domingo, março 15, 2015

UM GOSTO ANTIGO DE ALFAZEMA...


Arde no ar um gosto antigo de alfazema
E o fio dos dias suspenso agora. Apenas
A festiva azáfama. E o corredor do tempo.
E as maçãs emolduradas. E as uvas deglutidas
Bago a bago. E o riso em bocas pregoeiras...

Outonais os dias embalsamados em colcha
Domingueira. E a linha do teu corpo
Debruada por meus dedos no vazio dessa ausência.
E os seios tão tenros - que ainda queimam:
Açucenas sobre feno...

A saia agora é vórtice. Esplendor na relva.
Voando. Que corpo se inflama ainda.
E o mar é teu joelho. E absoluto barco
Singrando em meus olhos. Cavaleiro imaculado
Na chama dessa aurora pioneira.

Chama e flor. Pois que em ti declino o lume
Dos dias e o tempo de outras margens:
Miragem sobre mim descendo...

Manuel Veiga



12 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Vou dedilhando
verso a verso
esse odor a alfazema

ou será relva?

lis disse...

O melhor do amor é essa memória dos poetas que são livres no pensamento e com seus versos transportam o cheirinho da alfazema até onde o sol alcança.
Bonito demais!

Helena disse...

"E a linha do teu corpo
Debruada por meus dedos no vazio dessa ausência".

Que belo é este verso! Todo o poema traz a delicadeza do amor com o gosto de alfazema que também ficamos a sentir...

Sorrisos e estrelas na tua semana,
Helena

Majo disse...

~
~ O enlevo de belíssimas memórias outonais, despertadas
pelo maravilhoso perfume de alfazema.

~ ~ Sabor a feliz e jovial plenitude campestre.

~ Que venham muitas estações esplendorosas!

~ ~ ~ Beijo, Poeta amigo. ~ ~ ~
~~~~~~~~~~~~~~~~~

jawaa disse...


Depois da ausência, encontro por aqui três belos poemas, qual deles o mais inspirado.
Parabéns, amigo!

Mar Arável disse...

A complexidade do simples

num poema com palavras perfumadas
em liberdade
chão firme que partilhamos

Abraço poeta amigo

maceta disse...

bem me esforço para atingir e compreender o âmago da ideia inicial...

abraço

luisa disse...

Gosto do perfume das palavras. :)

bettips disse...

Um fio de água
um fio de palavras que se deslindam e (a)lindam o dia.
Um cheiro de alfazema que trazemos de antiga a mente.
Abç

jrd disse...

Quando aromas sublimes do poema invadem a paisagem esplendorosa.

Abraço fraterno

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

as memórias e os odores desse amor, ainda tão frescos nas palavras do Poeta.
muito belo!
:)

Sónia Micaelo disse...

Invadiu-me este poema - magnífico!

Beijos

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