Sou o linho
estendido sobre a pedra. Como mesa...
E o suor dos
rostos em círculo. Como mito. (Sei agora)
E o pão avaro.
E o rito das
mãos de boca em boca
E as gargantas
ressequidas.
Sou o vinho...
E sou a sombra.
E a gota de água.
E a agitação do
freixo. Sou a canícula e sou a raiva.
E a boina descaída
sobre os olhos – basca.
E a precária
sesta na aragem do dia.
Sou a ceifa...
Sou os tordos
espantados de meus olhos
E a voz do amo
E o sol que já
declina...
Sou os corpos
debruçados sobre a terra
E o crepitar do
caule e da espiga.
Sou o fio da
revolta
Que não sabe
ainda...
E neste
horizonte de mágoa
Sou sopro de
bandeira
Sou esta linha
quebrada que explode
E me
incendeia...
Sou este signo
vazio de tudo ou nada
E o canto das
cigarras que teima...
Manuel Veiga
10 comentários:
Belíssimo.
:) abracinho
"Rito das mãos de boca em boca." A repartir a sede, a palavra, o espanto, a inquietude. O tordos espantados adejam as asas no olhar de quem tece a intimidade dos dias...
Um beijo, meu amigo.
Mais um belo poema ao e para o Alentejo. Lindo, lindo como a linda planície alentejana...
Mais uma vez: muito bem!!
Beijinho
Belíssimo poema!
...o suor dos rostos,
o fio da revolta,
a raiva,
a cigarra que teima em cantar,
a gota d'água...
Isso tudo,
até quando?
Beijos, heretico!
O "signo vazio" é um imagem forte, tão dolorosa... Desajustada até deste imenso canto que soa.
Maravilha!
Lídia
Cantemos meu irmão
mesmo que as cigarras se doam
Adorei o seu poema.
Voltar aqui também é sempre um prazer.
mas, difícil, como já algumas disse, decifrar a origem intrínseca de um poema, o que fica dentro do poeta,...
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