terça-feira, maio 03, 2016

Nada de Novo no Horizonte da Palavra



A meus amigos


No sopro de meus dedos todas as glórias
(Que nestas letras se misturam deuses e criaturas)
Barro que tem reflexo de alturas
Onde germina o Corpo, o Tempo e o Modo.

Infinito-Presente que de tão breve é já Futuro.

Nada de novo no horizonte da palavra que respiro
Pois nada de mim se arrasta neste parto.
Sou além de mim – sou queda e brado!
Partitura que por capricho ou ledo engano
Na música se esvai correndo como o pano
Que aberto se fecha sobre palco festivo...

Promessa mil vezes adiada.
Não me lamentem porém os que de mim colhem
A flor de meus desejos.

Que no bosque esperançoso em que incauto teimo
Sou vereda e água – e a palavra sussurrada –
E o vento em cópula de Outono
Sobre as árvores...

Manuel Veiga

"Poemas Cativos", pág.11 - Poética Edições - Lisboa 2014






5 comentários:

Suzete Brainer disse...

Belíssimo poema que desenha o horizonte (universo)
da palavra do poeta, na dimensão maior do voo, além
de si mesmo, a deixar a poética como registro de
ricos significados...
O tempo no modo contínuo, a vida que germina
poesia fértil para os amigos...

Grandioso poema!!

Grata pela oportunidade da leitura.

O genial Chico Buarque, um dos orgulhos do meu País,
o gênio da música (poética) e tão injustiçado no
momento por alguns fanáticos e ignorantes da
política suja.

Fê blue bird disse...

Recebo grata este teu belo poema.
Continua a teimar nas palavras.

Um beijinho

José Carlos Sant Anna disse...

Belo despojamento este pisar com os pés desnudos a ardente aspereza da palavra donde a poesia nasce. Esta (aparente) e obscura seiva!
Abr., poeta!

Agostinho disse...

Li no livro.
Enunciação de palavras que não caem em saco roto.

Abraço

MS disse...

Ler este teu poemas enudeceu-me. Pelo despojamento, pela sensibilidade colocada nas palavras, uma a uma. Releio-as.

Detive-me morosamente nas duas últimas estrofes. Me emocionam. Dimensão maior de ti.

Beijo, Herético (por vezes, as tuas palavras desmentem o 'Herético')

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