De vez em quando, na ondulação cinzenta
dos dias, em que “espectáculo” da comunicação social nos embala, surge, como
fogo fátuo ou o rasto luminoso de um cometa, um acontecimento, uma personagem
ou um comportamento que nos retém e, de alguma forma, nos apazigua e faz
acreditar ser possível a regeneração da Humanidade.
Assim, por estes dias. Como um herói
trágico dos tempos modernos, surge na pantalha das televisões, nos comentários
e notícias dos jornais uma personalidade anónima, cujo destino – sabemo-lo
antecipadamente – será ser trucidado pela máquina do poder que, desassombradamente,
afrontou. Se nos limitar-nos a assistir,
calados...
Edward Snowden, um cidadão norte-americano,
de 29 anos de idade, analista de sistemas, deixou para trás toda a sua vida: a
namorada, a família, os amigos, o emprego e a casa, para denunciar um
totalitário programa de segurança interna do governo dos EUA, chamado PRISM. Este
sofisticado programa tem vindo a coligir e arquivar gigantesca massa de dados
de comunicações de cidadãos em todo o mundo, designadamente, telefonemas, cópia
de emails e mensagens enviadas pelo Skype, publicações no Facebook, etc.
Quando o soldado Bradley Manning –
lembram-se? – tornou público esse mesmo tipo de informação para o Wikileaks, as
autoridades norte-americanas trancaram-no numa cela solitária, nu e em
condições que a ONU definiu como sendo “cruéis,
desumanas e degradantes”.
Conhecendo como conhecia, a implacável e
indecorosa forma como os Estados Unidos cercaram e cercam Julian Assange e o
processo de “neutralização” dos escândalos diplomáticos tornados públicos por Wikileaks,
mais digna de admiração e solidariedade a atitude do jovem Edward Snowden, que
movido apenas por dever de cidadania não hesita em enfurecer a fera e arriscar
o seu conforto e, porventura, a vida, em nome da dignidade humana, face a
omnipotência do Império.
Edward Snowden semeou ventos e irá previsivelmente
colher tempestades. A mão longa do poder imperial far-se-á sentir com todo o
seu peso. Em breve, os lacaios do sistema, na comunicação social, irão
desencadear uma “narrativa de
descredibilização” do jovem. E depois o esquecimento...
Aliás, o “nosso” estimável e fidelíssimo “Público”,
fazendo jus aos seus pergaminhos de “a voz
do dono”, adiantou-se: já hoje, em editorial, classifica o jovem Edward
Snowden como “um espião ressabiado”... E se não se levantar um clamor planetário de indignação, assim será!...
Com esse ou
outros epítetos...
Porém, se milhões de vozes, em todo o Mundo, apoiarem Edward
Snowden, tal facto constituirá uma poderosa manifestação de solidariedade e uma
eloquente mensagem de que o jovem analista de sistemas deve ser tratado como
alguém corajoso por ter feito a denúncia que fez. E que, por outro lado, é a política securitária
e o programa PRISM – e não ele – quem deve ser o alvo dos ataques do
Governo norte-americano e das suas agências.
Assine a petição Edward Snowden
3 comentários:
A América em todo o seu esplendor. Qualquer dia da liberdade só a estátua.
Abraço
Medonho!
Vou assinar.
A coragem, nestes casos, paga-se bem cara, daí que a petição tenha toda a pertinência.
Abraço.
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