Era um tempo sem
tempo, como se a garganta
Fosse o grito em
profusão de mil ecos
Na serenidade do
vale.
Ou pássaro
milenar em vertigem do voo
Os insectos
sorviam o néctar e as azedas
Línguas
crespadas na acidez da ceia
Que a lonjura
retardava – o caminho era ainda
Não regresso...
Antes era passo
alongado em cadência breve
De sol macio.
As giestas
fervilhavam em zumbido amarelo
A que a brisa
dava asas e se infiltrava
E descia sob os
fios dourados de meus olhos
Como inesperado
manto em régios ombros.
Grinaldas de
açucenas que o açude toldava
Na distância de
colhê-las. Apenas o olhar as desenhava.
- Imperecíveis na
memória de meus dias.
E a água. E a
cantata. E o sobressalto dos sonhos
Como inquietos
potros. Míticos.
E o esplendor de
mirtilos. E a festa dos sentidos
Em explosão de
Primavera.
Manuel Veiga
12 comentários:
mas, saber exactamente aquilo que um poeta sente e pensa no momento em que transfere tudo para a escrita...
Era o tempo de não ter tempo para ter o tempo todo.
Belo poema!
Abraço fraterno
Todo o tempo
para sonhar
em voz alta
Abraço sempre
Um lindo cenário...
que resplandeça em ti,para o nosso deleite.
Poesia que muda a cor dos meu dia, apesar da 'lonjura'
parabéns heretico
um abraço
Na memória o sonho de um tempo,
numa primavera que tarda.
Uma festa para os sentidos, este poema. Muito belo!
Beijo
Era o tempo longo do desejo. Era o tempo de ter no olhar as aves que voam por dentro dos sonhos. Era o tempo de regressar à inocência das açucenas.
Muito bom, o poema, amigo.
Um beijo.
Que importa se é mito o esplendor desse tempo eternidade. Chega-nos todo cores, perfumes, formas.. Sensações!...
Caminho de ida, ainda.
Belo!
É esse tempo retorno pelo qual a ânsia poética clama...que o futuro o traga, se puder «Ou pássaro milenar em vertigem do voo»...
Belo!
Beijinho
"...
Ou pássaro milenar em vertigem do voo
..."
o tempo marca a história... a minha, a tua, e a de todos aqueles cujas "...giestas fervilhavam em zumbido..."
Sabes que gosto de te ler.
Beijo.
era um tempo que tínhamos tempo...
e ficaram as memórias...
:)
Os tempos floridos não saem de nossas lembranças. Ficamos com elas até que possamos reviver o sonho de primaveras distantes. Abraço.
Bucólico, meu caro, ouvem-se-lhe os rumorejares das fontes e brisas nas árvores. Ele é Abril... e está tudo dito! Ainda que pouco feito, dir-se-ia...
Grande abraço.
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