quinta-feira, março 25, 2010

Palavras Outras - "Contra a violência do Estado..."

"O PEC é uma fatwa com que o Governo decidiu punir os mais desfavorecidos. E é uma outra expressão da violência que se espalha pelo nosso país. Estamos a pagar pelas culpas de outros, e esses outros, que passaram por sucessivos governos, são premiados pela incompetência.

Há dias, Bagão Fé1ix bradava, numa televisão  "E a Igreja?", expressando, assim, a indignação que lhe provocavam os grandes silêncios e as geladas indiferenças, ante a decomposição dos laços sociais. Perante a instância de violência de que o Estado se tornou arauto e protagonista, nada mais nos resta do que, após o inócuo direito à indignação, passarmos ao dever de desobediência ...

O Governo, este Governo, não se limita a apresentar uma nova variante de violência essencial, de que o PEC é horrorosa expressão, como tripudia sobre o próprio conceito de democracia. Nada valida esta prepotência anti-social, que José Sócrates pensa legitimada pelo poder (relativo, ou mesmo que fosse absoluto) atribuído pelo voto.

Os portugueses mais desprotegidos são afectados por uma imposição brutal (violenta) de legalidade duvidosa, cujas consequências, como resposta às iniquidades, podem ocasionar uma maior violência pública.

As surdas vozes protestatórias, que começaram a fazer-se ouvir, entre alguns militantes do PS reflectem, elas também, pela surdina e pelo tom oco, outro género de violência: a do medo. A barreira da linguagem demonstra a rigidez da obediência cega ao chefe, entre os dirigentes, os apoiantes e os partidários do PS.

A ausência de adversário e a irracionalidade das jogadas no Parlamento, as indecorosas“abstenções”feitas em nome da “estabilidade”, e da  “responsabilidade de Estado”, constituem uma espécie de elemento patológico que mancha a grandeza desejável da democracia.

Não receemos as palavras: Sócrates não só tem debilitado o PS como é responsável pelas mais rudes amolgadelas na democracia. Tudo o que advirá resulta desta política de soma nula

A história não se fica, certamente, por aqui: quantas vezes não aconteceu já que, quando tudo parece inabalável, o poder de novas formulações consegue remover objectivos políticos ilícitos porque absurdos e contrários às aspirações da comunidade? Porém, há uma ideia de nação que deixou, vagarosamente, de o ser: exclusão, egoísmo, ganância, desemprego, corrupção, precariedade, indefinição de identidade.

A violência do PEC mais não traduz do que a violência da nossa sociedade, cujas prostrações assumem a feição de um sintoma neurótico. Estamos doentes de resignação e de astenia moral. Parafraseando Alexandre Herculano:“Isto dá vontade de chorar"... "
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Baptista Bastos – escritor
in “Diário de Noticias” de 23.03.10

4 comentários:

lino disse...

Eu até admiro o BB mas pergunto: onde está a alternativa? Se daqui a um, dois, três ou mais meses houver eleições, o povinho vai continuar a votar PS, PSD e CDS. Ou então, se sentir complexo de culpa por viver melhor do que alguns dos que o rodeiam, vota BE.
Abraço

O Puma disse...

A coisa ainda está no adro

pec pec pec

jrd disse...

O papel da violência do Estado é mesmo um PECado.

Maria disse...

Penso que as pessoas ainda não viram bem o alcance disto.

Beijo

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