No pórtico da Lonjura
e da Distância
Onde a Palavra
germina – febre e fio de água!
E o grão de
areia explode – quase-nada!
E as esferas se
movem. Surdas.
Frias e eternas.
E absurdas em sua eternidade...
Nesse indefinido
lugar onde todos os possíveis
Se resgatam. E outros
tantos colapsam. Sem memória
Que nos diga. Nem
sobressalto que nos valha...
Nessa tensão
desesperada entre a euforia do Ser
E a neutra alvura
do Nada...
Nessa oculta
razão das coisas
Em que – dizem-me
– os deuses se recriam
Em interminável jogo
de dados...
Nessa tatuagem
dos dias
Em que apenas os
nomes são árvore...
Aí nesse fogo
sem lume
Esculpo minha
circunstância - de palavras e cinza!
E me digo. E desdigo - mordendo
a cauda!...
Manuel Veiga
11 comentários:
Tenho encontrado dificuldade para comentar. Estou numa região sem energia elétrica convencional. Normalmente uma vez por semana ligo o gerador para carregar baterias...
Os teus dois últimos poemas me tocaram por demais.
Um abraço fraterno. batista filho
Um mundo ardente e explosivo, germinou na sua mente e deu vida a este belo Poema.
Quem me dera conseguir, nem que fora numa imitação tosca, desdizendo-me na tentativa frustrada (certamente) de morder a própria cauda!...:)
Beijinhos, Poeta!
entre o ser e o nada
há que esculpir...
Perfeitamente dito, Poeta.
Palavras cinza palavras cinza...
O movimento dos astros erode
o espaço nosso em permanência.
É nele que a chama acende
a esperança de liberdade.
E quem não morde nesta vida circular
no ciclo interminável das esferas?
BFS
Pois, Poeta. A vida é esta incerteza circulando nos dias,
em horas ("neutra alvura do Nada...") ou a entrega ("a euforia do Ser)...
As vezes, uma longa falta de neutralidade, mesmo no preto e branco
das certezas feitas de rotinas e caminhos retos. Acredito nas curvas,
elas exigem o voo da não desistência de Ser e neste sentir
pleno e instantâneo da Poesia:
"Nessa tatuagem dos dias
Em que apenas os nomes são árvores..."
Na tua Poesia, as palavras vão mais além,
quem sabe (?), além do Poeta (?), além da cinza (onde
morre os sentidos) e transcende para uma beleza da Arte!!
Sopro as cinzas
para melhor ver as tuas pedras
esculpidas
numa folha de papel
Abraço poeta das amplas claridades
a euforia
a não memória
e o nada
tantos trilhos, tanta cinza que o que se diz, por vezes se desdiz e no final nem o nada resiste
muito bom!
;)
um bom fim de semana.
beijo
Que dizer, meu amigo, perante o fulgor das palavras? Leio e fruo, apenas fruo...
Forte abraço
Mais uma belíssima «malha» que lanças com mestria...
Afinal, é 'entre a euforia do Ser e a neutra alvura do Nada', que se escreve uma Vida.
Só me é mistério a justeza dos adjectivos...
(e olha que se este teu escrever não é feito de tinta permanente, não sei o que então será)
Abraço, amigo!
jorge
entre a euforia do Ser
E a neutra alvura do Nada, há um caminho longo para percorrer...
Um poema inquietante e uma bela reflexão sobre a vida e a escrita.
Beijinho.
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