No íntimo mais
profundo do silêncio
Onde a distância
e o espaço são os impossíveis dedos
E o tempo é a
demora do olhar sobre a tela nua
Gesto inaugural
apenas...
E o artista
esconde a alma na matizada cor
Onde o desejo –
corpo delito - se despenha
Como pétala uma
a uma tombada da paleta
E vermelho e a
sombra se misturam
Em dúvida antes
da glória (ou da graça invocada)
Na indizível voz
do poeta onde a sílaba é palato e língua
E se desprende como
beijo de água a arder na boca
E se ilumina na
forma pura
E o trama se
macula sem saber se cor
Se morfema.
Nesse ínfimo
núcleo a arder – tudo ou nada!
Onde a palavra emerge.
Cúmplice.
E se ergue
impoluta
E o poema se
agita
Acorrentado.
Solta-se um frémito
mudo
Como culto. E
cume.
Ou voo de Sísifo
Rasando o
lume...
(Não há musgo -
macio que seja -
Que quebre o
fogo no interior da pedra...)
Manuel Veiga
12 comentários:
A palavra e o sentir do poeta em harmonia melodiosa.
Qual frémito mudo e fogo que arrepia.
Beijinhos
«Da criação poética» - que bem mostra a força,a dureza, a dor, e por fim o nascimento do poema. E as palavras sempre muito bem escolhidas (repito-me sempre, mas é verdade...)
(Obrigada por passar a ser «meu» seguidor - nem sei se mereço...)
Beijos poéticos
Diante da tela nua, o artista arde em chamas e cores, quando o poder da palavra se solta num frêmito mudo e ao passar pelo fogo, transmuta-se em impetuoso poema...
Beijos, heretico, gostei muito!
"Onde a palavra emerge. Cúmplice" há um punhal de fogo a rasgar o interior da pedra e a escrever o musgo na água dos olhos...
Um beijo, meu amigo
Que importa acorrentado, se o poema se desprende num frémito mudo.
Abraço fraterno
Sempre bem, sempre tão bom de ler.
Deixo um beijo.
já li e reli este poema.
queria achar defeitos, mas é perfeito.
acho que um dos melhores que já li, do Manel.
um beijo
:)
já li e reli este poema.
queria achar defeitos, mas é perfeito.
acho que um dos melhores que já li, do Manel.
um beijo
:)
Já lera este poema sem tempo para comentar (exames e afins)...é de uma verticalidade mágica. Sísifo, símbolo perfeito nos dias que correm...
Beijo
Meu querido,
Seus versos metalinguísticos trouxeram uma silente reflexão à minha alma poética...
Como sempre, resta-me sorver o néctar das suas palavras.
Beijo.
Genny
Uma vénia! E outra, e outra, e outra...
Há, sem dúvida, um imenso mar dentro de nós!
O meu abraço!
Ler o que escreve é sempre um momento alto.
( encomendei o seu livro â editora, e, só não o tenho porque no dia combinado para a entrega em mão, a minha saúde não me permitiu honrar o meu compromisso, estando presente. Mas brevemente, via ctt, o seu Poemas Cativos chegar-me-á, finalmente. Embora tardiamente, os meus sinceros parabéns pelo mesmo. Impunha-se face à qualidade da sua obra.)
Fraterno abraço
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