A meus amigos
No
sopro de meus dedos todas as glórias
(Que
nestas letras se misturam deuses e criaturas)
Barro
que tem reflexo de alturas
Onde
germina o Corpo, o Tempo e o Modo.
Infinito-Presente
que de tão breve é já Futuro.
Nada
de novo no horizonte da palavra que respiro
Pois
nada de mim se arrasta neste parto.
Sou
além de mim – sou queda e brado!
Partitura
que por capricho ou ledo engano
Na
música se esvai correndo como o pano
Que
aberto se fecha sobre palco festivo...
Promessa
mil vezes adiada.
Não
me lamentem porém os que de mim colhem
A
flor de meus desejos.
Que
no bosque esperançoso em que incauto teimo
Sou
vereda e água – e a palavra sussurrada –
E o vento em cópula de Outono
Sobre
as árvores...
Manuel Veiga
"Poemas Cativos", pág.11 - Poética Edições - Lisboa 2014
5 comentários:
Belíssimo poema que desenha o horizonte (universo)
da palavra do poeta, na dimensão maior do voo, além
de si mesmo, a deixar a poética como registro de
ricos significados...
O tempo no modo contínuo, a vida que germina
poesia fértil para os amigos...
Grandioso poema!!
Grata pela oportunidade da leitura.
O genial Chico Buarque, um dos orgulhos do meu País,
o gênio da música (poética) e tão injustiçado no
momento por alguns fanáticos e ignorantes da
política suja.
Recebo grata este teu belo poema.
Continua a teimar nas palavras.
Um beijinho
Fê
Belo despojamento este pisar com os pés desnudos a ardente aspereza da palavra donde a poesia nasce. Esta (aparente) e obscura seiva!
Abr., poeta!
Li no livro.
Enunciação de palavras que não caem em saco roto.
Abraço
Ler este teu poemas enudeceu-me. Pelo despojamento, pela sensibilidade colocada nas palavras, uma a uma. Releio-as.
Detive-me morosamente nas duas últimas estrofes. Me emocionam. Dimensão maior de ti.
Beijo, Herético (por vezes, as tuas palavras desmentem o 'Herético')
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