Sou o linho
estendido sobre a pedra. (Como mesa...)
E o suor dos
rostos em círculo. Como mito. Sei agora...
E o pão avaro.
E o rito das
mãos de boca em boca
E as gargantas
ressequidas.
Sou o vinho...
E sou a sombra.
E a gota de água.
E a agitação do
freixo. Sou a canícula e sou a raiva.
E a boina descaída
sobre os olhos – basca.
E a precária
sesta na aragem do dia.
Sou a ceifa...
Sou os tordos
espantados de meus olhos.
E a voz do amo.
E o sol que já
declina...
Sou os corpos
debruçados sobre a terra
E o crepitar do
caule e da espiga.
Sou o fio da
revolta
Que não sabe
ainda...
E neste
horizonte de mágoa
Sou sopro de
bandeira.
Sou esta linha
quebrada que explode
E me
incendeia...
Sou este signo
vazio de tudo ou nada.
E o canto das cigarras
que teima...
Manuel Veiga
19 comentários:
Ser o povo que espera, não desespera, porque sabe que vai acontecer.
Abraço meu irmão poeta
Belíssimo, forte, épico.
O bom povo português - dos campos, da seara, dos Descobrimentos, do Império - o Quinto, de D. Sebastião redivivo...
Poema forte, contundente, belo...
Adorei!
Beijos!
Sejamos sopro!
~
~ ~ Assim, deveríamos todos ser. ~ ~
~ Demos as mãos numa longa cadeia. ~
~ ~
És como te vejo
Abraço amigo
Agradeço visita e comentário no meu blogue.
Ai, este senhor poeta é tudo e é todos, e é mesmo.
Poema de alto porte.
Bom domingo!
Ver tudo da cor dos olhos de quem é povo e poeta que resiste...
Belíssimo poema, meu amigo.
Um beijo.
És tanta coisa...
Mas também és um grande poeta.
Este poema está ao nível dos melhores poetas portugueses. Parabéns pelo teu grande talento poético.
Bom domingo, caro amigo.
Abraço.
O desassossego de um estar sempre alerta ao "horizonte", por ora, de "mágoa".
"[...]
O fervor prenhe de lonjura e de distância
E a palavra ousada nos lábios escarlates
Como a túnica...!
[...]
Momento(s)de poesia a não perder.
Bj.
Uma beleza de poema!
Abraço
Ainda bem que o és! O somos!
Ainda bem que há homens...Poetas assim!
Beijo
O poeta que não escreve, mas é a poesia. Belíssimo. Um abraço.
Um hino que se eleva
Deixai-me ser mastro
Colher o linho do lameiro
sopro de bandeira ou de um povo.
forte e seguro!
gostei!
:)
belíssimo!
belíssimo!
Quantas vezes 'cresci' depois de ser 'o tordo espantado dos meus olhos'...
Grande, Manuel!
jorge
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