domingo, fevereiro 28, 2010

Fio de água...

Talvez neste horizonte o breve fio de água
Despenhando-se na memória. Como esta fraga.

Ave planando sobre a presa e o repentino som
Da pedra. Granito ardendo no intimo silêncio.
Como pomos de fogo calcinados de azul ...

Debruço-me. Talvez a água agora seja apenas
Mãos no gesto de bebê-la. E a ave esta rapina.
Nem voo, nem pássaro sagaz. Ausência ainda.
Pura. Gavião e pomba desenhados no corpo
Do desejo. E meus olhos bêbedos de lonjura.


O vento que agora afasta a cinza é o mesmo
Embora. E a litania é eco no coro deslizante
De meus passos. Não a vereda palmilhada.
Nem as vestes. Ou o sangue seco nos espinhos.
Apenas rumor de fogo na palavra celebrada.

Descalço e de bordão como antigos monges
Colho a folha do carvalho. E enfeito os dias
Porta a porta caminheiro. E no portal de mim
Me acolho exausto. E mordo e rasgo. E clamo
Casa em que me guardo. Terra quanta vejo ...

.....................................................

Uns breves dias ausente de vosso convívio.
Beijos e abraços...

14 comentários:

Maria disse...

Fantástico o poema que nos deixas a fazer companhia.
Sê breve.

Beijo.

~pi disse...

até já

[ assim, lida a beleza,



[ e... que sejas!!




beijo






~

Anónimo disse...

votos de boas férias, caro herético :) um grande beijinho*

(gostei de ler o seu poema)

lino disse...

Belíssimo poema. Um rápido regresso.
Abraço

© Maria Manuel disse...

fio de água alimentando a viagem do caminhante... fantástica linguagem poética! gostei.

abraço.

Arábica disse...

Ler-te enquanto ouço


http://www.youtube.com/watch?v=NRRvECy2MTQ



e nada mais digo!

Abraço

lis disse...

Te espero. Debruçada sobre o fio d'água.
abraços

Genny Xavier disse...

Caríssimo Herético,
A sua poesia deixa-nos com a sensação sinestésica de todos os sentidos que se misturam ante a essência ilimitada de uma paisagem, de um sentimento...do que se mistura em nós as sensações do tempo e do espaço que vivenciamos...
Belo poema para se ler e sentir...
Nos presentei mais vezes com seus versos.
Beijo
Genny

mdsol disse...

Inté!

:)))

jrd disse...

Que grande poema!
Abraço

Virgínia do Carmo disse...

Neste desenho de palavras se me despenhou a beleza na alma.

Bjo

Licínia Quitério disse...

Gostei, claro. O rumor da Terra e o teu espanto ainda, caminheiro de ti.

Um abraço, Amigo Poeta.

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

um poema completo, como eu costumo dizer.

cito esta passagem:

"Porta a porta caminheiro. E no portal de mim
Me acolho exausto. E mordo e rasgo. E clamo "

muito belo.

boas férias.

um beij

bettips disse...

Do espaço...
habitas ares.

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