domingo, janeiro 19, 2014

NADA ESTÁ ESCRITO...



Na nítida proporção das coisas a matéria
Insinua-se nas asas dos anjos sobre a cidade sitiada

Nada que os homens não saibam
Ou a que as esferas não se curvem
Em seu percurso frio e solitário.

Nada está escrito.

Apenas a soberana vontade dos famintos
Ou os sequiosos martírios de azul cobertos
De tanta esperança contrafeitos
Redimem este tempo de murmúrios sibilados.

Não a culpa dos inocentes. Nem as apóstrofes da guerra.

Tatuamos no rosto a letra escarlate
E dos proscritos vestimos a poluída túnica
E a carne macerada.

E bebemos o vinho pisado pelos homens.

E do pão da vida fazemos sarça
E ardemos no verbo inaugural
Que de tão ígneo se faz sémen

E explode na persistência dos anjos
Sobre a cidade sitiada...


Manuel Veiga

5 comentários:

Anónimo disse...

A sua escrita tem algo de Gide.
Como uma missão, escrita em letra escarlate.
Triste e belo.

Lídia Borges disse...


A "persistência dos anjos sobre a cidade sitiada..." é tão só o que resta...

A força dos vocábulos em explosão


Um beijo

jrd disse...

Nada está escrito...
As palavras, como chispas, hão-de um dia incendiar a cidade sitiada e libertar os Homens.

Abraço Poeta

Mar Arável disse...

... e assim ...

inscritos
levamos as palavras à boca
como se fossem pão

Abraço sempre

Unknown disse...

Lindo poema,lindas palavras!! Super adorei. Fica com deus e muitos beijinhos,até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt

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