Teciam carícias como flores. Sobre a relva, os corpos ébrios de espaço. O rodopio. O céu e terra misturavam-se na vertigem. Depois exaustos, caiam e enrolavam-se, em fusão de adolescência e primavera.
Então ele tecia grinaldas de malmequeres e enfeitava seus cabelos. Em glorificação pagã de tempos futuros, pois agora nada sabiam: eram inocente pulsão de vida. Ela ria. O marfim dos dentes, o vermelhão húmido dos lábios, os seios a despontar no estampado da blusa. Ele atrevia-se. Por vezes, ao joelho destapado. E a mão a subir à coxa, tremendo de novidade e emoção.
E a voz esquiva, no sorriso: “Está quieto. Aí, não!...”
E corriam, de pássaros nos olhos, levantando revoadas...
O sol criava reflexos de oiro nos olhos verdes de Joaninha. Queimavam. Ele abrasava no sangue revolto. Ofegante, crescia. Olhava-a: “Dá-me um beijo!...” – dizia em oração murmurada.
Perversa e risonha, apontava o rosto. Desiludido e amuado, teimava: - “ Tu prometeste. Dá-me um beijo!...”
Ergueu-se, majestosa. Com a mão, em concha, a proteger os olhos, alargando o olhar para além do horizonte, sorriu, em arrepio de infinito: - “Dou-te um beijo, se me disseres onde fica o mar...”
O rapaz inventou o mar naquela tarde...
12 comentários:
No meu espaço que se pretende sério tenho interregnos que apelido serem para coisas belas. Contudo é aqui que as venho encontrar, neste texto e nesse rapaz que inventou o mar!
O rapaz não tinha alternativa...
Acho que nestas situações todos seríamos capazes de invengtar o mar!
Recuei quase 50 anos. E foi bom...
:)))
Beijos.
Que lindo espelho lierário...in illo tempore...com muito perfume.
abraços, meu caro.
Bonito texto!
Abraço
Herético
Ah meu tempo bom de enamorar-se assim entre malmequeres !
lembra uma música da Elizeth Cardoso - um pedacinho:
"Quem ao meu lado esses passos caminhou?
Esse beijo em meu rosto, quem beijou?
A mão que afaga minha mão,
esse sorriso que não vejo,
De onde vem?
Quem foi que me voltou?
...
Quem foste tu ?
Eu nunca fui amada tanto!
Estás aqui, momento antigo,
Estás comigo"
É isso, carícias , momentos que ficaram, uma mão proibida , um beijo roubado, o "sangue revolto" rs
certamente inventaria o ceú e as borboletas no estomago!rs
abraços
e que o mar seja inventado sempre...e que o amor nunca acabe!
gostei tanto desta prosa poética!
um beij
H.
prosa poética bem ao estilo do autor,frases bem construidas transbordando ternura sentimentos e vivências e que sempre o
O rapaz inventou o mar naquela tarde...
e se não for o mar que seja o sol, a lua, a praia ou as flores...
gostei muio!
Beij
"O jovem e o mar".
Lindíssimo!
Um abraço
A poesia da memória.
belíssimo texto, com final perfeito. adorei ler!
abraço.
... e desde então, todos os cursos d’água esqueceram o céu e buscaram rotas para o mar.
um ideal a que todos nós que amamos o mar gostaríamos de ascender :) um beijinho por nos fazer sonhar, heretico*
Enviar um comentário