm mal terminam os exames, os trabalhadores passam aqui as suas férias. Nem todos pertencem ao partido. Há militantes e simpatizantes. Destes, muitos acabam por aderir ao Partido. (...)
“E não há rebaldaria. Cada um sabe o que tem de fazer”- diz Francisco, 57 anos, funcionário da PT, que, de tronco nu e boné vermelho, está a coordenar um sector da construção, no pavilhão de Lisboa. (...) -“Estes jovens cumprem. São responsáveis. Não é preciso dizer-lhes nada. À luz das regras de uma empresa, é impossível compreender isto”.
(...)
Paulo Moura – in revista “Pública” de 30.08.08
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Em verdade, em verdade vos digo: “não há festa como esta!”
quarta-feira, setembro 02, 2009
"Não há Festa como esta..."
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18 comentários:
Acredito que sim. Beijos.
Amanhã mais duas jovens se juntarão a todos os que lá estão. Irão para o palco Arraial.
No ano passado uma jovem, depois de almoçarmos em Cuba e de darmos uma volta na cidade internacional, perguntava-me "porque é que não vivemos lá fora com a solidariedade e amizade que sinto aqui dentro"?
Beijos. E mais beijos.
Sexta às 19.30, na sopa da pedra
:)))
em verdade em verdade te digo... não discuto se é a melhor, tão pouco discuto a própria ideologia em si, nem me atrevo a discutir a festa, nem tão pouco as respostas... mas garanto-te que ter um ideal já por si vale a pena. isso eu sei!!
não há mesmo. uma festa que se impõe.
pena que a minha "vidinha miudinha (lei-se, saúde) " não me permita "apertos", muito menos sol na "moleirinha"... :)
mas, certo, certo é que lá estará o meu "rastafare", a fazer malabarismos, bola de contacto e etc, coisa e tal.
será o meu embaixador da boa vontade. e estarei muito bem representada, disso estou certa!!!
Olhe, Herético, se o senhor vir por lá o jovem me está a fazer uma ratza in http://noitedemel.blogspot.com/2009/08/radical-mother-no-but.html, seja generoso e deixe-lhe umas moedinhas. ele "vende" orgulhosa e dignamente a arte que faz ...
os artistas neste pais carecem de apoio dos cidadãos, já que o governo se esquece com regularidade de que nem todos gostam dos "CRVCC's", e que estes, como os demais são cidadãos de bem. artistas. tão só isso ...
**
Maria, já agora, convide o meu puto para a sopa da pedra, que ele alinha na boa... é o mais "comuna" de todos quantos povoam esse recinto: nada, mas nada é dele ...
E viva a autonomia e a livre determinação dos POVOS. SEMPRE!
Mel
Trabalhar com o(a)s operário(a)s que estão mais à mão, que não andam em contra-mão, porque escolheram livremente.
A minha admiração.
Há muito tempo que esta Festa se impõe com toda a legitimidade...
Um abraço.
Lá estaremos
com o abraço de sempre
... pois será!
Excelente fim-de-semana!
Um beijo,
te créo amigo!! :)
beijo
~
este blog é um vício - é favor levantar selo :)
abraço
A minha primeira ida a esta grandiosa festa, implicou sair da cama - constipadíssima até à medula - e arrastar-me até ao Seixal.
Abraço.
E não há mesmo outra festa como esta.Quem lá vai uma vez não falta mais.
Beijos
Bem-hajas!
O "Acreditar" rasga as montanhas... é Viver!
Abraço e Beijo
Boa Festa! Muitas recordações me traz, em cada ano, a Festa do Avante... Admiro, com sinceridade, o ideal que lá reune tanta gente. É importante acreditar. **
Pois, pois... Fundamental mesmo é trazer sempre a vida em festa... e de atalaia estar sempre, também.
(Bendita língua esta que tanto nos deixa brincar com ela!)
Vamos, então, à festa!
Não há mesmo festa como esta...
A atitude das pessoas é de uma entrega e solidariedade totais.
Fui lá uma vez e gostei de quase tudo. Mas da mensagem política é que não.
Caro amigo, boa festa e bom fim de semana.
Abraço.
Não há mesmo festa como essa... é o feed-back que tenho!
Embora eu nunca lá tenha ido, os meus dois filhos foram fãs e participantes até poder ser...
Que mais não seja, o PC tem a grande virtude de despertar os jovens para a necessidade de participar na vida de todos nós, terem uma opinião política.
Bom tempo de festa para ti também!
É sim senhor...uma festa de homens e mulheres que sabem que existem.e nunca desistem...Meu apreço.
abraço
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