Anuncia-nos o Expresso (12 de Janeiro) a
toda a largura da página, que a “concertação
social está por um fio”. E que o líder da UGT, rasgando as vestes e
cobrindo o rosto de cinza, que não de vergonha, se vira para “os dirigentes europeus” para salvar o
acordo que subscreveu com o governo e representantes patronais.
Serão, pois, segundo o esclarecido
semanário, o senhor Durão Barroso e a senhora Lagarde – alegrem-se criaturas! –
a decidirem o magno dossier das indemnizações por despedimento, que o Governo
português pretende reduzir a doze dias de trabalho, como limite máximo.
Não ocorrem ao iluminado jornal duas ou
três verdades elementares. De facto, bem poderá o líder da UGT chorar baba e ranho
(passe o plebeísmo) pelo “seu” acordo de concertação social que, sejam quais
forem as promessas, as angústias existenciais do senhor Proença não irão
alterar a realidade. Quer o senhor Barroso, quer a senhora Lagarde, ocupam as
destacadas funções internacionais que ocupam, não para defenderem os interesses
dos trabalhadores portugueses, mas sim para a articulação dos interesses
financeiros que servem.
Estamos, por isso, conversados.
Imagina-se, porém, a cena – umas palavras simpáticas e umas suaves pancadinhas
nas costas do senhor Proença e passemos adiante, ficando o líder da UGT a
chuchar pelo dedo, saboreando coisa nenhuma, mas sem dúvida impante de
auto-satisfação pelo “poderoso” contributo para a causa da “defesa dos trabalhadores portugueses”.
Enfim, uma vergonha... O conflito em causa diz respeito aos cidadãos e às
instituições portuguesas e, que se saiba, nem Durão Barroso, nem a senhora Lagarde
têm legitimidade para decidirem sobre os assuntos nacionais, ainda que
subservientemente solicitados. Mas para o líder da UGT, não. Em vez de
mobilizar os trabalhadores e sair para a rua em protesto vai fazer queixinhas a
Bruxelas.
É o que se chama sindicalismo da treta,
perdão, sindicalismo de alcatifa...
E é falacioso dizer-se que as
iniciativas legislativas do governo para reduzir o montante máximo das
indemnizações por despedimento, decorrem do “memorando” da tróica, ao qual o
senhor Proença dá os seus améns. A verdade é que o documento (ponto 4.4) estabelece
singelamente a imposição de “alinhar o
nível das indemnizações ao que prevaleça, em média, na União Europeia”. Sem mais...
Em momento algum a “média europeia” pela qual as indemnizações
em Portugal deverão “alinhar” vem
referida em tempo de trabalho prestado.
Não se percebe por isso o afã do
Governo e o fica pé em “doze dias de
trabalho” como limite máximo das indemnizações. Porquê doze dias de
trabalho e não fixar o limite das indemnizações pelo valor médio do montante das
indemnizações no espaço comunitário? Nem por isso o alinhamento pela média europeia deixaria de ser respeitado, conforme
o memorando...
Mas não. As nossas luminárias assentam
baterias contra a dignidade do trabalho e assumem indemnizações de miséria, ou
seja, definidas por dias de trabalho, bem se sabendo que os baixos salários em
Portugal fixarão o valor das indemnizações em níveis bem inferiores à média
europeia.
Temos portanto, como regra, vínculos de
trabalho precários, despedimentos mais fáceis e indemnizações a pataco, quer
dizer, com diminuição radical do seu valor actual.
E o que mais adiante se verá,
se a luta dos trabalhadores o consentir, pois já há quem se perfile, como o
senhor Ferraz da Costa, presidente do denominado Fórum da Competitividade, defendendo as indemnizações devem acabar.
E neste enredo andamos. Entre o
fundamentalismo ideológico do Governo e o (des)concerto do senhor Proença.
Sob a
batuta da sacrossanta competitividade, pois claro!...
Aonde nos levarão, se os deixarmos?
7 comentários:
Repito-te o título:
DOZE DIAS, O VALOR DE UMA VIDA DE TRABALHO...
O Proença foi um vendilhão e agora quer fazer o acto de contrição.
Esta gentalha está toda "concertada"...
Abraço
... direitinhos à mais profunda e inimaginável das misérias. É para lá que nos empurram... se os deixarmos.
O meu abraço!
Sinceramente, nunca imaginei nada de semelhante. Estou preparada para abrir o mail e ter uma comunicação lacónica de que cesso funções. Mas também estou preparada para a luta, seja ela de que tipo for. Já nada me assusta, porque quem vive o pesadelo, consegue enfrentá-lo.
Beijo
Laura
Esse sr calvo devia fazer já as malas, visto que está de saída; de facto, o homem não procurou um entendimento com quem deve e a quem deve... um vendido.
Isso, se os deixarmos!
Abraço
Ladroagem organizada, da mesma estirpe do BPN, é do que se trata...
Excelente artigo de opinião.
Um abraço.
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