Acolitado pelo Ministro da Finanças, o senhor Primeiro-ministro (ou seria o Ministro das Finanças acolitado pelo Primeiro-ministro?) convocou luzida conferência de imprensa para anunciar ao País o desastre!...
“Medidas duras” a exigirem coragem – clama, afivelando a pose de “dor no coração” o Primeiro-ministro!... “Medidas necessárias” para aplacar os mercados financeiros – sustenta, pingando a lágrima das noites mal dormidas, o senhor Ministro das Finanças!...
Do alto de seu ilustre cargo, o senhor Presidente da República contorce-se em esgares de protagonismo, caído como “mel na sopa”, a adoçar motivações para nova candidatura presidencial…
No Parlamento, a direita encena a rábula! Nega com a boca o que lhe vai no coração – quer dizer, aumenta a parada para deixar passar o orçamento… que faria!
Na pantalha das televisões, os habituais ex-ministros das Finanças e “catedráticos” falando de cátedra como seria de esperar, rasgam as vestes em compungido amor pátrio (como se não tivessem sido, durante décadas, a caução das políticas prosseguidas) e, em dantescas visões, exigem mais e mais do cidadão pagante e do corpo exaurido da Pátria…
Nas excelsas instâncias comunitárias, a burocrática ambivalência – a cenoura dos aplausos numa mão e o chicote da ameaça na outra!...
Seriam ridículos, não fora a dimensão da tragédia!...
Haja Deus! O povo é sereno e os mercados vão acalmar. Depois deste novo aperto o deficit das finanças públicas, no ano de 2012, estará “mais ou menos” (Primeiro-ministro dixit) ao nível do deficit da Alemanha!... Ora bem sabemos quanto são seguras as previsões de Sócrates e do seu Governo…
Porém eu, céptico, que pouco sabe de economia e menos de finanças, retenho a informação, porventura distraída do senhor Primeiro-ministro, de que o orçamento para 2011 ficará ao nível das receitas de 2008. Querem maior confissão de fracasso da governação e deretrocesso do País?
O velho Mestre de Finanças Públicas, prof. Teixeira Ribeiro, deve estar a dar voltas no túmulo.
Pois não é pressuposto dos cânones do equilíbrio orçamental o aumento constante das receitas do Estado em razão do aumento da matéria colectável e do desenvolvimento do económico.
Reconhecer que as receitas públicas regridem é, assim, a confissão do desastre políticas económicas e da consequente anemia do País…
Nada que pessoas avisadas não tenham patrioticamente alertado, defendendo outra política, em ruptura com as políticas de desastre nacional, que o PS e o PSD, em alternância, têm imposto ao País, há dé
cadas, sob a batuta da instâncias comunitárias…
Quem não se lembrará da parábola da panela de ferro e da panela de barro, introduzida no discurso político, quando da adesão ao euro, pelo então deputado Carlos Carvalhas? Pois bem, são hoje muitos dos que na altura procuram ridicularizá-lo, a reconhecerem, por caminhos ínvios, que a adesão ao euro “foi precipitada”…
Ter razão antes de tempo? Mais do que isso: trata-se de um exercício de bom senso, e não permitir que ideias feitas à medida dos interesses económicos dominantes ofusquem o diáfano peso da realidade.
“Os factos são teimosos”, porém. Aí temos, portanto, a reluzente panela de ferro da anafada economia alemã, a desfazer em cacos as débeis economias periféricas, no abraço de urso de uma União Europeia à sua medida…
Até quando abusarão da nossa paciência?
Até quando?
16 comentários:
Até quando deixaremos que eles abusem?
Acredita que gostaria muito de te responder.
Abraço
Será mesmo até quando os deixarmos.
Abraço
o começo. do fim. claro !
até sempre digo eu, face `impávida aceitação de um Zé Povinho estropiado até ao tutano e que mesmo assim abana a cabeça em sinal de assentimento... e vão pensando, "enquanto for só com os outros" e deixam andar. Infelizmente os outros de hoje somos o nós de amanhã.
um texto magnífico e bem real. parabéns
Será até ao dia
em que os explorados
acordem da letargia
Abraço
tenho pena de não saber escrever sobre estes temas, mas gostei de ler o que penso e realmente espero ter paciência, embora uma atitude mais pró activa da nossa parte seja necessária para travar o contínuo desastre a que assistimos... beijinho grande, herético*
Olarilolela, como este não há nenhum, digo cá eu com os meus botões, já que não me ocorre algum hino da Carbonária mais a propósito, para além de serem tão bonitas as carvoeiras...
Nem sei bem que te comente, meu caro. A ilha em que estamos é pantanosa e o mar em volta cheio de sargaços e derrames de crude...
Mas onde é que está a malta que vota nestes gajos?...!
Olha, viva a República!
Grande abraço.
Excrevi hoje sobre o centenário da república, que a bem dizer é mais um cinquentnário, dada a noite de breu da ditadura.
Quanto ao que aui nos perguntas, penso que a maior responsabilidade é nossa que votamos sempre nas mesmas criaturas!
Um bom feriado...e que se cumpra o ideário republicano.
até quando?!
já nem sei, andamos todos anestesiados, e enganados e o pior de tudo, conformados.
o texto está sublime!
beij
Simplificando, diria que todos os que nos governaram desde a entrada para a CE têm culpa. Desde essa altura que temos vivido acima das nossas possibilidades. A entrada para o Euro foi boa e má. Mas os que nos têm governado não têm sabido empurrar as coisas para o lado bom.
Acrescente-se, no entanto, que do lado dos governados pouco ou nada se fêz... a atitude tem sido sempre a mesma... à espera de subsídios e de um D. Sebastião...
Um abraço, caro amigo.
"...Até quando abusarão da nossa paciência?Até quando?..."
Durante 40 anos o regime Salazarista abusou da nossa paciência!
Serão precisos outros 40 anos?
Espero não ter abusado da tua, quando levei "emprestado" um poema teu.
Um grande abraço
É sempre para os mesmos... Até quando?
Um beijo, amigo.
Medidas duras são sempre para os mesmos, a classe média é a grande vitima e bengala destes governantes
saudações amigas
Pois meu amigo, sei a palavrinha que te doeu, mas falei de um modo geral, para acentuar que antes assim do que uma realeza imposta por uma via deificada que não aceito.
Afinal a República deu muito, mas não o que os ideais republicanos esperavam, como nós esperávamos do nosso Abril, que também deu muito, convenhamos.
Estamos no pântano e a culpa é de todos um pouco. Se os que nos governaram até aqui só fizeram borrada, nós gostámos bem de viver acima das nossa possibilidades.
Também há os «trabalhadores» e os trabalhadores. Também há os excluídos e os que se excluem. Nada é tão linear assim.
A probidade tem de estar dentro de nós, se quisermos - e podemos! - levantar isto, não é nenhum partido melhor do que outro, nem há nenhum D. Sebastião que nos salve.
Temos é deixar de cultivar a ideia de que somos desgraçadinhos e ai valha-nos Nossa Senhora dos Aflitos.
Tão corrupto é a «jardinagem» da Ilha e da Banca, como o «trabalhador» que recebe o subsídio do desemprego para manter a TV cabo, a net e os telemóveis, o automóvel para os biscatos em que não desconta para o Estado.
O mar é feito de gotas de água.
Um abraço grande. Admiro-te a escrita e as ideias que transmites, as mensagens que passas aqui e são tão necessárias.
Reclamar é preciso, denunciar é preciso!
Obrigada por isso.
gostei de ler, boa análise. e dizes bem, há anos que a situação económica (e não só) está má, vindo a piorar e a ser camuflada pelos governos que, alternadamente, têm estado no poder. e agora escusam-se de responsabilidades, ameaçam-se mutuamente, continuam sem apresentar propostas concretas de cortes nas despesas públicas, além dos óbvios aumentos de impostos e ivas e reduções de salários e pensões. não propõem eliminar instituições inúteis, assessorias e privilégios de detentores de cargos públicos e políticos desnecessários e esbanjadores (veja-se o exemplo da Suécia), acabar imediatamente com os negócios privados com laboratórios farmacêuticos, construtoras civis, e demais..., fiscalizar seriamente e penalizar arduamente - de uma vez por todas - todas as fugas ao fisco, acabar com financiamentos a partidos e campanhas partidárias, acabar - desde ontem - com as reformas milionariamente absurdas dos detentores de cargos públicos e políticos antes dos 60/65 anos, sendo que estas passem a corresponder aos anos de trabalho e não acumulem com outras, como acontece com os demais portugueses, e tantas outras medidas sérias...
Tenho receio que a maioria não acorde a tempo...
Beijos*
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