Cai a tarde, Lydia, e
com ela se recolhem
Os raios de luz fria,
simulacro dos dias claros
E quentes. Canto de cotovia
suspenso
Na brisa que foi afago e
agora queima
No silêncio de nossos
dedos festivos
Abandonados no regaço,
como pétalas
Que perderam o rumo do
caule.
E, no entanto, o sol é o
mesmo. E o azul
Tão nítido que fere, de
luz, os olhos.
O rio passa, Lydia. Sempre.
Com seu caudal
A inundar as margens,
indiferente
À cotovia e ao melro.
Ou ao piar desconchavado
Do mocho. E seus augúrios. Em poema
Mal urdido.
Festejemos a glória de
sermos. E deixemos que o rio siga.
Sem mágoa. E simulemos o beijo,
Lydia! Isso basta,
Neste Agora. E aconcheguemos
os corpos transidos
Que das estepes frias, o
vento gélido
E a flor da memória
Em chamas.
Manuel Veiga
Lydia
é criação literária de Ricardo Reis
~
~
12 comentários:
Sabes como gosto destes poemas a Lydia...herdeira do meu amigo Reis!
belíssimo.
Beijo
Um poema que nos aconchega a uma nostalgia saboreada. E o amor, na arte do poeta, sobrevive em glória.
Deixo-te um louvor, caro amigo.
É um poema precioso.
Beijinho.
E, no entanto, o sol é o mesmo. E o azul
Tão nítido que fere, de luz, os olhos.
E que bela música com esse bailado de nuvens!
Poema lindo e música se encaixam perfeitamente.
Que bom que você está guardando os vídeos no blog.
Beijos, amigo,
Uma boa semana.
Meu amigo, Manuel
Já li, uma, duas, três vezes e nem sei como hei-de comentar...
(dizem que a poesia não se comenta)
O que eu posso dizer-te é que é deslumbrante a tua escrita.
Se me pemites, retenho:
"...No silêncio de nossos dedos festivos
Abandonados no regaço, como pétalas
Que perderam o rumo do caule."[...].
Quem, das raízes deste poema, pudesse olhar o céu, descobriria o teu 'azul' sem os olhos 'ferir'.
Gostei mesmo muito...
Um abração
* se me permitires, gostava de o 'levar' para perto...
Belo este discorrer poético com sabor a Reis e a Sophia. :)
Versos saboreados na frescura das águas do rio que segue... belo, poeta, muito belo!
Beijo,
Genny
Bem no espírito da criação de Lydia.
Contudo, a tua Lydia, é diferente, pois que a ela, e só a ela, pertence o olhar lírico dos teus verdes, dos teus azuis e dos dias claros.
Belíssimo e sedutor remanso. Como água de rios (nossos).
BJ, amigo 😊
Lydia, criação literária de Ricardo Reis (Grande Pessoa...)
e a tua recriação num patamar de arte poética.
Excelente e numa inspiração de rara beleza.
Pura harmonia num todo de arte, com o vídeo-música
escolhido.
Apreciei muito!
Bj.
Como é exímio nestas revisitações a Ricardo Reis!
Bjs
A beleza dos versos de MV vem do tom sereno com que conjuga o verbo. No amar de Lydia há uma réstia de ternura penumbrosa e portadas de janela cerradas.
Abraço.
Ah! essa Lídia na verdade de existir sob a tua pena. "Isso basta!"
Forte abraço, meu caro Manuel.
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