Talvez este
regresso seja voo de milhafre
Planando contra
o vento. Ou estultícia minha
Em filtrar o
tempo pelos dedos...
Talvez seja
vertigem. Ou pequenas coisas.
Ou profusão de
sentidos descendo como braços de salgueiro.
Ou seja talvez moinho em canto d´água.
Ou a pedra de
soleira...
Talvez o momento
seja a brusca passagem das horas
Já passadas. Ou murmúrio de oração em lábios já finados.
Ou mulheres de
negro embiocadas: -
Penélopes sem
viagem
E epopeias de
silêncio...
Talvez sejam as cálidas mãos dos homens. Agora
Pousadas sobre a
mesa e o pão repartido.
E a criança
atónita espreitando o ritual
E o vinho nas
gargantas ressequidas.
E o delírio da
festa.
E as
colheitas...
Talvez os
corredores da memória
Sejam espaço
afadigado em estertor de ave
Já sem ninho. E
que no entanto teima o calor das penas...
Talvez o vento
se solte em novas profecias.
E todos os
rostos venham em coro
Entoar bênçãos
em teu nome
António...
6 comentários:
Talvez... António...
Um poema de uma estética e de um lirismo que, aliado ao sentimento, se me cola à pele...
Um beijo, meu amigo.
Bom dia, Manuel. É uma manhã tranquila de feriado neste lado do horizonte. Penso que sim para todo talvez e adoro o poema inaugural. No entanto, são mortais os poetas. Por isso entregamos os versos ao infinito para que sobreviva a cada (re)leitura. Beijo.
Que não se cale o vento
mais que as palavras
Abraço
~ ~
«Talvez este regresso
seja voo de milhafre planando contra o vento.»
~ ~ Estultícia minha não é, António.
Amigos, planemos contra os ventos dominantes!
~ ~ ~ Abraço, Poeta amigo. ~ ~ ~
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Como o poeta está em maré de dúvidas, talvez possam ser tantas coisas!
O vento? Hum, o vento não se "solta", assim!
"Entoar bênçãos..." Gostei! É lírico e sagrado, seja em nome de quem for.
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