O estertor do regime do Estado Novo
“A
sociedade portuguesa caracteriza-se por uma extrema e duríssima dominação de
classe. É o domínio dos banqueiros, dos capitães de indústria, dos
latifundiários, dos grandes da especulação, da alta burocracia (política,
administrativa, militar, económica, clerical), do mandarinato de formação
universitária – sobre os operários, os assalariados rurais, os empregados, a
maioria dos intelectuais, os estudantes e, também e cada vez mais, os pequenos
comerciantes, os pequenos proprietários rurais.
Vive-se
uma dominação de tal modo deprimente que parte considerável da população activa
retirou para o estrangeiro.
Traduz-se
essa dominação no contraste entre a magreza dos salários e o esplendor dos
lucros; na escandalosa repartição dos rendimentos, que reserva aos trabalhadores
uma paupérrima fatia e guarda para o patronato a parte de leão; na violenta
repressão das classes trabalhadoras a todos os níveis; na galopante inflação,
particularmente notória no que respeita às necessidades mais elementares.
Em
forte concentração do poder económico em poucas mãos enquanto a esmagadora
maioria do povo se encontra espoliado da posse dos meios de produção; no
sistema fiscal, ajustado aos grandes interesses; na ineficiência e no custo da
segurança social; na degradação dos hospitais e serviços de saúde; na penúria
alimentar...
(...)Na dureza das condições de trabalho; na compressão do sindicalismo e denegação do direito a greve, mesmo como simples meio de negociação do salário; no analfabetismo literal ou real; na severa estratificação que barra o acesso à cultura; no obscurantismo imposto desde a escola à informação.”
(Das Conclusões)
5 comentários:
"Vive-se uma dominação de tal modo deprimente que parte considerável da população activa retirou para o estrangeiro."
a actualidade destas palavras chega a doer; não fora a data, e, por certo, as acharia ditas hoje...
gratíssima pela partilha destas memórias que, e, mal-grado o rumo calamitoso deste país, muitos teimam esquecer e apagar.
Mel
Bem me recordo
Abraço amigo
Que este texto possa ser o prenúncio do estertor do actual Estado Novo.
Abraço
Portugal congelou no tempo...
Abraços
quem viveu esse tempo conhece melhor os crápulas...
Enviar um comentário