Granítica paisagem de
meus olhos
Tão longínqua que
assusta a águia
Em seu voo picado e a
tímida giesta
Se embaraça na rocha
sob o musgo...
Apenas o vento se
atreve e o fumo
Tudo o mais é espaço e
lume ardido...
O sol que das cigarras
tem o canto
Guardado e nos raios
acesos o delírio
De flores secas
amarelo de tanto estio
Desce agora. E o
horizonte esfarrapado.
Nuvens breves acenando
lá ao fundo
E o mar como ausência
além surgindo...
Pedras sobre pedras. Tão
perfeitas formas
Que tombam ou se
erguem sob invisíveis
Dedos como pássaros.
Quixotescos castelos
Domados. Ou
fantasmagorias na vertigem
Da noite dos tempos.
Como a cruz solar
Dominando o cume na
contraluz da tarde...
O templo é esta
secreta pedra. Cravada
Como unha na montanha.
Por dentro
Fechada e por fora o
silêncio. E o lixo.
Agonizante festa que morde a rocha.
Restos. Saturnais em
cinza quente ainda.
Ou fanada dança solta
pelo caminho...
Somos o que somos.
No íntimo círculo
Bem sabemos que estas antas são apenas
Reminiscências que eufóricos buscamos.
E o esboroado muro afeiçoada pedra.
E sofremos então a dor
do teixo sob hera
E bebemos a água
cristalina pelos dedos...
E nos fios de Penépole
que nos prendem.
Sólidos. Somos o mar
que agora se fecha.
Somos ilha. E o
perfume do vinho raro
Que brindamos. E a
tentativa destes versos
(Como abraços). Que
não hino, nem poema.
Mítico regresso, apenas.
Ítaca montanha.
10 comentários:
Sabe que eu li o poema três vezes e todas elas fui devastada por intensa emoção? E tentei esboçar algum coisa minimamente inteligente e nada. Não sai nada.
Então entrei aqui na caixinha de mensagens, e meus olhos se fixaram na informação: "sem comentários". Então, disse-me, isso, é isso, esse poema é sem comentário!
Beijo!
O teu poema agradou-me muito...e nem imaginas como me fascinam os monumentos de pedra...
Um bom dia.
Sendo nós tanto ou tão pouco, o poema é imenso. A poesia é sempre tão maior do que nós.
Muito belo.
Um abraço, Manuel
Um grande poema!
Abraço
Cristalinas águas
de beber
por entre os dedos
Belíssimo poeta amigo
somos... uma mistura complexa de matérias e sentidos. todos.
beijos
~
Os Deuses nas terras de Demo.
Um poema espantoso.
Abraço poeta Amigo
Lindíssimo heretico.
E de tristeza convincente!
Um regresso profundo ,num voo sem volta.
"Somos o que somos" é uma certeza como "pedra sobre pedra".
E ser uma ilha é mais doce do que o "vinho raro"
Brindemos essa lindeza de poesia heretico, se possível rumo a "Ítaca" rs com abraços mesmo que seja só assim , imaginários.
Desculpe descaracterizar seus versos, só sei comentar assim devaneando rs
É belíssimo,Parabéns.
meu abraço grande,bem grande.
Lindíssimo! Lindíssimo!
Grande poema, naveguei por essas origens/memórias!
Abraço
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