“A vida de Gustav Mahler foi uma cadência de fracassos, mesmo quando esses fracassos assentaram sobre triunfos (...). Judeu, converteu-se ao catolicismo para poder ser director da Ópera de Viena, mas isso não lhe evitou um anti-semitismo tragicamente profético (...).
Viveu pouco: 50 anos. Viveu atormentadamente: desgostos, crises, medos, mortes (pais, irmãos, filha). Como lembrou Bruno Walter, (...) a morte foi a ave que voou sobre a sua vida, acabando por fazer nela um ninho prematuro (...).
Visconti, com o instinto do caçador que apanha as presas feridas, fez de Mahler o protagonista de “A Morte em Veneza”. Ao usar, como banda sonora, esse nevoeiro de sons que é o adagietto da “Sinfonia nº 5” (e o canto do contralto do quarto andamento da “Sinfonia nº 3”, com palavras de Nietzsche) provou que a perfeição é possível. (...)
Nesta “música vivida”, há um mundo (...). Ela faz a travessia do século XIX para o século XX (...). Mas não é apenas uma passagem, uma ponte. É um grande edifício feito de reclusões e fugas, de opacidades e transparências, de folias e fobias, de expansões e contenções, de serenidades e tumultos, de extensões e contrapontos.
Há nela um vazio que só em nós se fecha, ao escutá-la.
Nesta “música crítica que rompe uma tradição, da qual guarda a nostalgia" (T. Adorno) ecoa a Viena em que terminou o império austro-húngaro: “laboratório do fim do mundo” (Karl Kraus) e “apocalipse alegre” (Herman Broch).
Mahler nasceu há 150 anos (7 de Julho). Para o ano, a sua morte faz cem anos (...). Esta contiguidade na memória do princípio e do fim ganha um sentido nu, fazendo-se fundamento da sua metafísica musical. E lembra a terrível pergunta dele: “Será sempre necessário estar morto para que as pessoas nos deixem viver?”
Este “grande revolucionário” (Abbado) exclamou um dia, exasperado: “O meu tempo chegará”. O seu tempo já chegou há algum tempo. Mas, afinal, é um tempo por vir: porque a música altiva e aflita de Gustav Mahler é, de si mesma, o futuro".
José Manuel dos Santos - in revista “Actual” – Expresso – 03.07.10
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Uma breve ausência! Até já...
Boa semana. Beijos e abraços...
13 comentários:
Até já. E obrigada pelo post abaixo...
Beijos.
Não sou entendida em música clássica, mas Mahler é uma excepção para mim.
Um abraço
Chris
Que a ausência seja breve e por boa causa, meu caro.
Quanto à morte...creio que vem sempre na hora certa, por muito que a sua presença amarga nos doa.
Um abraço.
Um até já e um poste belissímo.
Abraços
Até já.
Abraço
...até já:)
Beijos*
Um belo artigo. Gostei de ler.
Abraço.
um artigo a todos os níveis ....EXCELENTE!
.
um beijo
Bom ler algo sobre a vida do musico Gustav Mahler .
E volte rapidinho ,
deixo os abraços
passar por aqui é descobrir mundos paralelos e encontrar pérolas preciosas na ponta dos dedos.
Saudades destes encantos
até já
beijo em desalinho
nas notas musicais de Mahler,
nas palavras sussurradas ou gritadas da tua poesia ou prosa, a certeza da celebração da vida.
deixo um abraço fraterno.
Óptima a referência a Mahler, aproveitando a ocasião.
“Será sempre necessário estar morto para que as pessoas nos deixem viver?”... acho tão denso, diz tanto...
Beijo de boa semana, Heretico
um exemplo de música intemporal, porque emocional. beijinho, heretico.
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