Meus olhos são
meus passos. E meus portos.
Sede e água a percorrer o
declive da tarde
E o fio deste azul tão breve que se
derrama
Plangente como o zarpar do barco na distância
muda
A acenar lonjuras e a prosseguir a rota sem mapas.
Nem
bandeiras. Ou mestres a quem sirva.
Capitão de meus silêncios, administro amoras do tempo
Colhidas no alvoroço dos dias. E meus dedos
Esgravatam os sinais e as fissuras da condensação
Da rocha captando por vezes as vozes e os timbres
Na vibração das formas e nos percursos que existem
Na memória das coisas que entre si se acolhem
Qual pauta inscrita na música que entoam.
Secretos são os milagres que os deuses concedem.
Apenas a inocência lhes colhe a espuma.
Que não a barbárie. Nem a frívola dança das estrelas.
Nem os poetas, a procurarem salvar o mundo
Que o mundo não se salva. Apenas perdura.
E se transforma. E gloriosamente se reinventa...
Explodem os corpos nesta ilusão de sol
A crepitar na pele. E neles mergulho neste bailado
Que arrasta qual turbilhão de cores furtuitas e macias.
E nesta plangência de tons e gestos que entram
Pelos poros e consomem os dias em registo lúcido
De um poente altivo e um azul benigno e calmo.
Manuel Veiga
13 comentários:
É um prazer ler-te. Desvendar as tuas belas metáforas.
Não como as quero mas como são.
Abraço de sempre
eufrázio filipe
Eufrázio Filipe,
reconheço-te. e saúdo-te, com amizade.
mas das minhas metáforas não tens que querer nada - apenas aceitá-las (ou não).
abraço
Forte poema, pelo hábil uso das palavras!
Beijo
De acordo
é um bom critério universal
Abraço amigo
"Secretos são os milagres que os deuses concedem " e raros os dons poéticos que oferecem: foste um dos poucos a quem os deram.
Boa semana :)
Que generosos propósitos estes.
O Capitão-Poeta, que nada pretende mudar ao destino do mundo, administra amoras fescas de verão, em todos os cais. Em qualquer estação.
Abraço.
Um poema tão belo, belo, a nos confessar os olhos
como caminho navegado e navegador dos instantes
da vida, que entram na sua órbita a manisfestar
o próprio percurso. Já que no sentido mental, os
pensamentos conduzem as imagens, o olhar traz os
cenários a conduzir os percursos.
Principalmente quando o olhar revestido de um
sentir poético colhe estas imagens, a guardar
numa consciência da sua importância:
"Pelos poros e consomem os dias em registro lúcido
De um poente altivo e um azul benigno e calmo."
Um dos teus (são tantos...) mais belos poemas, Manuel!
Adorei!
beijo.
São os poetas que, gloriosamente, reinventam o mundo.
:)
"Nem os poetas, a procurarem salvar o mundo
Que o mundo não se salva. Apenas perdura.
E se transforma. E gloriosamente se reinventa..."
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Não creio num mundo muito melhor ou pior em se tratando principalmente de sentimentos, embora ainda tenha campo para isso. O homem sempre foi e sempre será imbuído de exacerbadas paixões, sejam elas políticas, religiosas, amorosas. Para mim, as crises do mundo são, em sua maioria, consequentes erros de visão, de atitudes, postura e pensamentos, e uma enorme ausência que vai esvaziando a alma – e que se chama sentimentos.
Mas vai indo, e com todos os defeitos, se reinventando. Progredindo na tecnologia, nas descobertas, nas invenções. Esse é o homem contemporâneo, os sete bilhões de inquilinos desse planetinha.
Belo poema.
Bjs, amigo Manuel.
...Completando, amigo Manuel, adorei o ritmo de seu poema, gostei das metáforas usadas e a construção das frases de cada verso.
Parabéns, amigo. Show!
Bjs.
Belo poema meu irmão poeta.
Um abraço fraterno
Adorei!
Parabéns!
bj
Reverencio este "capitão de silêncios" e vou sorvendo não só "as amoras do tempo", também este "poente altivo" e o "azul benigno e calmo".
Eu vos saúdo, poeta! Abraços, caro amigo!
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