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Sob os
salgueiros derrama-se a cascata
Em serenidade
absurda e indiferente
Como o regaço de
Lydia...
E as absortas
mãos dedilhando tédios
Nas coloridas pétalas
em redor...
A metafisica é
esta natureza morta
Que o poeta
introduz na paisagem.
Porém, nada do
que diga ou faça perturba
O momento que
desliza triunfante
Na glória de
puro acontecer...
Nem os lábios de
Lydia onde germina
O mel e a fantasia...
Apenas esta
febre destemperada
Como se o verão
fosse eterna ceifa...
Ou a sede de
água pura. Serenamente vertida
Em maceradas
ânforas
Da memória...
Flores à
beira-rio. Em teu regaço...
(Como sabem, Lydia é uma criação literária de Ricardo dos Reis - poeta clássico e
epicurista)
10 comentários:
(...)
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
(...)
RR
Mais um grande poema.
Abraço
Saudações amigas e bom fim de semana
Lydia, um amor casto. em flores à beira-rio
Lydia e a (eterna) ilusão de um tão puro e eterno amor... Ah, o amor!
Puro e profundo como flores em regaço de mulher apaixonada.Aprecio imenso a tua poesia pelo elemento telúrico que a atravessa...oxigénio puro...seria óptimo que a publicasses...no caso de ainda não estar editada.
Grande abraço,
Véu de Maya
Lydia e seus amores.
muito bem!
beij
Ser como Lydia 'mel e fantasia...'
pode ser também um desejo feminino.
... e essa febre que não passa.
Muto bom heretico
Muito bem...adorável - e olha que eu sou admiradora de Ricardo Reis um dos meus heterónimos preferidos....
Bj suplementar porque tu é um dos poucos que, apesar da minha ausência, tem continuado a visitar-me e a comentar! Não esquecerei esse gesto: o meu muito Obrigada
Isabel, aka, BlueShell
Saudades de ler este poema! Dos mais belos!
"Flores à beira-rio. Em teu regaço...' - uma imagem que me aproxima do campo e de toda a sua tranquilidade.
Para ti, querido amigo um postal virtual de agradecimento pela amizade afectuosa, sempre presente!
Votos de excelente descanso! E continuação de boas leituras.
Um beijo,
"Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio"
Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o o'bolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Ricardo Reis
e como gostei de ler-te!
beij
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